Filosofia dos 5S - Versão 2007
Saúde
Sossego
Sucesso
Segurança
Satisfação
καλειδοσκόπιο
Qualquer um poderia fazer aquelas tarefas.
Não era um conhecimento tão profundo nem tão particular.
Já fazia um tempo que delegara quase tudo (ou tudo) que fazia ali.
Mas bastou ausentar-se...
Que cada especialista, na sua especialidade, avacalhava o serviço de outro;
Que cada especialista defendia seu trabalho, "o problema é em outro lugar";
Que faltou pouco para o circo pegar fogo, mas não faltou fogo para cuspir nos danados.
E se se ausentasse por um pouco mais, teria condição de limpar toda sujeira?
Não custará a chegar essa hora. Num calafrio sentia apreensão.
Um monte de gente diz que eu sou muito inteligente.
Não o suficiente para passar numa porcaria de concurso.
Bela droga... Desculpa aí, mas cansa essa vidinha.
Abandonei o mundo dos vivos desde ontem.
Ressuscitarei na segunda-feira.
Prova do TRF domingo.
A melhor forma de aniquilar qualquer chance de progresso num determinado assunto entre duas pessoas é, após uma entusiasmada participação do seu interlocutor, dizer a palavra "interessante" ou afins como "legal", "jóia", etc. É uma maneira muitíssimo educada de dizer que você pouco se importa com o que a pessoa disse, mas foi suficientemente paciente para ouvi-lo.
O fato não existe mais. O que persiste é a história que dele é contada. Um mesmo fato histórico pode gerar inúmeras versões, conforme a prova testemunhal (influenciada pela memória dinâmica e mutável humana) e as demais provas documentais no limite de seus registros. Enquanto o fato é instantâneo e fugaz, a interpretação prevalece.
Não é tarefa do juiz encontrar a verdade real, que só existe na esfera do ideal. Nem pode se furtar de decidir uma lide por não alcançá-la. O trabalho do magistrado se resume a resolver o problema através do convencimento que, em última instância, é um ato de fé. É encontrar a verdade processual.
Tal como um crente bereano, após estudar diligentemente, crê numa verdade inamovível, cujos efeitos valem contra todos.
Furto
Art. 155 - Subtrair, para si ou para outrem, coisa alheia móvel:
Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa.
Furto qualificado
§ 4º - A pena é de reclusão de dois a oito anos, e multa, se o crime é cometido:
I - com destruição ou rompimento de obstáculo à subtração da coisa;
Erro sobre a pessoa
Art. 20, § 3º - O erro quanto à pessoa contra a qual o crime é praticado não isenta de pena. Não se consideram, neste caso, as condições ou qualidades da vítima, senão as da pessoa contra quem o agente queria praticar o crime.
Homicídio qualificado
121, § 2° Se o homicídio é cometido:
IV - à traição, de emboscada, ou mediante dissimulação ou outro recurso que dificulte ou torne impossível a defesa do ofendido;
Pena - reclusão, de doze a trinta anos.
Circunstâncias agravantes
Art. 61 - São circunstâncias que sempre agravam a pena, quando não constituem ou qualificam o crime
II - ter o agente cometido o crime:
e) contra ascendente, descendente, irmão ou cônjuge;
Abrir a porta do carro, puxar a cadeira da companhia num jantar a dois já eram costumes que já tinha interiorizado em sua idiossincrasia, já lhe era natural. Para ele tudo era muito simples: a ele cabia obrigatoriamente todo esforço e gastos, mas se, porventura, sua companhia quisesse colaborar ou dividir, seria tudo muito bem-vindo. E quem rejeitaria? E seguiu-se a noite assim do momento que a pegou em sua casa até deixá-la na porta.
Passaram a noite conversando sobre milhares de coisas, inclusive assuntos proibidos como política, religião e futebol. Caminharam na calçada à beira-mar, tiraram os sapatos e desceram até a areia, fizeram outras coisas proibidas nos manuais de primeiro encontro, mas - que se dane! - estava tudo indo perfeito.
No outro dia, ligou e caiu na caixa. Deixou um recado. Dois minutos depois o telefone anuncia a chegada de uma mensagem. Era ela dizendo que não poderia atender naquela hora? Nada. Apenas dizia: "curti a noite, mas você é muito machista... dá não... beijos".
Ninguém é perfeito.
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Depois de uma certa idade, notou que todos os seus "bons e velhos" (amigos) tinham partido, ficando apenas os filhos e netos deles, já que seus próprios nunca tivera. Restava-lhe um único amigo que custava vinte e oito canetas de insulina, um tanto de testes e dois salários-mínimos por semana.
Não que tivesse planejado aquele momento, mas se seu amigo o tivesse como advogado, até tentaria desclassificar o tipo do 121, §2°, III¹ para o 122 atenuado pelo 65, III, "c"². Quem agüentaria submeter-se à sua convivência? Nenhum enfermeiro poderia ser tão condescende.
Sorriu. Pela primeira vez desde o dia que o irmão de um cliente se vingara em sua amada. (Quem sabe agora não a encontraria?). Sorriu pela engenhosidade do rapaz que trocara adoçante por garapa e, ao socorrer-se, percebeu que ali naquela caneta também era só açúcar e água.
¹ Homicídio qualificado pelo uso de veneno
² Auxílio a suicídio atenuado pela culpa concorrente da vítima
Quem fala que o mundo inteiro cresce cinco por cento ao ano está confessando sua completa ignorância em economia ou está pensando que isso é um argumento válido para ser levantado em um debate?
Como é que alguém diz que é diferente a cada oportunidade que tem, e veste praticamente o mesmo conjunto de terno, camisa e gravata que seu adversário?
Que pergunta não se pode esperar num debate entre candidatos à presidência? Quem pensou em "qual é a sua maior virtude?" ou "qual é o seu maior defeito?" errou.
De repente, percebe-se que tudo o que se tinha para dizer já foi dito.
Falar é repetir, é cansar, é não conseguir inovar, nem refletir.
Existiam vários povos perambulando pela terra – guerreiros, agricultores, criadores de animais, nômades em sua maioria.
Capturados de tempo em tempo, por séculos, usados como moeda de troca, mercadoria legal ou traficada. Mão-de-obra barata.
Separados perpetuamente por fronteiras invisíveis os povos amigos e irmãos; e unidos forçosamente inimigos de sangue com o mesmo passaporte e carimbo de cidadania.
Antes que pudessem desenvolver uma indústria têxtil e um comércio próprio, despejaram em seu território toneladas de lixo, em forma de roupas de segunda-mão e remédios prestes a vencer, lixo como cortesia e prova de amor ao próximo (e redução no imposto de renda).
21:13
Tive uma tontura agora. Pensar que vou passar só-o-hidrogênio-sabe-quanto-tempo nessa terra, longe do fruto de minha devoção. Devo ter sentido uma crise de abstinência antecipada. Psicológica, saca? Ao menos tem ela. Só ela mesmo pra me trazer pra cá. Cacete. Que lugar pau da bexiga.
21:15
É um miserável! Viaja e não diz nada pra gente! Tentei ligar pra ele, mas o celular tá desligado. Mas esse a gente toma em homenagem a ele, tá pedrado. Esse tá. Ó o fundo?! Seco.
Repartição pública... se não for de fato o quinto dos infernos é, certamente, um dos últimos. Nem souberam da história toda e já me apelidaram de Instrutor Sexual. Arlindo me paga... o dele já está garantido. Mas me diga o que você não faria por sua filha? Ela queria – de todo jeito – cruzar sua dachshund, e o macho que arrumou era incompetente demais para fazer o serviço sozinho.
Com o planeta prestes a explodir, o último filho de Krypton é lançado pelo espaço indo até a Terra, caindo na cidade perdida de Atlântida, onde acaba sendo criado como o Senhor dos Mares. Certa noite, quando saía com seus pais de um espetáculo, foi abordado por um ladrão que, durante o assalto, acabou matando os dois, mas antes de revoltar-se da vida e transformar-se no Cavaleiro das Trevas, uma nave cai, matando o meliante. Dentro dela, sai um extraterrestre moribundo oferecendo uma lanterna verde para lutar em favor da justiça. A partir daí, lutava contra o crime durante o dia e, à noite, ganhava a vida na criminalidade, numa das esquinas do Pentágono, sob a alcunha de Diana, a Maravilha.
Quanto ao tempo, todo moleque é como Deus, não lhe dá a mínima atenção. O perigo causa frio na barriga. E se não houvesse perigo, que graça teria? Saltaram pelo rio até chegarem ao tédio, quando preferiram entrar no meio do mato. A fome os levou a um cajueiro rançoso, depois a um pé de laranja cravo e a outro de oliveira. Deixando o cavalo pastar, atravessou um velho milharal, seco e sem espigas. Do outro lado, tinha uma clareira e uma casa em ruínas. Era de alvenaria. Portas e janelas tinham sido roubadas, assim como telhas, caibos e ripas. A casa era só parede. Contudo os donos estavam lá – cães dos infernos! Sentiu a picada dum marimbondo e partiu em disparada. Mesmo voando na velocidade da luz, ouvia os condenados até que caiu num pequeno açude. Debaixo d'água havia um zumbido aquático. Emergiu, enfiou a mão na orelha latejante, que já estava cinco vezes maior que a outra, e arrancou o pestilento. Ainda escutava o zumbido de longe. O cão dos infernos deixara sua alma lá dentro para perturbá-lo. Para não virar piada, esperou o orelha diminuir e a pulsação passar com um cochilo à sombra duma árvore e o Fantasma amarrado nela. Já ensaiava a cara-de-pau de que nada tinha acontecido e, pela altura do sol, iria fujir e desviar-se de chinelos voadores. Era a vida... O sono chegou leve, mas chegou e ficou por ali um pedaço.
Dor.
O cavalo e o moleque eram um só. Não podiam ver alguém com chicote que davam coices para todos os lados. Já com cabresto Fantasma era mais conivente do que o outro, que, por sua vez, aceitava mais essa coisa de roupa. Não gostavam muito de andar. Da estrebaria ao Bambusal cansariam se fossem trotando, mas do Bambusal até o rio, nem o Capeta conseguiria alcançá-los! Irmãos, filhos de truta, poderiam passar a manhã pulando nas pedras, subindo a correnteza e assustando os peixes menores. Apesar das barbatanas, faltavam-lhes guelras, e quem precisaria delas se costumavam voar rente ao chão? Talvez hoje, já que estavam nas águas dum ribeiro cuja cabeceira tinha sangrado. Faltaram ao almoço e houve quem dissesse que voaram para além das nuvens. Rompendo o silêncio, somente os cururus e as cigarras anuncivam o fim do dia.
Ainda não era noite.
Como todo bom moleque, também era malcriado. Sempre que avisavam que passariam o fim de semana na fazenda, ele reclamava que lá não pegava TV e perderia o desenho. Quando chegava lá, quem procuraria televisão? Saia correndo atrás do Fantasma, um cavalo que, como ele, fora criado nas artes da assombração: desaparecia quando queria e aparecia noutro extremo, andava sem fazer barulho, principalmente se fosse para roubar comida, diziam que voava, sempre rente ao chão. O moleque era do mesmo jeito. Se fosse pão de queijo ou pão de ló, nem as paredes úmidas da cozinha o veriam, mas, certamente, o lanche desapareceria, para o desespero de Zefinha.
Traquinagem.
De longe escutou o avô abrindo o cadeado do quarto no fundo do quintal. Desceu do alto da goiabeira mais rápido do que qualquer humano que caísse em queda livre. Um minuto depois já estava no cós do avô com duas goiabas – da branca que eram mais molinhas, mas sempre tinham bicho – só uma para dar, claro. Ali dentro, pés, mãos e dedos do moleque ficavam paralisados e a voz emudecia. Só os olhos corriam. De um lado a outro, seus 437 olhos admiravam cada vagão e de cada trem e, naquela cidade miniatura, viajavam nas histórias do velho. Com as mãos e o queixo apoiados na quina da mesa, os olhos corriam no campo, nas ruas, na montanha, descendo o rio e atravessando a ponte sobre o lago ao som das máquinas, do apito do trem e das palavras entusiasmadas do avô, até o clímax, quando as luzes do quarto eram apagadas. A cidade resplandecia e os faróis corriam sobre os trilhos negros.
Não era sonho.
O moleque era cheio de pés, mãos, dedos e olhos - por todos os lados. Nada fugia ao seu alcance tinha que ser manuseado, desmontado e, com sorte, remontado. Do jambeiro ao armário da cozinha, da casa do cachorro ao galinheiro, o macaquinho podia estar em qualquer lugar. O avô, mesmo que pudesse, não gritava mandando-o descer, sentar, parar, limpar-se, soltar o rabo do bicho. Acompanhava com os olhos d'água aquele pinga-fogo que tinha herdado dele a vontade de desbravar.
Saudade.
É impressionante como chama a atenção um terno bem cortado, um sapato bem cuidado e um cabelo bem arrumado.
(Bem que elas já diziam que toda elegância vem com algum sofrimento)
...resumindo meu feriado, fiz viagem astral. Projetei minha mente em busca de outras formas de vida inteligente. Primeiro, fui pelo que eles chamam de Andrômeda e, depois, Via Láctea. Não encontrei nada muito relevante. Mas sem querer ser tão duro, encontrei um planeta que eles chamam ironicamente de Terra. Não chego a dizer que lá tem vida inteligente. Eu diria que, no máximo, vez por outra, eles têm umas boas sacadas...
– Eu ainda me lembro quando Edgar me pediu a mão, estávamos curtindo as férias nos Lençóis (maranhenses)... e como foi com Léo? – Não, não, nada disso. Você sabe como ele é. Chegou com aquele jeito dele e falou: "Didinha, eu estava pensando... quando assumirmos nossos cargos, você sabe, não vai dar pra se ver todo dia, vai ter que ser naquele esquema de quinze em quinze dias, ou então a gente casa e fica até mais barato pra gente rachar as despesas com uma casa só. Topa?" – "Topa"? De onde você tirou esse homem, mulher? – Piancó! Não fale nada não que eu sou de Cajazeiras. Ah! Mas é que era timidez dele, você sabe como ele é. Tímido... | – Vocês tiveram sorte de ter passado no Fisco e no Procuradoria na mesma época. Tava esperando só isso pra casar, heim? – Nada! A gente já tava namorando há dois anos, eu tinha que escolher se ia continuar ou cada um pro seu lado. Além do mais, eu tava com medo de ser mandado lá pras brenha enquanto ela ia continuar aqui na capital. |
– Ele sempre me respeitou muito, até mais do que eu queria. – E quando foi a primeira vez? – Ah não! Só depois que nos casamos. – Nossa! – É. | – Homem! Quando Lídia foi para cozinha ajudar a mãe com o almoço, o velho sentou ao meu lado no sofá e disse: "se tu tocar nela, eu te capo". – Caracas! E o que você disse? – Eu? Primeiro que eu tremi feito vara verde, segundo que tudo que eu podia dizer era "sim, senhor"! |
Já plantei uma árvore, já escrevi um livro, já tive um filho.
Já menti, já roubei, já matei.
Já fiz de tudo só e principalmente bem acompanhado.
E o que aprendi?
Que Martí estava errado.
Que a moral e a lei estavam erradas.
Que minha vontade e consciência estavam erradas.
Por mais que eu tenha ou faça, nunca me darei por satisfeito.
Observe:
– o quanto enriqueceu;
– o que se sabe dele; e
– como usou o dinheiro público.
Só não venha me dizer que vai votar no fulano mais bonito.
Desde a faculdade de Educação Física, conhecia Érica como o tipo de mulher que conquistava qualquer pessoa. Dona de um sorriso único e contagiante, de uma doçura, de um espírito solidário, de um bumbum perfeito e de umas gordurinhas a mais, mas isso não diminuía seu encanto.
Foram quatro anos de risos, implicações, insinuações, cumplicidade. Só teimávamos numa coisa: eu defendia que o treino de musculação era mais universal que as aulas do Body Systems. Confesso que insistia nisso mais para pegar no pé daquela que curtia as aulas de BodyCombat e defendia o sistema com unhas e dentes do que por qualquer outro motivo. Da faculdade, fomos trabalhar na mesma academia, mas inquieto como sou, acabei indo ao Rio, fazer especialização e depois emendei com o mestrado. E, muito mais por minha culpa, acabamos perdendo o contato.
Overdose de teoria não é minha praia. Se eu continuasse com o doutorado direto, enlouqueceria. Acabei voltando. Depois de meus pais, a primeira pessoa que queria ver era aquela gordinha – ok, chamar de gordinha é maldade, ela só tinha um buchinho simpático, no resto era perfeita.
Ontem dei um pulo na academia, fiquei conversando com o pessoal e fazendo cera até que me avisaram que ela tinha chegado. Ninguém muda tanto em três anos, muda? Muda. Acho que ela devia ter perdido uns sete quilos. Estava com uma barriga escultural e um piercing enfeitando o umbigo. Perdeu quilos, perdeu peito, perdeu barriga, perdeu bochecha, perdeu até aquele sorriso lindo que escondia seus olhos castanhos. Ainda tinha um bumbum perfeito, mas tinha virado uma saradinha qualquer. Uma grande perda.
Na corrida dos candidatos paraibanos ao Senado temos, em primeiro, um que foi preso pela polícia federal por desviar dinheiro público (Cícero Lucena); em segundo, um que está envolvido com a máfia dos sanguessugas (Ney Suassuna); e em terceiro um cantor cuja luta política dentro da Paraíba desconheço (Vital Farias).
Expurgando os mitos, o Código Eleitoral Comentado do TSE diz:
Art. 224. Se a nulidade atingir a mais de metade dos votos do País nas
eleições presidenciais, do Estado nas eleições federais e estaduais, ou do
Município nas eleições municipais, julgar-se-ão prejudicadas as demais
votações, e o Tribunal marcará dia para nova eleição dentro do prazo de 20
(vinte) a 40 (quarenta) dias.
* CF/88, art. 77, §§ 2º e 3º: votos nulos (e em branco) não computados para o cálculo da maioria absoluta.
* CF/88, art. 28: aplicação do disposto no art. 77 da CF à eleição de Governador e Vice-Governador.
* CF/88, art. 29, II: aplicação também para a eleição de Prefeito e Vice-Prefeito, no caso de Municípios com mais de 200.000 eleitores, do disposto no art. 77 da Constituição Federal.
* Acórdão-TSE no 13.185/92, de 10.12.92: não há incompatibilidade entre este artigo e o art. 77, § 3º, da Constituição Federal. No mesmo sentido o acórdão do STF no ROMS no 23.234-8/AM, DJ de 20.11.98.
Pode se sentir frio por causa da noite ou do vento, ou ainda de um susto por ver a esposa dura feito múmia na porta espiando; mas nada se compara ao desconforto do gelo que se sente por dentro diante de um gabarito de concurso.
Ainda era madrugada, ele contara 44 pontos do gabarito definitivo (72 pontos positivos e 28 negativos). Nenhum de seus recursos foram admitidos, inclusive uma questão prática de informática! Vê 8 questões anuladas, dentre elas, 2 que ele tinha errado conforme o gabarito preliminar e contava agora como pontos positivos. Estranha por ter acesso apenas à folha de respostas objetiva. Conclui que não passou e se sente o mais incapaz dos seres.
Na manhã seguinte, procura o Diário Oficial da União com a lista dos aprovados e vê que o último entrou com 43 pontos e o primeiro tinha feito 66. Vê num fórum que, de fato, não há acesso à prova subjetiva e os recursos são feitos sem essa peça. Estranha ainda mais a situação. Conclui que uma questão anulada dá zero a todos levando seus pontos para 32. Insatisfeito, liga para a instituição e verifica que estava errado: todos ganham o ponto. Já sem estímulo nenhum e desgastado, sugere que a esposa reconte os pontos, pois ele tinha que trabalhar.
Pouco depois, um sms dela. Ele tinha feito 42 pontos. Ficou de recontar quando chegasse em casa. Podia ter sido primeiro lugar? Definitivamente não é essa a idéia que domina seu pensamento. Só consegue pensar: "até quando durará esse tormento?". Tem convicção de que deve estar errando tão cegamente que não percebe. É um idiota mesmo.
A distância entre duas pessoas deitadas é inversamente proporcional à vontade de uma de ser tocada pela outra durante a noite. Porém, em horas de silêncio, sono e um frio de 10ºC, com uma teimosa corrente de ar cruzando aquele leito, ânimos podem mudar. Essa era a única explicação para que a mão direita dela saísse do quase confortável calor de suas pernas e percorresse lençóis gelados em busca do peito e do abraço do seu marido. Entre a sonolência e o frio, seu braço foi deslizando na cama, esticando-o por completo, forçando-a a acordar um pouco e girar o seu corpo mais à esquerda até que dispara o pensamento que a acorda definitivamente: ele não está ali. Mergulhou numa imensidão de pensamentos, revendo a briga, as palavras ditas, as não ditas, as insinuações que lhe irritaram tanto, mas sobretudo a indagação sobre se o que ocorreu naquela noite era motivo para não estar deitado. Levantou-se. Tinha que procurá-lo.
Saiu percorrendo a casa no escuro: quarto, corredor, cozinha, sala. Quando viu que o monitor iluminava o escritório. Como uma gata, foi se aproximando e chegando à porta, onde ficou imóvel, esperando (só Deus sabe o porquê) ser percebida. Um, dois, três eternos minutos e o cego continuava vidrado naquela tela, lendo qualquer coisa menos importante. Pensou em fazer algum movimento ou barulho. Não! Ele tinha que notar. Cansada, mudou de posição e recostou-se novamente na ombreira da porta, quando ele finalmente com um susto a viu.
Que susto enorme! O que fazia acordado a essa hora? Insone? Às quatro da madrugada? Lendo "umas coisas", um pdf? Ele tinha o irritante costume de responder de uma forma que parece que nada aconteceu... só na sua cabeça! Balbuciou duas palavras e voltou ao quarto ouvindo-o prometer voltar à cama logo.
Deitou-se no seu lugar já frio. Buscando o sono, sem querer esperar muito por ninguém. Ele não vem nem tão cedo. E quando vier? Procuraria seu calor? É um idiota mesmo...
Sapore D'Itália, 19:30 (horário local), hoje, Cabo Branco, João Pessoa, Paraíba, Brasil, Terra, Sistema Solar, Via Láctea, Universo.
Alguém sabe para que serve o salário de deputado federal?
Eu sei para que NÃO serve:
– Aluguel de imóveis para escritório; despesas concernentes a eles.
– Aquisição de material de expediente.
– Aquisição ou locação de software; serviços postais; ass. publicações; TV a cabo ou similar; acesso à Internet; e locação de móveis e equipamentos.
– Combustíveis e lubrificantes.
– Consultorias, assessorias, pesquisas e trabalhos técnicos.
– Divulgação da atividade parlamentar.
– Locomoção, hospedagem e alimentação.
– Serviço de segurança prestado por empresa especializada.
Isso é coberto com a verba indenizatória que começara com módicos 7 mil, foi aumentando até chegar em 12 e com o último ajuste de 25% passou para a bagatela de R$ 15.000,00. Corre à conta do orçamento da Câmara e caso o deputado não use sua cota, esta fica acumulada para o mês seguinte. Além disso contam com verba de gabinete de R$ 50.818,82 mensais, auxílio moradia (ainda que tenha domicílio em Brasília) R$ 3.000,00 mensais, verba para correio e telefonia de R$ 4.268,55 mensais e passagens aéreas de R$ 6.000,00 a R$ 16.500,00 mensais, conforme o Estado de origem do parlamentar (há uma Proposição tramitando para congelar esses limites até 31/01/07). Comparando com a finalidade do salário mínimo constitucional, fixado em lei, nacionalmente unificado, que deveria ser capaz de atender as necessidades vitais básicas e do trabalhador e de sua família com moradia, alimentação, educação, saúde, lazer, vestuário, higiene, transporte e previdência social, um deputado federal só deve se preocupar com "educação, saúde, lazer, vestuário, higiene e previdência social" e para tanto ele conta com um salário de R$ 12.847,20.
Eu até iria comentar de um deputado que eu nunca tinha ouvido falar, daqui da Paraíba – Adauto Pereira –, que, dentre os de cá, desde 2004, foi o único que nunca usou a verba indenizatória, mas prefiro não fazer nenhum comentário, principalmente sobre quem já não está mais entre nós (votou pela última vez em 18/12/2003, participando de 4 sessões naquele dia).
A área de verbas indenizatórias do site da Câmara foi bastante informativa, o mesmo não encontrei nas páginas do Senado. Até iria comemorar a iniciativa da Câmara, daí li em outro lugar "STF obriga Câmara a liberar documentos", Folha de S.Paulo, 29/11/03 – desisti.
Até iria comentar sobre o que eu acho de todas as verbas, mas como o post está grande demais para a minha média, deixo para depois.
Segue abaixo os dois últimos Atos da Mesa sobre as verbas:
Ato da Mesa nº 56, de 16 DE MARÇO DE 2005
Dispõe sobre a verba de gabinete e dá outras providências.
A MESA DA CÂMARA DOS DEPUTADOS, no uso de suas atribuições, Resolve:
Art. 1º Fica acrescido em 25% (vinte e cinco por cento) o valor da verba destinada aos Gabinetes Parlamentares.
Art. 2º Fica mantida a tabela de níveis e vencimentos do Secretariado Parlamentar fixada na legislação vigente.
Art. 3º As despesas decorrentes deste Ato correrão à conta do orçamento da Câmara dos Deputados.
Art. 4º Este Ato entra em vigor na data de sua publicação.
Sala de Reuniões, em 16 de março de 2005.- Severino Cavalcanti, Presidente.
Ato da Mesa nº 54, de 30 DE DEZEMBRO DE 2004
Altera o valor mensal da Verba Indenizatória do Exercício Parlamentar criada pelo Ato da Mesa nº 62, de 2001.
A Mesa da Câmara dos Deputados, no uso de suas atribuições, Resolve:
Art. 1º. A Verba Indenizatória do Exercício Parlamentar, criada pelo Ato da Mesa nº 62, de 2001, passa a vigorar com o valor mensal de R$ 15.000,00 (quinze mil reais), a partir de 1º de janeiro de 2005.
Art. 2º. As despesas decorrentes deste Ato correrão à conta do orçamento da Câmara dos Deputados.
Art. 3º. Este Ato entra em vigor na data de sua publicação.
Câmara dos Deputados, Sala das Reuniões, 30 de dezembro de 2004.- João Paulo Cunha, Presidente.
...é um dos meus preferidos. Mas definitivamente não é por causa dele que sinto que minha diáspora pessoal está perto de terminar.
Há Coisas de Brasília que estranhei sim: provavelmente por causa da baixa umidade relativa do ar, havia um calor estúpido ao sol claro e um vento frio na menor sombra – ventos de Brasília (o som e Éter no Cristal) – como ele diria; a falta de calçadas ou passarelas eficientes; e altíssima especulação imobiliária.
Da janela do meu quarto olho para uma superquadra, a depender do lugar, as Janelas de Brasília podem ser um prato feito para qualquer curioso – não é à toa que as minhas viviam com as cortinas fechadas e as luzes acesas –, principalmente se você quer dar uma de "Léo e Bia".
Acho que a maior Paranóia de Brasília se encontra no fato de querer ter norma para tudo: gabaritos nos prédios e nas quadras, áreas para fins específicos e, assim como no restante do país, o excesso de normas só não é maior que o excesso de infrações para cada regra criada.
Mas convenhamos... tem lá sua Magia e, agora, Pra Longe do Paranoá, fico eu aqui, louco para, de novo, voltar para ela (e para ela).
Let's wait for the next Release.
Vinte e cinco anos de casado. Pai de dois. Sozinho num sábado de sol. Filhos? Cada um no seu lugar. Mulher? Com a sogra num encontro da família. Dois dias para fazer o que quiser. Sair com os amigos, andar, correr quem sabe. Enfim, o dia está ótimo lá fora. Dá para fazer o que quiser. A maré está baixa, dá até para andar na areia. Ficar num barzinho, com o pessoal das antigas, a beira-mar comendo um caranguejo. Um cineminha no final do dia... tem coisa boa em cartaz. É o tipo de dia que dá para tudo. Tudo. Basta querer. Qualquer coisa.
Dois dias. Dormindo. Só. Nessa cama enorme. Dando graças a Deus por amanhã já ser segunda.
"O homem mais pobre desafia em sua casa todas as forças da Coroa, sua cabana pode ser muito frágil, seu teto pode tremer, o vento pode soprar entre as portas mal ajustadas, a tormenta pode nela penetrar, mas o Rei da Inglaterra não pode nela entrar."
Ela gostava do tipo safado,
de barba malfeita,
de poucos modos,
de várias mulheres,
de muitos amigos,
de corpo bonito.
E se queixava dos que tinha,
por ser relaxado,
por ser grosseiro,
por ser mulherengo,
por não fazer nada a dois,
por deixá-la sempre para depois.
Vai entender o que se passa, na cabeça de certas mulheres.
Será que crêem nesses malditos contos de fada?
Ou pensam que podem transmutar água em vinho?
A humana necessidade de mudar... os outros.
1) Dito: "Se eu fizer treinamento, outra empresa vai contratar meu funcionário."
Não Dito: "Não me importo em trabalhar com um funcionário incompetente que ninguém contrataria."
2) Dito: "Para quê fazer anúncios quando a melhor propaganda é de boca-em-boca?"
Não Dito: "Não quero gastar dinheiro anunciando para uma massa, prefiro que meus amigos e familiares trabalhem de graça."
3) Dito: "Auditoria é coisa para empresa grande que pode desperdiçar dinheiro."
Não Dito: "Não quero pagar ninguém para dizer onde estou errado."
4) Dito: "Consumidor quer apenas ter o produto ou serviço que ele pediu de graça."
Não Dito: "Eu não faço a mínima idéia de como agregar valor ao meu produto ou serviço."
5) Dito: "Não dá para não sonegar."
Não Dito: "Num universo onde todos sonegam, o peso da carga tributária atinge a margem de lucro tornando o empreendimento inviável."
6) Dito: "Serviço público é que é bom, ganha sem trabalhar."
Não Dito: "A Administração é incapaz de enxugar seus quadros e tornar seus funcionários eficientes."
7) Dito: "Deixe comigo que eu tiro xerox de graça na prefeitura."
Não Dito: "Não tenho consciência do que é o patrimônio público, nem tenho vergonha de assumir que o uso para fins pessoais."
8) Dito: "Será que você não tem como arrumar alguma coisa para minha filha aí (órgão público), não?"
Não Dito: "Cargo em comissão sempre foi a mamata para empregar amigos e familiares, não é verdade?"
9) Dito: "Bolsa? Isso quem dá é o Governo, aqui a gente te dá conhecimento."
Não Dito: "Não existe nada melhor do que a mão-de-obra barata de um estudante."
10) Dito: "Você não trabalha? Só estuda?"
Não Dito: "Qual a importância da produção intelectual para um país como o Brasil?"
Ou à moda dos livros de auto-ajuda: "10 passos para afundar o barco".
Valeu Parreira...
Todas as homenagens sejam realmente dadas para Lúcio, Juan e Dida.
- Adriano foi substituido;
- Emerson saiu do jogo;
- Juninho Pernambucano entrou no jogo, embora eu não tenha percebido muito a diferença;
Mas as duas melhores foram:
- BandNews exibiu o jogo; e
- Não ouvi os jargões galvãonianos.
De uns tempos para cá, todos os dias em que acessei o Orkut, vi a "Sorte do dia". Em alguns tive que fazer algumas interpretações mais elaboradas, afinal de contas, nem tudo pode ser entendido ao pé da letra. Eis os resultados:
07/06/06
Sorte de hoje:
A sorte vem ao seu encontro
– A depender do conceito de que ou quem seja "sorte", se for minha consorte, ok, mas eu já sabia.
08/06/06
Sorte de hoje:
Você é o próximo a ser promovido na sua empresa
– Se empresa significar "aquilo que se empreende", vou passar de concurseiro a concursado, yes!
10/06/06
Sorte de hoje:
Estão falando bem de você
– Em alguma parte do universo, né?
12/06/06
Sorte de hoje:
Se seus desejos não forem extravagantes, eles serão realizados
– Tudo bem, tudo bem... eu não queria ser o homem mais rico do mundo mesmo...
23/06/06
Sorte de hoje:
Você terá uma velhice confortável com riqueza material
– Se isso não for verdade, vou pedir que meus netos processem o Orkut.
Numerável...
- 1 ferry-boat
- 2 tanques de gasolina
- 4 dias
- 15 municípios
- 18 comprimidos de vitamina c
- 98 fotos
- 1265 quilômetros
Enumerável...
- sucos regionais
- comidas típicas
- quilos extras
- programas cumpridos
Inumerável...
- abraços
- afagos
- arrepios
- assoadas
- beijos
- caminhadas
- carícias
- conversas
- espirros
- lágrimas
- olhares
- risadas
O quarto livro do Pentateuco narra a história de gente que passou quarenta anos pelo deserto.
Uma história completamente diferente de quem passou quatro dias no litoral e agreste paraibano.
Em virtude do monopólio da informação instaurado nesta Copa, do cerceamento da liberdade de escolha, das restrições impostas pela emissora e do bom senso desse espectador,
Quando o especial vira normal, ninguém mais comenta. Hoje, assim como no dia do seu aniversário, D. Rosally receberia um buquê, uma caixa de chocolates finos e um cartão anônimo apaixonado. Uma tradição que começara no ano que ela se separou do marido e, até aquele dia, nunca tinha falhado. Mas o povo da repartição estava comentando: já era quase meio-dia e nada. Provavelmente o infeliz descobriu quem ela era realmente e desistiu – nem os amantes desconhecidos suportam a alma amarga de uma mulher! Vá lá que a natureza não tinha sido tão generosa com ela, nem ela mesma tinha sido tão cuidadosa para realçar alguma virtude que suavizasse a atmosfera que a cercava, a verdade era essa: ninguém quer pagar todos os pecados enquanto está vivo! Ele também se foi, era o que o povão comentava.
Toca o telefone tinha que ser para Rosally, e era. Ah! que decepção... que decadência... De flores, bombons e poesias à tele-mensagens? Que brega! Assim que a chamaram, saiu do Arquivo com passo curto e apressado para atender a ligação da "Floricultura Santo Antônio". Quem não estava acostumado com o sorriso naquele rosto, achou que o recado tinha tocado mais mulher do que todo perfume, sabor e declarações dos presentes anteriores – com um sorriso tímido atendeu e com um radiante desligou – foi o que se achou, até ouvir de outro espírito-de-porco da repartição, D. Leda, que, na extensão, ouviu a ligação do funcionário da floricultura informando que o número do seu cartão estava bloqueado.
A mulher é um universo à parte, sua mente é outra dimensão, paralela.
E o homem? É só um cego com um cajado (ou com uma bengala), tateando, sem saber por onde, nessa imensidão.
"O sonho é uma das formas que o ser humano usa para lidar com seus conflitos, coisa que os poetas e os artistas o fazem de forma espontânea e consciente."
Certamente ela ver o que quer. Continuando a resposta que começou aqui...
O problema não está no Software Livre, e sim, no software proprietário. Veja bem:
Se entendermos que o software é um texto que será lido e executado pela máquina, mas basicamente um texto, como tal, poderia ser lido por qualquer pessoa que o adquirisse; depois de adquirido, poderia ser doado, jogado fora, copiado e consultado, no todo ou em parte para outros trabalhos no mesmo tema sendo respeitados os direitos autorais fazendo citação da fonte; e, principalmente, seria usada a informação para qualquer fim que o usuário pretendesse. Compare isso com as liberdades do SL e compare com a política do software proprietário.
Se entendermos que o software é uma ferramenta, um instrumento contendo um conjunto de instruções que será executado pela máquina, mas basicamente uma ferramenta, como tal, poderia ser utilizada por qualquer pessoa habilitada a manuseá-la, desde que a adquirisse; depois de adquirida, poderia ser doada, jogada fora; desmontada e desconstruída a fim que de o possuidor entendesse seu funcionamento e pudesse fazer adaptações ou mesmo construísse um outro que suprisse suas necessidades; podendo ser aproveitado no todo ou em parte para outros trabalhos; e, principalmente, seria usada a ferramenta para qualquer fim que o usuário pretendesse. Perceba as semelhanças e diferenças entre as liberdades do SL e as restrições do software proprietário.
Se entendermos que o software é um produto ou serviço de programadores, vendo a produção do software para uma determinada pessoa que o contratou e o suporte técnico como serviço e o resultado acabado como produto, é mais do que justo que sejam remunerados pelo trabalho executado, como em todo lugar do mundo, paga-se pelo que se trabalha, o que não impede-se que haja trabalho gratuito ou serviço não remunerado ou mesmo a doação do produto novo e acabado por livre e espontânea vontade. Mas por cada vez trabalhada é mais do que justo que o trabalhador exija o que é seu por direito, a remuneração. Isso é compatível com o software livre, mas não com o proprietário, que exige licenças de uso como se fosse um direito pessoal indisponível, inalienável e intransmissível.
A lógica por trás do software proprietário é encontrada só nele. Nenhuma obra de arte recebe tanta proteção, tanta restrição ao uso e, diferente da arte, desvaloriza-se tão rápido quanto o software. Nenhuma moeda recebe tanta proteção, tanto cuidado com a preservação e, diferente da moeda, não pode ser usado como moeda de troca. Se houvesse lógica de verdade na informática, o debate sobre o software livre ou proprietário nem sequer existiria.
Nada é mais capitalista do que isso: se um trabalhador não te satisfaz, muda e deixa outro continuando o trabalho do primeiro – isso é possível apenas no software livre. Nada é mais socialista do que isso: se alguém tem um bem que é útil a outrem com quem liberalmente compartilha e auxilia.
Liberdade de usar, gozar e fruir independente do regime e da política adotada, essa é a principal virtude do software livre.
Quando era criança, 1,25 hora era tempo suficiente para jogar muito vídeo-game, brincar de bola de gude e ficar com tédio sem ter mais nada a fazer.
Depois cresceu um pouco, 75 minutos era o tempo da aula para lá de longa e sonolenta de inglês, mas já não bastava para qualquer tipo de diversão.
E quando entrou da fase adulta, 4.500 segundos eram torturantes no engarrafamento de volta para casa, mas era praticamente nada, para fazer qualquer outra coisa.
E, naquele dia, só teria 4.500.000 milésimos de segundo, o tempo de uma conexão.
Ao lado de toda janela sempre existe uma parede (e não o contrário).
À direita e à esquerda.
Sempre.
Ok, mas não é bem assim não...
Democracia demais também é veneno.
Eu gostaria de ter um presidente mais enérgico.
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...'xa pra lá. |
Tudo que Ramón Sampedro queria naqueles 28 anos de vida preso numa cama era morrer, não havia como viver dignamente, sob a sua perspectiva do que era a vida. Tinha coragem e vontade de ter uma "morte digna", mas o corpo de um tetraplégico só pode ser movido pela vontade alheia. Mar Adentro questiona essa diferença de pesos e medidas na disponibilidade da vida como bem privado que faz com que alguém que não possa se suicidar por sua própria mão seja condenada a viver, enquanto outro que consiga controlar seus membros pode tentar se matar tantas vezes quanto queira até obter êxito sem ser punido nenhuma vez. Assim, o filme defende que a criminalização do auxílio ao suicídio é arraigado em interesses religiosos, coisa que contraria a defesa de um Estado de Direito Laico, e quem quiser "equilibrar" essa balança, aqui no Brasil, incorre na pena prevista no artigo 122 do Código Penal.
Induzimento, instigação ou auxílio a suicídio
Art. 122 - Induzir ou instigar alguém a suicidar-se ou prestar-lhe auxílio para que o faça:
Pena - reclusão, de dois a seis anos, se o suicídio se consuma; ou reclusão, de um a três anos, se da tentativa de suicídio resulta lesão corporal de natureza grave.
Parágrafo único - A pena é duplicada:
Aumento de pena
I - se o crime é praticado por motivo egoístico;
II - se a vítima é menor ou tem diminuída, por qualquer causa, a capacidade de resistência.
Constrangimento ilegal
Art. 146 - Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, ou depois de lhe haver reduzido, por qualquer outro meio, a capacidade de resistência, a não fazer o que a lei permite, ou a fazer o que ela não manda:
§ 3º - Não se compreendem na disposição deste artigo:
II - a coação exercida para impedir suicídio.
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:
III - ninguém será submetido a tortura nem a tratamento desumano ou degradante;
Não era hacker, quase não sabia nada de programação, gostou de pagar Pascal, mas foi reprovado em C, por falta de dedicação. Saiu de Exatas e terminou em Humanas. Gostava da liberdade. Liberdade de mudar, de adequar, de pagar ou não pagar, de optar. Não se podia fazer tantas opções na vida, mas nas que podia, queria. Pagar mais de R$ 2.098,00 para ficar preso era uma opção descartável. Já que, com meses ou no máximo poucos anos, o objeto de sua compra logo se tornaria obsoleto.
Assim como a grande maioria de usuários de desktop, precisava de um sistema operacional sempre funcional, não possuía máquinas de teste e, portanto, não se podia se dar ao luxo de ficar tentando por dias a fio configurar uma placa de vídeo, um modem, ou um teclado. Não foi por uma questão religiosa que não escolheu o sistema operacional do cão, foi mais por sorte na instalação que começou usando o Red Hat 4 - no dia, tentou instalar o Debian antes e ainda tinha nas mãos o Caldera e o Slackware - o primeiro que conseguiu levar a instalação até o final sozinho. Não ficou completamente funcional, o modem não funcionava. No Conectiva Marumbi, a placa de vídeo era o primeiro problema, mas depois, acabaram-se os problemas e, só da Conectiva, usou o CL 5, 7 e 8+, pulou para Mandrake 7.2 e 8, testou o TechLinux 1, foi salvo uma vez pelo Kurumin 1.4 e acabou voltando para o RH 7, 7.2, 8, 9, e seu sucessor livre Fedora Core 1, 2, 3, 4 e 5 e fora de casa, com o Ubuntu 5.04 e 5.10.
Talvez nem ele saiba exatamente o que o movia a insistir nesse sistema quando não conhecia ninguém que usasse Linux como desktop ou como servidor. Assim, faltou uma orientação básica para instalar programas. Sempre que queria instalar algo que não vinha na distro era um "Deus-nos-acuda", o programa precisava dos RPMs mais atualizados, e esses RPMs atualizados precisavam de outros e assim por diante... pior ainda se tinha uma conexão de 33.600, ligando interurbano para a capital com a excelente taxa de transferência de 1,8 kbps. As dependências eram desestimuladoras. Faltou também alguém dizer-lhe que para compilar algo, era preciso ter os pacotes -devel ou -source instalados, conforme for o caso. Hoje, as coisas mudaram: pode-se contar com apt, yum, urpmi, etc, para resolver as dependências de pacotes.
Antes de se aventurar nesse outro mundo, ainda usou Windows 3.11, 95, 95 OSR2, 98, 98SE e XP.
Antes levava surra dos Linux, hoje do XP.
Malditas configurações.
Seu Antônio era a honestidade encarnada. Nunca se viu pôr piaba para inteirar quilo de peixe, nem dar troco de menos. Cobrava o justo e pagava o devido. Um cliente da capital dizia que ele tinha um "animus pagandi". Não devia a ninguém, nem se via conta que deixasse em aberto. Se estava em seu nome, podia se ter certeza que quitaria.
Foi assim a vida toda, até que recebeu uma carta. Carta estranha por sinal. Dizia "Parabéns, Antônio Medeiros" e outras tantas palavras que cansava só em ver, principalmente para quem não era entendido das letras! Quem mandaria "parabéns" junto com uma conta? Mas era conta. Era o que importava. Foi na lotérica e pagou. Depois veio outra noutro mês, e outra, e outra, e mais outra. Para quem nunca pagava mais do que a conta da luz num mês, tanta conta era de se estranhar. Conta de luz também era coisa estranha, a maioria guardava o pescado no isopor com gelo. Conta, só as do Mercadinho do Galego.
Quando faltou peixe, sobrou conta. Era tanto papel com o nome de Seu Antônio, tanta conta com seu nome, que quase teve um troço, e foi justo nesse dia que chegou um moço todo empacotado, um doutor, que dizia que ele estava sendo citado.
– Sinto muito, querida.
– Agora que vens interpelar? Teu direito prescreveu.
– Prescrição não é reconhecida de ofício, você pode considerar meu pedido.
– Verdade, é causa de nulidade relativa da ação e não vou alegar isso.
– Sabia que não iríamos terminar assim...
– Querido, o teu direito decaiu. A nulidade é absoluta!
– Mas são dois prazos diferentes! O que houve?
– Passaram-se os dois, eu não te amo mais.
Existe uma relação direta entre a eficiência da lábia de um conquistador e o sentimento que possui a dona do ouvido.
Existe uma relação inversa entre a perpetuação de uma lide processual e a clareza das provas levantadas pela parte.
Não existe relação entre a ocupação do tempo do dono do blog com a ausência dos posts.
Existe falta de inspiração.
dia 22 de março
16h
Por carta, da Claro:
"Você vai mudar de plano. (...) Essa mudança é automática. (...) E pode mudar de celular também. (...) a partir de R$1,00 (...)"
Por telefone, com a Claro:
Não assinei nenhum contrato que me impusesse uma mudança unilateral, coercitiva e lesiva como essa! Não assinei nenhum contrato com a Claro desde a mudança de celular e essa cláusula do contrato que você está falando, no meu não existe. O contrato vigente ainda está em nome da BCP e é esse o que assinamos e que a Claro assumiu obedecê-lo.
Por telefone, a Anatel:
Aqui na Anatel não consta essa resolução que o senhor disse que a Claro diz estar se baseando, mas se no seu contrato houver previsão, eles podem sim mudar. Quando um plano termina, deve ser anunciado com antecedência de seis meses por carta ou jornal de grande circulação e oferecer outros planos para que o cliente escolha. O senhor deseja efetuar a reclamação?
Por telefone, a Claro:
Senhor, não houve quebra de contrato da nossa parte. O seu caso vai ser analisado pelo departamento jurídico e entraremos em contato com o senhor dentro de cinco dias.
18h
dia 06 de abril
10h
Por telefone, com a Claro:
Sou cliente desde 1998, sem nunca ter sido inadimplente. Merecia mais respeito. Quero cancelar a linha.
dia 07 de abril
18h
Por carta, da Claro:
"A Claro está ampliando o prazo para você mudar de plano. Isso significa que você ainda pode continuar com seu Plano em Reais atual. (...) Conheça opções que a Claro tem para você (...)"
No escritório:
– Tem como ele provar? Sabe que o ônus da prova é dele, né? Pega umas duas ou três testemunhas boas e instrui. Nega tudo.
Antes de um processo:
– Quanto você quer ganhar com a causa?
– Ela me deve seiscentos e uns quebrados.
– Então vou fazer o pedido na inicial de mil e duzentos.
Depois de um processo:
– Doutor, depois que o senhor falou lá... é... antes eu achava que tinha matado o danado pelas costas, mas agora que eu vi que foi tudo um acidente e ele que queria me matar... 'brigado doutor, tô aliviado agora.
No cartório:
– Oi, gracinha, lembra daquele meu processo? Eu não queria esquentar a cabeça com ele esse ano... Deixa o juiz despachar aquela pilha ali primeiro...
Em "O Processo", de Franz Kafka, o pintor Titorelli:
– Há três possibilidades: a absolvição real, a absolvição aparente e a dilação por prazo indeterminado. A absolvição real é a melhor, evidentemente, mas não tenho a menor influência no que concerne a essa solução.
(...)
A escolha é sua. Posso ajudá-lo nas duas, mas não sem dificuldade, claro: a única diferença é que a absolvição aparente exige um esforço violento e momentâneo, e a dilação por prazo indeterminado, um esforçozinho crônico.
Há quem refute o caminho do sócio.
Há quem relute a atuar desse jeito.
Há quem recuse a vida nesse estilo.
Há quem reflita: "o errado sou eu".
Não há satisfação maior do que cumprir uma agenda lotada – que você mesmo fez.
Sentimento de realização raro, de fato.
Sensação de que nocauteou o Tempo – Inimigo dos infernos.
Em breve: retorno – com pensamentos mais concatenados, possivelmente.
Segue em programação anormal.
Quinze pra uma?!
Atrasado pro próximo round.
Certo dia, certa hora, certo amigo veio falar certas coisas muito certas.
Certamente, certos demais carecem de certezas.
E, com acerto, os certos de mais também.
Imagine se se pudesse filmar uma pessoa durante várias horas por vários dias. Um olhar observador atentaria para os pequenos gestos, às roupas que costuma usar, aos olhos, às expressões faciais, à postura, à altura da voz, etc. Ainda que ele não entendesse absolutamente nada sobre a linguagem do corpo, poderia afirmar com certa dose de certeza se a pessoa é educada ou não, que gostos possui, se é apressada ou relaxada, se é sonhadora ou realista, ou mesmo se é uma pessoa dissimulada. Imagine se fosse possível captar gestos cuja tradução levaria às mesmas conclusões, mas por meio de captação diverso, não sendo necessário o monitoramento com som e imagem por horas a fio.
É tomando como base o gesto gráfico que a grafologia ergue seu alicerce para descrever a personalidade da pessoa. E para tal proesa existe muitos livros sobre o assunto, grandes manuais práticos e muitos profissionais especializados. Apesar de não ser amplamente reconhecida pela ciência, até os mais céticos admitem que existe a possibilidade de reconhecer doenças em estágios iniciais pela escrita.
Tal como o lambedor multi-ervas que costumávamos tomar quando pequenos, na multidão de mitos, senso comum e ciência, existe alguma verdade. E, com bastante tom de brincadeira, resolvi fazer esse teste. É bem óbvio que se afasta muito da quantidade de detalhes que um grafólogo observa e, por isso mesmo, tive que fazer várias vezes, já que algumas opções simplesmente não se encaixavam com minha escrita.
Eis o resultado:
"A inclinação de sua letra mostra que você tende a ser uma pessoa extrovertida, sociável e afetuosa. A ligação de sua letra revela organização, raciocínio lógico e razoável capacidade de adaptação. A direção de sua letra indica otimismo, criatividade e impulsividade na realização das tarefas cotidianas. A pressão que usa ao escrever sinaliza estabilidade e equilíbrio..."
Aqui começam as confusões:
"As áreas valorizadas na sua escrita destacam idealismo, erudição, preocupação com seu crescimento interior."
"As áreas valorizadas na sua escrita destacam imediatismo, preocupação com questões materiais e pouca motivação de crescimento interior."
"As áreas valorizadas na sua escrita destacam vigor físico e sexual que se refletem na grande habilidade de expressão corporal."
Quem me conhece pessoalmente pode perceber que nenhuma das alternativas são satisfatórias. Igualmente ocorre com a última parte:
"A forma de sua letra demonstra sinceridade, capacidade de adaptação, espontaneidade; sensualidade."
"A forma de sua letra demonstra firmeza, decisão, perseverança e agressividade."
Em cada alternativa surgiam características que eram conformes e outras destoavam completamente. Em termos gerais, o teste serve bem como massageador de ego.
Para quem gosta, os dois lados da moeda.
Para quem quer tirar a prova:
Enjoy!
Bel fotografava por instinto, via que dava uma boa foto e tirava.
Cris escrevia como quem cantava, costumeiramente em guardanapos.
Jô pintava em êxtase, ria, chorava, dançava com o pincel e a pasta.
Fê tirava música de coco, de lata, de pedra, tubo; batia, riscava, soprava.
– Bando de vagabundo – dizia o pai – ter quatro que não prega um prego numa barra de sabão só me dá desgosto.
Depois de muitos verbos, adjetivos e estilhaços no chão.
Bel virou assistente de cozinheiro.
Cris conseguiu ser recepcionista dum hotel.
Jô foi trabalhar com o pai no mercado.
Fê... foi-se por aí, a mãe que sabe, diz que é auxiliar de escritório, na Capital.
Depois de muito silêncio e poeira.
Só silêncio e pó restaram.
Esse Estado é incompetente e falido.
Vamos fazer uma redistribuição de tudo para todos viverem melhor!
Igualdade para todos!
Mas, vamos combinar assim: ninguém mexe no meu!
Não comer o fruto proibido? Ok! Pode deixar.
Nunca nos passou pela cabeça nos mantermos juntos e fazer uma torre até os céus.
Eu sou filho de Rá.
Ela é uma bruxa!
Vamos encontrar um novo caminho para as Índias.
Tudo será solucionado com o fim da propriedade privada.
A energia nuclear só será usada para fins pacíficos.
Nem Deus pode afundar esse navio.
Vamos apenas pegar as amas de destruição em massa, assim que pudermos, sairemos de lá.
Tudo o que queremos é terra para plantar e viver em paz.
Eu não sabia.
O primeiro era caba bom de peia.
A segunda era vistosa, carne de primeira qualidade.
Um mais um, depois do nono mês, três.
E insistiro que não foi por causa de feto, mas por amor de fato.
E não cansavam, nem de brigar, nem de brincar, e, na brincadeira, já somaro mais dois.
Sei que, de tanta batida, o caldo engrossou.
Era três pequeno se batendo e levando cascudo.
Era dois grande se batendo e se lambendo.
E foi lá pro sexto ano, numa sexta-feira, do sexto mês, chegou-se a sexta.
Era uma danada cheia das sem-vegonhices.
Num precisou meia dúzia de palavra dela pra endoidecer o primeiro.
Que dizia que tinha pena dela, a coitada que de tão carente num podia comprar saia mais comprida.
Mas era boa moça e abundava em virtudes. A-bun-dava, entre outras sacanagens.
A segunda, que ficou pra segundo plano, num quis conversê, mandou tudin pru diabo-que-carregue.
E não foi nem por falta de diabo, que nessas horas aparece uns quatro.
Depois desses dez, tu num sabe...
Não é que no décimo ano, na décima lua cheia, desce um anjo?
Se era anjo ou encantador eu num sei – mas foi paixão desembestada que só vendo –, mas ela, macaca velha, num momento de lucidez, viu que a esmola era grande demais e ficou tão desconfiada, mas tão desconfiada, que dispensou o sujeitin.
Ah! Vida marvada! Nem anjo consegue ser feliz.
Acordou, mas não abriu os olhos. Foi esticando o braço em direção ao outro lado da cama, tateando, até alcançar o travesseiro vazio. Ele já tinha saído às três e meia para Santana - iria passar a semana inteira lá - e não podia viajar na segunda. Tinha que ser no domingo. Tinha que deixá-la sozinha naquele domingo? Não que não fosse um domingo qualquer, mas podia passar ao menos a manhã juntos, não? Os três podiam ir ao parque. Por que tinha que viajar tão cedo? Era melhor nem ficar pensando tanto nisso para não azedar ainda mais aquele dia.
Depois de todo esforço que fez: largar engenharia - o curso onde eles se conheceram - e ter que transferir para arquitetura, porque nesse fim de mundo não tem outro curso que a empolgue; deixar a mãe, a família e todos os amigos; trazer a filha para essa selva de pedra e poeira; e abandonar o mar - saudade do mar, nunca pensou que o mar faria tanta falta. Depois de tudo isso precisava fazer mais um esforço, levantar da cama para ver a menina que já tinha acordado no quarto ao lado.
Não entendia como aquele corpo parecia tão pesado. Tinha perdido peso junto com a vontade de comer, tinha posto os sonhos de lado, tinha posto as companhias de lado, tinha posto tanta coisa de lado que nem sabia o que tinha retido para si. A vaidade também estava posta de lado. Talvez tinha posto tudo do lado dele, porque ele continua tão seguro de si, tão cheio de vida e de espírito, e ela... nada. Tinha posto o brilho de lado também.
Quem se importaria se ela estava nua ou vestida? Bonita ou feia? Fazia tanto tempo que não ouvia um elogio, mas andar pela casa de calcinha incomodaria. Com muito esforço, levantou-se, pegou o roupão e foi amamentar.
A porta bateu com uma força que os vizinhos dos dois andares (os dois de cima e os dois de baixo) devem ter escutado. Se bem que ela só pensou nessa vergonha muito tempo depois. Na hora, o que ela menos queria era exatamente o que estava acontecendo: ele estava saindo dali explodindo de raiva e sem querer conversar.
Lá embaixo, cantam os pneus. Não resta mais nada a fazer além de tentar dormir. Até que tentou, mas o sol começava a levantar mostrando seus olhos inchados.
**
Qui-qui-qui infeliz! Tem quem agüentasse aquele lenga-lenga? Mal podia esperar para chegar em casa e dormir. Hoje o dia tinha acabado. Não tinha remédio. Amanhã ele estaria novo do novo.
Chegou em casa e dormiu feito pedra. Levantou-se e já era tarde.
**
A última pessoa que ela esperava estava tocando, às 10h numa manhã de domingo, no interfone. Agora que ele quer conversar? Depois de ter criado uma noite dos infernos?
Lavou o rosto, trocou de roupa, tentou ficar na melhor aparência possível. Não iria ficar por baixo. Ensaia aquela cara de "agora?!" (com muito desdém). Abre a porta e se depara com uma cena insólita. Ficou na dúvida se o noivo tinha enlouquecido desde ontem ou se tudo não passava de uma brincadeira sem graça.
Ele, que estava com ambas as mãos atrás das costas, puxa a primeira e mostra uma colher, puxa a segunda e mostra um pote de sorvete de sonho de valsa, e emenda lembrando-a que, num dia de "juras eternas", ele tinha apostado um pote do sorvete preferido que ela nunca seria capaz de deixá-lo com raiva.
Ela ainda queria conversar. Ele já nem lembrava porque tinha ficado com raiva, mas já estava preocupado se o congelador iria manter o sorvete duro.
Perguntas que devem ser feitas a alguém que você sabe que fez uma prova de concurso:
–
–
–
–
–
Tô matando o primeiro que me der bom dia, boa tarde ou boa noite.¹
¹Vai passar. Tô sabendo. Vou passar. Mas falta paciência. Tô um porre. Eu sei.
Perguntas que não devem ser feitas a alguém que você sabe que está estudando para concursos:
– Choveu um bocado ontem, não?
– Tu não sabes quem é a top gostosa do BBB?
– Alô?! Vai me dizer que você não sabe nenhum nome de personagem das novelas que estão passando?
– Qual foi o desfile que você mais gostou?
– Como você não sabe quem ganhou?
Mas já que você insiste, eu pergunto: E você? Qual a sua opinião quanto à aplicabilidade do princípio da responsabilidade objetiva ao fabricante de armas conforme o exemplo das usinas nucleares?¹
¹Ou outra pergunta da sua área.
Sempre com uma resposta na ponta da língua, vivia para ajudar o próximo, ainda que isso lhe custasse alguns transtornos. Na república onde morava, além de fazer o papel de pai dos marmanjos, ainda era síndico, contador, médico e conselheiro amoroso nas horas vagas. Numa noite dessas, um dos seus roommates entra no quarto:
– Cara, tô muito gripado, tossindo muito e a coisa não sai.
– Faça uma nebulização. Beba muita água. Você precisa se hidratar!
– Nebulização com o quê? Água?
– Não, peste, com soro, daí você bota algum remédio que abra os brônquios. Eu usava um, mas não tô lembrando agora, não.
– De abrir eu tenho só Penetro.
– Era esse mesmo! Pode pôr que já, já, você sente o resultado.
Cinco minutos depois de começar a nebulização:
– Mermão, tô passando mal. Não tô respirado direito. Tô bem não.
– Tu não tem alergia ao remédio não?
– Nada, sempre usei, mas inalando, nunca fiz nebulização. Cara, vou morrer sem respirar!
– Calma que o vizinho te leva num hospital.
Depois que saíram:
– Alô, mãe? Qué que eu tomava na nebulização?
– Berotec, por quê?
– Nada não. Um colega meu tava perguntando e eu não lembrava.
No fim de semana, já em casa, na terra natal, vem sua irmã consultá-lo:
– Aqui em casa não tem pão, o açúcar é mascavo – ninguém merece soro caseiro com açúcar mascavo – e eu tô morrendo de fome e com dor de barriga. O que é que eu como?
– Ah, guria, cream cracker!
– Já comi um pacote, leite pode?
– Não, nada que tenha muita gordura, mas pode comer papa.
– Pode ser de aveia?
– Vai fundo! Aproveita e faz um prato pra mim.
Sempre que ele acordava, ela acordava logo depois, mas continuava fingindo que estava dormindo. Ainda que fosse impossível permanecer dormindo com alguém tão irrequieto no quarto. Não tinha pena: ia no banheiro, dava descarga, voltava, sentava na cama, ligava a tv, tomava banho, voltava, andava pelo quarto, mexia nas coisas, fazia todo tipo de barulho "sem querer" querendo acordá-la, até que ela se rendia e fingia acordar naquele instante.
Tudo o que ela queria era acordar por conta própria, dormir o quanto pudesse e não ter aquele galalau daquele tamanho que não conseguia tomar café da manhã ou fazer qualquer outra refeição sozinho. Às vezes reclamava, às vezes ficava emburrada apenas, às vezes ficava séria.
Enquanto ela estava no período aquisitivo de férias, ele foi gozar as dele na casa dos pais, viajou na sexta-feira para passar as próximas três semanas fora – enfim ela teria oito horas de sono! No sábado, constatou que dormira doze horas – amou. No domingo, dez, mas acordou meio inquieta e desconfortável. À noite, ligou para ele pedindo que a acordasse todos os dias por telefone na hora que ele se levantasse.
Perguntas que não devem ser feitas a alguém que você sabe que está estudando para concursos:
– Já passou?
– O que tem feito da vida?
– Alguma novidade?
– Não pensa em fazer outra coisa na vida?
– Vai estudar até quando?
Mas já que você insiste, eu pergunto: E você? Já foi à _______¹ hoje?
¹ Favor preencher à gosto.
Há fantasmas que tiram teu sono e perseguem-te o dia inteiro.
Esses malditos estão fazendo hora extra comigo.
Há verdades que são incontestáveis e, por isso, devem ser divulgadas.
Eis 99 sobre Chuck Norris.
Da paciência:
- Chuck Norris contou até o infinito. Duas vezes.
À força:
- Quando Bruce Banner fica irado, ele se transforma em Hulk. Quando o Hulk fica irado, ele se transforma em Chuck Norris.
Sem menosprezar as ciências:
- Chuck Norris pode dividir por zero.
Código Civil Brasileiro - Lei 10.406, de 10 de Janeiro de 2002.
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O telefone toca. Um importante senador dos Estados Unidos misteriosamente morre, exatamente no dia do seu plantão no FBI, e você tem 24 horas para descobrir o assassino, o motivo e a arma. Tudo bem... você já se acostumou com essa rotina, é o seu oitavo ano no FBI e você só trabalha em apenas 1 dos 365 dias do ano, mesmo que seja com a iminência do mundo despencar no caos de ameaças nucleares e instabilidade político-econômica.
01:00
Depois de ler o log do Carnivore dos últimos 30 dias dos emails recebidos em @whitehouse.gov, você, com olhos de peixe morto e boca aberta, encontra uma pista do assassino (pista do assassino em duas partes, parte I), um dos IPs de emails recebidos não está na lista dos provedores americanos e, rastreando, através dos mais modernos sistemas de firewall, localiza o computador de onde foi enviado o email: num prédio em Washignton DC, numa das bases de um grupo terrorista que estava sendo investigado por outro agente que morrera recentemente devido a uma forte sinusite, conforme o relatório do legista. A única entrada possível naquele prédio era o vão do elevador expresso, partindo da cobertura.
02:00
Depois de muita enrolação e todo o Bureau contra você, porque agora é o principal suspeito pela morte do senador, devido a um foto sua conversando com a esposa do falecido. Você sai sozinho, tendo como único apoio sua ex-namorada, na Inteligência.
03:00
Mais enrolação ainda. Todo mundo conversando com todo mundo, um disse-me-disse dos infernos e você amarrando uma corda na cintura para descer de helicóptero sem ser descoberto.
04:00
Finalmente alguma ação! Descendo pela ventilação da cobertura e de posse da planta de todo o prédio, você encontra o vão do elevador e agora tem que descer 114 andares, despistando a malha de sensores a laser até o subsolo.
05:00
Depois de ter passado por lasers, finos no elevador expresso, sensores de calor e uma placa de aço de 80cm de espessura, graças a um maçarico de bolso, você tem 2 minutos para passar pelo sistema de câmeras enquanto sua amiga e ex-namorada, de lá da central do FBI, consegue provocar interferência nas telas.
06:00
Como era de se esperar, você consegue chegar no alvo, mas uma gota sua de suor ativa o sistema de auto-destruição do prédio e tudo começa a explodir enquanto o helicóptero vai te puxado pela corda e você, arrastado desse jeito, sai ileso, com fuligem no rosto e nas roupas e um pequeno corte na testa. A destruição foi completa, salvo um pedaço de etiqueta de uma caixa de cdrom que, através dela, surge a segunda pista do assassino.
07:00
Enrolação, embromação. Totalmente dispensável qualquer comentário aqui.
08:00
Idem
09:00
Idem, mas não poderia deixar de registrar que nos escombros do prédio foi encontrado um PC com o HD reformatado que pode conter informações que podem te inocentar.
10:00
Mais enrolação ainda, criam histórias em paralelo e aqui e acolá uma explosão ocorre.
11:00
Você fica se perguntando até quando ficará com essa cara de peixe-morto, enquanto isso o enredo fica enrolando.
12:00
Sua ex- é descoberta na Agência e afastada do cargo, agora você está sozinho contra Deus e o mundo.
A partir desse momento a TV por assinatura decide reprisar todos os episódios. Em seguida, faz uma maratona de um final de semana inteiro passado os danados novamente. Sites especializados e fóruns recebem notícia que a audiência está baixa e provavelmente não haverá próxima temporada. Fãs, de posse dessas notícias, enchem de tópicos querendo você de volta e mandam milhares de emails para o canal dizendo o quanto infeliz era a decisão que a direção estava por fazer.
13:00
Enrolação.
14:00
Perseguição com automóveis e tiros e você in god mode (IDDQD), com todas as armas e com todas as chaves (IDKFA).
15:00
Praticamente teleportado, você aparece em Manhattan para pegar uma importante informação com um agente duplo e em Los Angeles para fazer contato com um negociador. Não aparece nenhuma cena explicando como você foi de um lugar a outro num intervalo de uma hora, possivelmente, porque a emissora não queria pagar direitos à Marvel pela sua carona com o x-man Noturno.
16:00 – 22:00
Fazendo uma grande caridade a todos, recuso-me e tecer comentários sobre o que aconteceu com você nessas seis horas. Contudo, posso te garantir que não teve intervalo para banho, refeição, copo d'água, cochilo, lanchinho, nem nada, mas você está firme e forte, com gel no cabelo, sem cicatriz na testa, nem corte e sem fuligem no rosto. E também já tem tudo nas mãos para prender o criminoso, tudo que te falta é tempo, só falta uma hora para acabar a série.
23:00
Nos episódios passados que não foram narrados, depois de escapar de tiro com mira laser, fogete, milícias armadas e do próprio FBI, você se encontra novamente em Washington, onde tudo começou, dentro do FBI. Não mais que de repente, você voa em cima do garçon que iria servir o Presidente dos Estados Unidos que, diga-se de passagem, é seu amigo pessoal. No mesmo instante, vem correndo um nerd qualquer gritando que você é inocente e que tinha terminado a recuperação de todas as informações do HD dos terroristas desde o dia que foi comprado no Mercado Livre.
Assassino: o mordomo do senador (aqui, disfarçado de garçon).
A Arma: uma coxinha de frango com catupiry com um osso dentro.
O Motivo: criar assunto para um post.
24:00
Caleidoscópio: do Gr. kalós, belo + eîdos, forma + skop, r. de skopein, olhar; Kaleidoskopio (καλειδοσκόπιο), em Grego moderno.
Fontes: Priberam Informática e Kypros ΛΕΞΙΚΌ (Lexicon).
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