terça-feira, maio 29, 2007

Cego

Escuro
Tateio
Macio
Quente
Úmido
Molhado
Perfume
Cheiro
Respiro
Farejo
Provoco
Provo
Gosto
Doce
Salgado
Amargo
Sussurro
Escuto
Mais
Mais
Mais

domingo, maio 27, 2007

8,988465674 × 10307

Então estavam os irmãos discutindo:
– Eu não sou exagerado!
– É claro que é! Todo mundo sabe disso!
– Então prove!
– Provo!
– Ah é? Então me dê vinte exemplos!

Anos depois:
– Não sabe o que eu descobri!
– ...
– Olha: 2*10^1024
– ...
– Poxa... É que o Google pode ser usado como calculadora. Olha aqui os exemplos no Search.
– E não deu justo com o exemplo que você deu, né?
– Deu certo com 2^1023!
– Tu só escolhe número pequeno, né? Só faltam mais 18 exemplos.

sexta-feira, maio 25, 2007

Arrodeando a quadra

Rudolph ganhou esse nome por motivos óbvios. Quando sua dona, minha esposa, viu aquele nariz sem melanina dentro da ninhada, não teve dúvidas, queria aquele. Tornou-se um filho pra ela, desde quando namorávamos. Hoje é, por assim dizer, meu enteado. E pago o preço da liberdade que lhe demos: o bicho dorme dentro do quarto e, por volta das seis e meia, pula na nossa cama. Mas como minha mulher é meio preguiçosa, acaba sobrando para mim. Tenho que passear com ele, senão o danado passa o dia perturbando.

terça-feira, maio 22, 2007

30 minutos de banho de sol

Ele virou refém de Greta, sua beagle. Todo dia, pontualmente às 6:40, ela puxa o lençol da cama e lambe seu pé até acordá-lo. Então ele se levanta, leva a menina para passear e, coincidentemente, encontra com um outro dono de beagle.

domingo, maio 20, 2007

Explodindo o último caroço

Pipoca se faz no fogão, na pipoqueira.
Não há pacote ou microondas que me supere.
Salgada ontem. Doce hoje.
Satisfação barata.
Quem não quer?

quinta-feira, maio 17, 2007

O que fazer

quando as meias já não adiatam e não há mais opções para esquentar os pés à noite?

quando a mente não relaxa, colocando-se numa maratona de flashbacks?

quando o que você mais quer é o que você não quer?

sábado, maio 12, 2007

Virose

Você vai dormir pensando que gripou e acorda mal, rejeitando qualquer coisa que bate no estômago até que desiste de comer. Você não percebe que está com febre, nem se toca. Então começa a ficar tonto, delirar, gemer, ter vontade de chorar, achar que enlouqueceu...

Mas pior seria se você não tivesse para quem ligar.

quarta-feira, maio 09, 2007

PEC 54

Tenho acompanhado a PEC-54/1999¹ e ontem recebi um email com sua movimentação. A proposta é incluir o seguinte artigo no Ato das Disposições Transitórias:

"Art. 76. O pessoal em exercício, que não tenha sido admitido na forma prevista do art. 37 da Constituição, estável ou não, por efeito do art. 19 do ADCT, passa a integrar quadro temporário em extinção à medida que vagarem os cargos ou empregos respectivos, proibida nova inclusão ou admissão, a qualquer título, assim como o acesso a quadro diverso, ou a outros cargos, funções ou empregos."
Isso legaliza, até a aposentadoria, todos os que estão em situação irregular às custas do erário.

Qual não foi a surpresa, não apenas um, mas dois deputados apresentaram requerimento para "inclusão na Ordem do Dia da Proposta de Emenda à Constituição nº 54": o Deputado Rômulo Gouveia (PSDB-PB) e o Deputado Clodovil Hernandes (PTC-SP).

Conheço a ambos apenas por suas notórias carreias, não possuo nenhum elo pessoal, mas como o primeiro é da terra onde estão fincadas minhas mais profundas raízes, senti-me obrigado a enviar-lhe um email.

**Update: Ontem, 09/05/2007, o Deputado Ronaldo Cunha Lima (PSDB-PB) e o Deputado Davi Alcolumbre (DEM-AP) fizeram tambem requerimento. O primeiro é muitíssimo conhecido aqui no estado, tem uma carreia política desde de quando eu me entendo por gente. Modifiquei um pouco o email e enviei-lhe meu protesto.
Excelentíssimo Senhor Deputado Ronaldo Cunha Lima,

É com muita tristeza que tenho observado esse esforço em aprovar uma proposta de emenda à Constituição que tem como fundamento a perpetuação de uma realidade de ineficiência ao serviço público em detrimento do direito à isonomia. Sobretudo quanto existe um método legal, previsto na Constituição da República que dá igualdade de oportunidade para todos e que promove o preenchimento do quadro de funcionários públicos através da seleção de pessoas tecnicamente melhor preparadas para o múnus público.

O concurso público consagrado no artigo 37 da Carta Magna como requisito do servidor é, ao lado da licitação, a expressão mais forte dos princípios da administrativos da legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência. Esta proposta de emenda à constituição afronta a praticamente todos esses. Ao da legalidade criando uma regra de exceção para manter uma situação de irregularidade; ao da impessoalidade, favorecendo poucos em detrimento de muitos; ao da moralidade, preservando o que na própria fundamentação da PEC chama de "fardo" de governos passados que "nunca são alcançados nem responsabilizados", conforme o texto; ao da eficiência, deixando de selecionar um cidadão mais preparado para desempenhar a função conforme critérios objetivos. E ainda mais, mostra o descaso com a coisa pública preservando essa situação até que todos os cargos e empregos voluntariamente seja vagos.

Com toda a vênia, o propositor da PEC, ao defender que "numerosos contingentes de servidores em geral, das mais diversas categorias e níveis profissionais, ocupantes de cargos ou empregos, ou, mais comumente, contratados temporariamente, mas cujo vínculo, juridicamente, se tornou por tempo indeterminado (...)" possa ser justificativa para esta norma, somente reflete má vontade do administrador ao deixar de promover um concurso, que não trás absolutamente nenhuma despesa, visto o excepcional número de concurseiros lutam por uma ou duas vagas a cada oportunidade que se abre pelo país, tornando a publicação do certame praticamente uma expectativa de renda ao ente público promotor do concurso.

E o que ainda mais me entristece é ver um deputado da minha terra, conhecedor do mundo jurídico, que sabe perfeitamente que no direito administrativo não existe elo jurídico fora da legalidade entre particular e administração, que conhece a realidade de um estado que vive arrastado com funcionalismo público arcaico e ineficiente e, que, consciente de todos esse fatos, atua de forma promover um verdadeiro bloqueio à modernidade desta nossa terra.

Oxalá Vossa Excelência reconsidere as razões dessa PEC materialmente inconstitucional e mostre-se fiel ao ao propósito de construir uma sociedade livre, justa e solidária.

Cordialmente,
Esse não é meu primeiro email enviado a um político e nem será o último, independente da resposta que eu tenha (ou do provável silêncio), ao menos tenho a conciência de cumprir o mínimo do meu papel de cidadão.


¹ A fundamentação e o dispositivo da PEC estão nessas páginas: 1, 2, 3 e 4.

quinta-feira, maio 03, 2007

Shiatsu, sexta, às 18:40

Alan, como de costume foi dormir às 3:30 da manhã, já não agüentava mais aquela jornada de 4 turnos intercalando entre trabalho, bico e estudos. Dizia que não agüentava, mas agüentava sim.

Acordou às 7:00, podia ter dormido mais uma hora, mas o telefone não deixou, tinha coisas para fazer durante o dia que fugiriam da rotina normal. Levantou-se e foi lá "matar o dragão nosso de cada dia" – como ele dizia. No carro, lembrou que não tinha se despedido da mulher... depois a encontraria.

Fugir da rotina pode ser um alívio, mas não quando se tem mais trabalho. Não quando se fica preso num engarrafamento e só se tem 20 minutos para vencê-lo. Olhou para o relógio, tombou a cabeça – frustração –, deparou-se com a barriga – mais frustração –, lembrou-se do livro que tinha parado de ler, do exercício para o qual não tinha mais tempo, da meditação que costumava fazer, dos relatórios pendentes – tudo atolara no meio das urgências. O pescoço e as costas doíam. Tensão. "Normal, vai passar", pensava, como que se consolando.

Às 2:30 da madrugada, os ombros latejavam de dor, não dava para ler mais nenhuma página. Aproveitou para dormir mais cedo. Deitou na cama. A dor afastava o sono. Tinha esquecido de comprar Dorflex. A cabeça também doía. Tinha que dormir, já passava das 4:30. Foi na cozinha, encheu sacos de gelo e deitou os ombros sobre eles. Alívio. Dormiu, e era 5:30.

Quanto o sol bateu-lhe a janela, acordou tão tonto que mandou a manhã de trabalho se danar, tomou uma aspirina para matar a dor de cabeça que estava retornando e voltou a dormir. Acordou às 13:18, com pouca dor no pescoço.

Do outro lado da cama, um bilhete:

"Espero que depois a gente se encontre.
Beijo,
Chris"

O próprio Alan assumiu a culpa daquele bilhete, quem suportaria aquele ritmo senão ele? Mas, afinal de contas, quando ele iria ceifar os frutos daquelas batalhas?

– Beijo, amada, também espero.

Beijou o bilhete e guardou-o. Desligou o celular e tirou aquela quinta-feira de folga.