quinta-feira, fevereiro 23, 2006

Acredite, não mereço muito crédito

Sempre com uma resposta na ponta da língua, vivia para ajudar o próximo, ainda que isso lhe custasse alguns transtornos. Na república onde morava, além de fazer o papel de pai dos marmanjos, ainda era síndico, contador, médico e conselheiro amoroso nas horas vagas. Numa noite dessas, um dos seus roommates entra no quarto:
– Cara, tô muito gripado, tossindo muito e a coisa não sai.
– Faça uma nebulização. Beba muita água. Você precisa se hidratar!
– Nebulização com o quê? Água?
– Não, peste, com soro, daí você bota algum remédio que abra os brônquios. Eu usava um, mas não tô lembrando agora, não.
– De abrir eu tenho só Penetro.
– Era esse mesmo! Pode pôr que já, já, você sente o resultado.

Cinco minutos depois de começar a nebulização:
– Mermão, tô passando mal. Não tô respirado direito. Tô bem não.
– Tu não tem alergia ao remédio não?
– Nada, sempre usei, mas inalando, nunca fiz nebulização. Cara, vou morrer sem respirar!
– Calma que o vizinho te leva num hospital.

Depois que saíram:
– Alô, mãe? Qué que eu tomava na nebulização?
– Berotec, por quê?
– Nada não. Um colega meu tava perguntando e eu não lembrava.

No fim de semana, já em casa, na terra natal, vem sua irmã consultá-lo:
– Aqui em casa não tem pão, o açúcar é mascavo – ninguém merece soro caseiro com açúcar mascavo – e eu tô morrendo de fome e com dor de barriga. O que é que eu como?
– Ah, guria, cream cracker!
– Já comi um pacote, leite pode?
– Não, nada que tenha muita gordura, mas pode comer papa.
– Pode ser de aveia?
– Vai fundo! Aproveita e faz um prato pra mim.

domingo, fevereiro 19, 2006

Dependência

Sempre que ele acordava, ela acordava logo depois, mas continuava fingindo que estava dormindo. Ainda que fosse impossível permanecer dormindo com alguém tão irrequieto no quarto. Não tinha pena: ia no banheiro, dava descarga, voltava, sentava na cama, ligava a tv, tomava banho, voltava, andava pelo quarto, mexia nas coisas, fazia todo tipo de barulho "sem querer" querendo acordá-la, até que ela se rendia e fingia acordar naquele instante.

Tudo o que ela queria era acordar por conta própria, dormir o quanto pudesse e não ter aquele galalau daquele tamanho que não conseguia tomar café da manhã ou fazer qualquer outra refeição sozinho. Às vezes reclamava, às vezes ficava emburrada apenas, às vezes ficava séria.

Enquanto ela estava no período aquisitivo de férias, ele foi gozar as dele na casa dos pais, viajou na sexta-feira para passar as próximas três semanas fora – enfim ela teria oito horas de sono! No sábado, constatou que dormira doze horas – amou. No domingo, dez, mas acordou meio inquieta e desconfortável. À noite, ligou para ele pedindo que a acordasse todos os dias por telefone na hora que ele se levantasse.

sexta-feira, fevereiro 17, 2006

Imagine-me sorrindo – não tenho culpa de ser cínico

Perguntas que não devem ser feitas a alguém que você sabe que está estudando para concursos:

– Já passou?
– O que tem feito da vida?
– Alguma novidade?
– Não pensa em fazer outra coisa na vida?
– Vai estudar até quando?

Mas já que você insiste, eu pergunto: E você? Já foi à _______¹ hoje?


¹ Favor preencher à gosto.

quarta-feira, fevereiro 15, 2006

3:23

Há fantasmas que tiram teu sono e perseguem-te o dia inteiro.
Esses malditos estão fazendo hora extra comigo.

domingo, fevereiro 12, 2006

Tá olhando o que?

    – O direito à intimidade – que representa importante manifestação dos direitos da personalidade – qualifica-se como expressiva prerrogativa de ordem jurídica que consiste em reconhecer, em favor da pessoa, a existência de um espaço indevassável destinado a protegê-la contra indevidas interferências de terceiros na esfera de sua vida privada. A transposição arbitrária, para o domínio público, de questões meramente pessoais, sem qualquer reflexo no plano dos interesses sociais, tem o significado de grave transgressão ao postulado constitucional que protege o direito à intimidade, pois este, na abrangência de seu alcance, representa o "direito de excluir, do conhecimento de terceiros, aquilo que diz respeito ao modo de ser da vida privada" (HANNA ARENDT).


Recentemente, o Google, contando com o óbvio apoio do público protestou contra a entrega dos dados de buscas de seus usuários, com a defesa da intimidade como bandeira de luta. Logo o Google que sabe tudo sobre mim, iria dizer tudo o que procuro na net, era demais! Mas era mesmo?

Veja bem:

A pessoa tem um perfil no Orkut com amigos e comunidades – não raro ela também participa da comunidade “Tenho mais comunidades que amigos” –, seus amigos e ela mesma não têm nenhuma censura ao adicionar um recado, que nas contas do serviço já ultrapassa a quarta casa decimal. Basta um pouco de paciência e navegar um pouco que dali já sabe quem são os amigos, quem está namorando com quem, para onde vão, o que costumam comer, o que fazem da vida, etc. No perfil ainda tem um link para o flog.

No flog revela-se a artista, a poetisa, a poser. Mostra também mais uma penca de amigos e outro link – para o blog da criatura.

Contextualizado com seus amigos, gostos, profissão e tudo mais que você já conhece desse ser, pode-se filtrar tudo o que é ficção nos posts, retirando, assim, o que se passa na mente da pessoa: visão de mundo, anseio, sonho, frustração, cotidiano e o que mais ela colocar por lá, como por exemplo, uma lista de outros amigos e outro link, para o del.icio.us.

Chegando no del.icio.us, é festa! Todo o bookmark dela, por onde ela costuma navegar, seus interesses na net (só confirmando daquilo que você já sabia), sendo que aqui ainda traz aquela sensação (constrangedora ou não) de que você está mexendo, de fato, nas suas coisas. Por fim, outro link lá, o do Bloglines.

Eis o maior agregador de conteúdo que eu conheço. Se se tinha alguma dúvida de como a pessoa pensa, no Bloglines você pode experimentar os conteúdos que ela lê. Basta poucos cliques. Ah! Perfil privado (é a opção padrão)... tudo bem, mas já dava para ter uma idéia do que iria encontrar lá.

Mas quem sou eu para reclamar? Justo uma pessoa que sempre esquece de fechar portas e janelas do quarto antes de trocar de roupa e quando vai ao banheiro, nunca tranca a porta. Bem, talvez para quem já tenha a alma exposta, expor o corpo não é nada.

segunda-feira, fevereiro 06, 2006

Somente, Sozinha, Só

Foi a mando de Ana
viajou sozinho
Voltou amando Diana

Perdeu-se de si
Perderam-se de vista
Perdiam-se e perdiam-se

Como o Sol arrogante
Sentiu-se humilhada
por uma débil nuvem viandante


...
...
...

Nota à Imprensa

Há verdades que são incontestáveis e, por isso, devem ser divulgadas.

Eis 99 sobre Chuck Norris.

Da paciência:
- Chuck Norris contou até o infinito. Duas vezes.

À força:
- Quando Bruce Banner fica irado, ele se transforma em Hulk. Quando o Hulk fica irado, ele se transforma em Chuck Norris.

Sem menosprezar as ciências:
- Chuck Norris pode dividir por zero.