quarta-feira, novembro 26, 2008

Uma noite ela me disse "quero me apaixonar"

Número desconhecido chamando. Numa hora daquelas, só poderia significar duas coisas: ou um cliente em apuros, ou engano. Torcendo para que fosse a primeira hipótese, que também significava dinheiro, atendeu.

Errou.

Ele reconheceu-a imediatamente na saudação: um "olá!" festivo de três segundos de duração, e que se seguiria com desculpas por estar ligando àquela hora e por não ter avisado-o que mudara o número. Desculpas que era apenas o cumprimento de convenções sociais. Tudo que ela queria, era saber se ele estava disponível e revê-lo.

A partir dali, não haveria hipóteses, nem erros. Já sabia como a conversa seguiria e aonde terminaria.

Era sempre assim, de tempos em tempos, nesses últimos nove anos. Nada mudou quando ela teve Léo, nem mudará quando ele contar que é pai de Bia.

domingo, novembro 23, 2008

Epíteto

Depois de três anos trabalhando no fórum São João do Rio do Peixe, Lindalva finalmente estava satisfeita com o rumo que sua vida havia tomado. Passaram sete meses e meio, desde o dia que o viu entrando no saguão do hotel onde morava até o dia que entraram juntos no cartório de Cajazeiras para assinar os papéis do casamento.

Nem foi muita surpresa para a família de Clodoaldo ao descobrir que casaria com sua primeira namorada, o que espantou também não foi a velocidade de sua resolução, mas sim que a escolhida também era, como ele, promotora de justiça. Apenas oito meses após a nomeação e lotação para São José de Piranhas, o danado já queria constituir um lar.

Lindalva não era linda, nem era alva. Na verdade, nem era Lindalva. O que parecia nome era um apelido dado pelo pai, por ocasião da decisão, em sede de liminar, dos alimentos provisionais na ação de reconhecimento de paternidade. Em vão tentava o pai provocar a filha com a alcunha. E, quem sabe não tinha sido por causa desse evento que ela descambou para o Direito e carregou consigo aquele nome.

Entre uma assinatura e outra, tudo havia passado. Estava até se acostumando a ser chamada pelo apelido do apelido. Dalva soava muito bem. Tão bem quanto Aldo. E que nunca descubram o quanto ela achava que seus sogros tinham mau gosto para nomes próprios.

quarta-feira, novembro 19, 2008

Percepção

Quando não se pode ver,
Quando não se pode ter,
Saudade sentir para quê?
– Para o idiota sofrer.

quarta-feira, novembro 05, 2008

Despachando com o Juiz – Viva o bom senso!

– O pedido principal, a retirada do nome da empresa do Serasa, não foi consignado no acordo, Vossa Excelência, apenas o valor dos danos materiais e morais. Daí eu pergunto: terei que entrar com novo processo apenas para resolver isso?
– Não! Verei o seu processo... por favor, o senhor anote o número... que, com um despacho, posso resolver nesse mesmo processo.
– Muito obrigado.
– O senhor fez uma petição a esse respeito?
– Fiz sim. Também juntei a certidão comprovando o alegado.
– Outro processo pra resolver isso!? Eu tenho dois mil do eletrônico e outros mil remanescentes do físico, quero acabar com esse acúmulo no começo do ano que vem.
– Amém!