sábado, maio 23, 2009

Açúcar ou Adoçante?

Perto a trigésima volta ao redor do sol, ela percebera que tudo precisava de um "Plano B", na frente da atendente do Café Aurora.

Após recebermos o pedido, parecia que estávamos sozinhos no Café. Lambendo o ganache da colher como quem tinha metade da idade, falava dos planos frustrados ao tom de piada. Solidarizei-me. Já saí do "Plano A" algumas poucas (milhares de) vezes. E do "Plano B". E do "C"... A depender da área da vida, já zerei o contador de planos.

Quem faz planos tem que aprender a fazê-los livres, para mudar conforme o vento. Eu faço planos, sou um planador.

Ela disse que era o acaso e, no ocaso daquele dia, no meio do último biscoito, não tinha planos para a noite. Mentira.

terça-feira, maio 19, 2009

Please, Donate Life

Desde que me entendo por gente, sempre quis doar o que pudesse aproveitar do material genético que trago comigo. Dizia à minha família: "não quero ser comida de verme, assim que eu morrer, podem doar o que se aproveitar. Quanto ao resto, botem fogo para não gastarem com sei lá quantos quilos de carne dentro de um caixão". Tinha esse tipo de consciência sem nem ter noção dos custos com os serviços funerários ou mesmo com a cremação.

Eu simplesmente não conseguia conceber qualquer noção de respeito a um cadáver, ainda que tivesse visto e participado do enterro, naquela época, de minha bisavó e avô maternos. Obviamente eu era capaz de respeitar a dor e o momento dessas cerimônias e senti a falta de meu avô e das brincadeiras que tivemos, mas aquele que estava no caixão, com algodão nos ouvidos e nariz, definitivamente, não era mais meu avô. Depois de implicarem tanto comigo, deixei essas conversas de lado.

Em mil novecentos e cocada, houve uma campanha da Cruz Vermelha na universidade onde eu estudava para a doação de sangue. Acredite, não é só aqui no Brasil que é difícil encontrar doador. Lá fui eu:
– Hi, I want to donate blood.
– Good morning! It's good to hear that! Come with me, please... You're not from here, are you? So, where're you from?
– Brasília, District Capital of Brazil.
– Oh! You're a foreign student. Nice! Let me see the chart here. Hm... Brazil... I'm sorry, you can't donate. Brazil has malaria.
– Don't worry! I never had it. Malaria can be found in the Rain Forest. I live in "dry land". Paraíba, the state where I live in, is far from Amazônia. I've never been any close from that disease.
– I'm sorry. Your country didn't eradicate malaria. You cannot donate.

Para quem tem renite alérgica, estar livre de qualquer funga-funga é algo que deve ser bem explorado. Quem tem esse tipo de coisa, nunca sabe se está gripado, ou numa crise alérgica, ou com renite, ou se apenas mexeu em algo que não devia. Miraculosamente, esta mazela tirou férias sabáticas das minhas vias aéreas já faz quase um ano e, recentemente, ouvi que eram necessários doadores. Dezessete anos depois, lá fui eu, de novo:
– Cirurgias? Além dessas simples de pontos em cortes e de um pino que coloquei, fiz tireoidectomia parcial.
– E você fez essa cirurgia por quê?
– Cresceu o nódulo e disseram que era pra remover. Mas era benigno e não alterava em nada na minha vida. Não preciso tomar remédios nem nada.
– Você teve hiper ou hipotireoidismo? Sabe qual era o nome do nódulo?
– Nenhum dos dois. Meus níveis de hormônios sempre estiveram OK. Agora, o nome? Sei não. "Fernando"!? Ele veio e foi e nunca soube o nome dele.
– Adenoma, Bócio, Hashimoto, Cisto, Riedel, alguns desses nomes lhe soa familiar?
– Eu só soube que era um nódulo e não deveria me preocupar, bastava tirá-lo.
– Se você não sabe o que é, eu também não sei. Quem sabe não era autoimune? Não posso deixar que você doe, posso colocá-lo como inapto definitivo...
– Calma! Eu posso trazer a documentação que tenho e você pode ver se posso ou não doar.
– Tudo bem, mas você também pode consultar seu endocrinologista.
– Ele já se aposentou. Teria que procurar outro. Vou juntar os exames que tenho e mostrarei ao senhor.

Cinco dias depois, venho com a documentação. Ao doar sangue, a pessoa não pode fazer atividade física por 12 horas. Por isso, só hoje pude vir.
– Bom dia, vim na quinta passada para doar, mas o médico me pediu que eu trouxesse uns exames a fim de verificar se posso ou não doar sangue.
– Bom dia, que bom que você veio doar! Sabe que isso é um gesto de amor e solidariedade? Sua identidade, por favor... Senhor, aqui diz que o senhor está inapto até 2036. O senhor poderia me acompanhar até o serviço social?

Minha sorte foi descobrir, no Hemocentro, uma conhecida de infância e, graças a Deus, era a médica do dia. Após ver meus exames e verificar que não há nada que me impeça de doar, fez a gentileza de acompanhar-me por todas as salas e terminais tentando desbloquear meu cadastro – a única coisa que, naquele momento, estava impedindo a emissão da abertura do meu protocolo para a doação. Uma hora depois, o analista do NPD garantiu que, à tarde, meu nome estaria liberado, o que significava que eu não poderia doar hoje e como minha amiga só trabalha às terças e sextas, o melhor era aguardar mais uma semana.

Espero que a pessoa em favor de quem irei – esperançosamente – doar sangue sobreviva até lá.


Mais informações sobre o assunto, clique aqui.

terça-feira, maio 12, 2009

Rai caiu

Borboleta sem asa, lagarta.
Cão sem dente, estorvo.
Deixou-a, roubando-lhe seu melhor.

Leite talhado.
Roupas folgadas.
A dieta funciona, mas não é publicável.

quarta-feira, maio 06, 2009

Tweets

A mentira "quase" vira verdade. Elegi Abril, "o mês mais pesado do ano", principalmente por causa dos feriados – onde nada funciona, só eu.

Assim como o médico, é impossível de furtar-se de consultas gratuitas o advogado. Problema é ser tomado por Defensor Público dos conhecidos.

"A imensidão de processos por dano moral transformou o dano num danoninho." – Argumento da Conciliadora do Procon para fechar um acordo.

Senhorita autora, não adianta falar com essa voz ao telefone. O que foi acordado em audiência é o que será cumprido.

Não, senhor, 20% não é um teto aos honorários. O senhor também não trabalharia para alguém por 6 ou 12 meses para receber apenas 100 reais.

Finalmente encontrei um bom argumento contra quem coloca culpa de ser o que é na carga genética, na Veja, quem diria.

"Eu sei que a pista está bloqueada. É só tirar afastar o bloqueio que meu carro passa." – Bom saber disso, nunca mais lhe peço carona.

Senhor fiscal, o detector de metais está apitando apenas por causa do meu pino. Não tenho como removê-lo para entrar no banheiro.

O trânsito sempre está livre para quem não tem pressa. E sempre tem milhares de motoristas sem pressa na minha frente. É fato.

A grande maioria da população brasileira jamais saberá o que é ser responsável pelo IRPF da família (pai, mãe e irmãos), principalmente dum ano que envolveu bens derivados de doações, herança e antecipação da legítima, interferindo nas declarações de um pouco mais de duas dezenas de outros parentes, discussões com dois contadores e visitas à Receita Federal. Fechar tudo com todos os declarantes faltando 29 horas para o fim do prazo, enviar e imprimir tudo às 2:40 da madrugada do dia 30 promoveram um estresse que nunca caberia em 140 caracteres.

Nunca queira patrocinar a causa de um autor contra cinco réus, sozinho. Analisar quase 40 documentos e preliminares múltiplas é fadigante.

Qualquer concursado perde 90% do seu QI quando começa a trabalhar num cartório. Só pode ser. Definitivamente é uma hipótese a considerar.

Depois que se aprende a olhar como camaleão, não há mais estresse no caminho de volta pra casa. Filmes em partes e episódios tranquilizam.

Preciso voltar a estudar. Não posso ir ao cinema num domingo, ou a uma peça de teatro. E nem sonhar em ir para um show pagando inteira.

Blog? O que ser isso? MSN? Gtalk? Feeds? Livros? Estou precisando de um pouco de abobrinha e cultura na minha dieta.

Nem lembro a quanto tempo a ideia de Borges martela-me a pedir por um post: "porque a tradição é fruto da memória e do esquecimento". Ei-lo.

Certo amigo disse que muito trabalho gerava posts curtos e interessantes. Discordo completamente.