terça-feira, setembro 25, 2007

In Natura

O brilho dos seus olhos fazia o dia raiar. Divertia-se moldando bichos de nuvens, guardando o barulho do mar nas conchas e fazendo nascer plantas nos lugares mais inusitados. Era especialista na arte de fazer arte, de fazer rodamoinho no pé dum pé de planta, de ensinar folha a dançar no ar, de fingir ser o amigo imaginário duma criança brincando sozinha. Tinha o riso frouxo. Tudo aquilo era muito gostoso.

Certo dia, num desses inspirados, controlando-se para não rir, colocara um sonho insano no rapaz que acabara de almoçar ao pé duma árvore. Ao virar-se, percebeu que ela estava ali, vendo a cena (ou pensou que ela tinha visto). Todavia ela fora vista: sorriso doce, voz suave, caminhar leve e um cheiro, uma fragrância, que nunca tinha sentido antes. Ficou cativado.

Numa noite qualquer, seguiu-a até sua casa. Descobriu seu quarto e fez uma rosa brotar na frente da janela. Esperou amanhecer e para ver sua reação. Não poderia ter sido melhor. Danou-se. Queria ser gente. Queria ser homem e para isso fez nascer braços e pernas, cabeça e tronco, mãos e pés. Fez sangue correr pelas veias e artérias. Seu sangue fervia.

Fervia o sangue. Fervia a alma. Nunca o sol estivera tão quente naquele ano que não teve inverno. E de tanto ferver. Evaporou-se. Nenhuma criatura aprende a ser gente de uma hora para outra. Nem gente aprende! Enquanto evaporado, sentiu os primeiros ventos frios. Resistiu e tentou lutar, porém o vento era tão implacável que o fez condensar.

Já há muito não chovia tanto quanto as águas daquela noite. E ele caiu do céu feito pedra, e como pedra ficou por incontáveis dias chuvosos. Cobriu-se de líquen, vestiu-se musgo, não achava o lodo bonito, mas acabou usando um pouco. Ele choveu tudo o que pôde e quando não pôde, pintou o firmamento de cinza e assim deixou.

Numa manhã qualquer que começara como todas as anteriores, sentiu uma cutucada no dorso. Um passarinho desavisado foi limpar o bico num cantinho esquecido pela relva que o envolvera. Fez lembrar de dias passados, fazendo-o suspirar de saudade. O suspiro abriu um pouco o céu, o suficiente para que o sol lhe mandasse os cumprimentos e chamasse-o para uma visita. Ele disse que confessava-se grato pela lembrança, mas estava "bem de pedra" (daquele jeito) e "quem sabe outro dia". Coincidentemente, ou não, o passarinho bicou-lhe as costas. Seguidas vezes. Ele não sentia as patas que algum inseto ágil em fuga, só poderia ser provocação daquela ave que queria fazê-lo levantar. Levantou-se. O passarinho saudou-o. O sol secou-lhe corpo com seus raios e refletiu seu brilho no olho negro do passarinho. Lembrou-se de si novamente, entretanto não suspirou. Tomou coragem, fez surgir asas enormes e decidiu conversar com o sol.

Passou o dia voando e proseando com o sol, um dia com tantas horas que dariam um ano, percebeu que, naquele tempo todo, não tinha visto o verde. Tudo ao redor era tão seco quanto a secura que o dominara. Agradeceu o convite ao sol, deu-lhe boa tarde e mergulhou na primeira nuvem que viu. Largou as asas e caiu no mar.

Nadou por todos os mares, fez ondas de todos os tamanhos, conheceu algumas sereias... Nem os mares quentes o fez sentir como antes. Até repetiu, por vezes sem número, várias de suas especialidades, porém aquilo perdera o sabor. Não encontrou mais lugar para si.

Preferiu viver a vagar.

segunda-feira, setembro 10, 2007

Em prosa e verso

Um certo político local, sem que nunca tivesse escrito uma rima antes, sem nunca, sequer, ter criado expectativas a respeito de qualquer qualidade artística sua, publica uma obra impecável.

Tamanha desenvoltura pode ser observada também nas páginas que descrevem seu perfil: Mal assumiu o cargo, foi convidado pelo governador do estado para ser o primeiro secretário de um novo órgão que, coincidentemente, foi ele mesmo criara enquanto ainda trabalhava na assembléia legislativa.

Parafraseando Chico Science:
"Ghost writers fazem arte,
seus clientes fazem dinheiro...
...dinheiroooooooooooo...
"

terça-feira, setembro 04, 2007

Igualdade Substancial

Desde que fui praticamente obrigado a ser o que hoje sou, tenho pensado no tal "índio lá no meio do mato". Expressão viva do contrassenso do nosso ordenamento jurídico. Conquanto a Carta Magna e o Código Civil escusaram-se desta discussão, deixaram sua capacidade jurídica regulada por leis especiais de tempos remotos que, estranhamente, tratam o índio, em um momento como incapaz (persistindo uma divergência se a incapacidade seria absoluta, por prever a nulidade de atos desacompanhados de tutela; ou relativa, por exigir uma assistência e não uma representação do órgão tutelar); ou como capaz em outro instante, a depender da integração à sociedade.

Eu não tive escolha (ou garantia). Não pude dizer que queria viver como índio, ou cigano, ou quilombola. A despeito de considerar-me tão humano quanto esses e, por tanto, credor do mesmo zelo, fui invadido pela tecnologia, pela cultura universal e por um senso de ética e moral cujas origens me são estranhas. Forçado a interagir, consolei-me com a preservação de certo folclore regional, alguns hábitos e gírias locais. Sou impedido de congelar-me no tempo e no espaço. Se é dessa feita, travestido de protesto, entendam que o índio também deveria padecer esse processo por uma questão de justiça e de isonomia. Ou disfarçado de conselho, exorto que é uma punição de caráter perpétuo promover a permanência dessa vítima numa era de trevas sem os "benefícios" (e malefícios) da modernidade. Tratam-no como um bicho que pode fazer tudo irresponsavelmente, fazendo de escudo sua cultura ancestral em face de atos que qualquer um seria condenado, ainda que a defesa alegasse ser uma "tradição da família".

É, ante o exposto, perfeitamente viável, aceitável e aconselhável que o ele conheça o mundo em que vive. E que viva pelas regras do Estado como todo cidadão, porque não deixa de ser índio aquele que deixa de ser ignorante da realidade que o cerca.

segunda-feira, setembro 03, 2007

Moralidade faz bem

Já que os navegantes do Google em busca da PEC 54 sempre aportam nesses mares, façam o favor de contribuir com o abaixo assinado:






Nome: _______________________ Identidade: ______________________ Ir para o formulário
Este abaixo assinado será enviado à Câmara dos Deputados onde estão tramitando duas PECs (Proposta de Emenda Constitucional) com o objetivo de efetivar 300.000 servidores públicos que não fizeram o concurso público determinado pela constituição federal.
Você pode enviar também sua mensagem de protesto para: ouvidoria.parlamentar@camara.gov.br



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