domingo, janeiro 28, 2007

E quem disse que Marx era marxista?

"Só os incautos poderiam acreditar que o presidente algum dia cedeu aos flertes do marxismo. Lula já rejeitava o marxismo em seu discurso de posse no Sindicato dos Metalúrgicos, em 1975. Ele disse literalmente que 'parte da humanidade havia sido esmagada pelo Estado, escravizada pela ideologia marxista, tolhida nos seus mais comezinhos ideais de liberdade, limitada em sua capacidade de pensar e se manifestar'.
(...)
A herança de Marx não diz respeito à teoria econômica comunista ou a seu socialismo científico. Ambos produziram enormes desastres econômicos e sociais. Refiro-me ao legado antropológico, à idéia de que o homem se faz pelo trabalho. O velho Karl constatou, antes mesmo do surgimento do mercado, que a liberdade e a igualdade são incompatíveis. Que o homem livre naturalmente produz a desigualdade.
"




O que é a ditadura da urna? Alguém que sobreviveu ao "espírito de vingança de 1988", por ele assim definido o constituinte de 1988, tornou-se um dos mais chegados a Lula nos dias de hoje, mesmo derrotado. E se "O mundo anda tão complicado" era o que Renato dizia em 1991, imagine o que ele diria hoje?

quarta-feira, janeiro 24, 2007

Farewell, Fulniôs

Ferozes feiticeiros forasteiros, feitores do fogo,
A fim de ferir fatalmente os já feridos filhos da floresta,
Por ela fincavam finas facas de ferro e ferrugem.
A ferro e fogo foram fraquejando.

Foi-se o frívolo e fútil falar, o fingido favor,
O futuro fora furtado por falsos feitios.

Felizes e fartos, fortes e formosos,
Filhos e filhas, feitos em fumaça.

sábado, janeiro 20, 2007

Computadores empregam gente e cortam roupa como ninguém

Ok, ok... sei que tô queimando meu filme, mas tá aqui, entalado na garganta.

Eu entrei aqui na loja como boy. Rá! Nada de Office boy... era "boy" mesmo: "Ô boy, faz isso!", "Ô boy, faz aquilo!", "Ô boy, vai ali (no cafundé do Judas) e traz um (mundo de) troço pra cá que tá faltando!". Pois é... aquela "moleza" de vida que é ser pau-mandado de todo mundo, mas eu aprendi que todo mundo quer duas coisas: ser ouvido e ouvir o que lhe agrade. E foi por aí que passei a entregador, motorista, vendedor e gerente. Bem... não foi exatamente só com lisonja. Precisei pensar também como sexista, racista, socialista, crente, ateu... sabe como é... "o cliente tem sempre razão", mesmo quando ele é o meu supervisor ou quanto tenho que convencê-lo que na verdade o que ele está querendo/pensando é outra coisa, diferente do que ele está me dizendo (e que não há a menor condição de suprir esse pedido dele).

Também sei pegar os melhores clientes. Por exemplo: se você vê uma senhora bem humilde olhando uma máquina de costura. É fatal: ela quer a máquina, veio do interior e já está com o dinheiro na mão – vai pagar tudo à vista ou já se programou toda pra quitar tudo ligeiro. Agora, se for uma grã-fina com um celular microscópico na mão do tipo "faz tudo", é dor de cabeça na certa: o produto dá defeito na primeira semana de uso, quer um instrutor particular, misteriosamente aparecem riscos e o produto deve ser substituído por um novo, um inferno por pelo menos 90 dias. Cada setor tem suas regras: o de informática com garotos insandecidos e pais que não entendem patavina do que falam; o de móveis cheios de gente recém casada/juntada/amigada; o de eletro-eletrônicos com seus curiosos que nunca compram nada e precisam saber o que cada tecla do controle faz e etc.; aqui e acolá tem alguns diferenciais, mas no geral, pobre paga melhor do que rico, só que a gente tem que arriscar também, né? Porque quem tem mais grana pode, vez em quando, garantir uma comissão mais gorda.

Sim, mas do que eu tava falando mesmo? Ah! Sim! Que raiva! Ó, é que eu cheguei num ponto que só consigo promoção se me casar com a filha de alguém, porque daqui pra cima só tem parente do dono e não dá pra disputar a minha palavra contra a de um primo/afilhado/irmão do Poderoso Chefão. Principalmente quando seu retardado genro, do nada, mostrou ontem à noite um projeto de expansão do setor de vendas idêntico ao que eu iria apresentar esse sábado, com o mesmo público-alvo e até meus próprios dados estatísticos.

E o canalha ainda me chamou no canto, agorinha mesmo, perguntando o que ele poderia considerar como "micros de fundo de quintal" que ele tinha lido num "artigo" de uma empresa de negócios e tal. Tô correndo o risco de perder o emprego – que se dane! – tive que mentir. Disse que eram computadores. É um imbecil...

quinta-feira, janeiro 18, 2007

History just like His (love) story

Alguns poderiam chamar de "Máquina do Tempo". Eu chamo de "Livro de História 3D".

A idéia inicial era realmente ter feito uma máquina que me fizesse experimentar a vida através das eras, mas depois de ter trabalhado tanto tempo nesse dispositivo, tudo o que consegui foi alterar minha estrutura, capacitando-me atravessar para onde desejar.

Infelizmente, onde quer que eu salte, mantenho meu estado, mesmo quando me desligo do aparelho. Já até experimentei desligar o dito cujo e tudo o que consegui foi ser arremessado para o ponto de onde parti. Não dá para interagir com nada, mas é até legalzinho ver o passado, o futuro ou mesmo o presente em algum outro lugar. A única coisa ruim é que, para voltar a interagir com o mundo, tenho que voltar ao ponto de onde parti. Acredito que estou preso na minha "linha oficial" do tempo.

Percebi que assim como não posso mudar o passado, também não posso mudar o futuro. Toda ação é inédita. Não existe um recomeço. A nova chance é tão nova e diferente quanto a anterior – algo que eu já tinha percebido quando recomecei a namorar Anna "do zero" – só conheço o caminho percorrido e os botões que já apertei, assim como as cicatrizes que ganhei.

terça-feira, janeiro 16, 2007

Quem Controlará os Controladores?

Requintes de crueldade é um jargão bastante comum para designar a execução em que o autor pratica um crime impondo sofrimento ou sujeitando a vítima à humilhação desnecessária.

Como exemplo, imaginemos que alguém invada a moradia de uma pessoa de conduta duvidosa com o propósito de praticar justiça com as próprias mãos. Convencido de que já está condenado, pede que seja executado por meio de fuzilamento – uma morte digna para um soldado que cai nas mãos do inimigo –, mas lhe é negado. Então o carrasco prossegue com seu teatro de "justiça" e o executa de forma que na morte seja ofendido e humilhado, morrendo como um traidor, através da forca.

segunda-feira, janeiro 15, 2007

O Problema e a Solução do Brasil e do Mundo

Na próxima eleição já sei em quem votar: no editor-chefe da Veja. Ele soluções para tudo: violência, crime e problemas ambientais. Será que ele é parente de Jack Bauer?

quarta-feira, janeiro 10, 2007

Baby, I'm just moving on

A Internet tem sido um campo fértil para empresas ganharem dinheiro de outras empresas oferecendo serviços gratuitos para nós, consumidores*, no intuito de, basicamente, transformar-nos em "outdoors" ou expor-nos à propaganda.

No Brasil, mesmo oferecendo serviço gratuito, essas empresas são civilmente responsáveis, ainda quando aceitamos termos e contratos com cláusulas que afirmem o contrário. E ao que não tem dinheiro sobrando para cassar essas cláusulas leoninas ao redor do planeta o que resta?

A Revolução Industrial ocorreu no século XVII e os primeiros movimentos envolvendo consumidores se deram apenas no fim do século XIX. A Revolução Virtual iniciada na última década percorrerá o mesmo caminho?

Os primeiros movimentos foram bastante tímidos. Eram movimentos de opinião. Num paralelo com o presente, limitava-se em dizer coisas do tipo: "gosto da empresa Protopage, que oferece um excelente serviço que me serve muito bem" ou "não gosto da empresa CJB, que oferece um serviço limitado e custa tolerar banners inconvenientes e desproporcionais".

Era um período de auto-regulamentação, quando as empresas começaram a perceber que, além do produto competitivo, precisavam preocupar-se com a opinião do consumidor, enquanto este dizia coisas que, aos dias de hoje, seriam algo como: "quem usa o link http://skopein.cjb.net troque por http://www.protopage.com/skopein antes que seja desativado".

Às vezes, ao tentar ver o mundo de outra forma, só conseguimos enxergar o passado.


*Nem acredito que estou defendendo consumidores.

domingo, janeiro 07, 2007

Exceção de Incompetência Territorial

Sem o mínimo constrangimento a consumidora gritava "eu conheço os meus direitos". A situação em que ela se encontrava era bastante confortável: já tinha feito excelentes acordos no Juizado do Consumidor e era notório que aquela lojinha não tinha um escritório de advogados que a fizesse mofar por meses entre recursos e embargos. Conhecia o caminho das pedras. Seriam duas audiências, no máximo. Isso se a gerente não fizesse uma boa proposta ali mesmo, o que parecia bem provável acontecer.

Contudo, como fazer valer o direito brasileiro num mundo globalizado? Sorry, mi chiquitito. Pior, como fazer valer o direito local, estando, nós mesmos, afastados centenas de quilômetros do país onde ocorreu a lesão senão contratando um defensor daquele lugar? A verdade é que, para a grande maioria da população mundial, "O Direito" é algo que beira o intangível.

Um bom exemplo disso foram os casos de indenizações do acidente do Fokker da Tam: quem tinha condições econômicas para processar as fabricantes do reverso da turbina, as empresas americanas Northrop e Teleflex – 65 das 99 famílias das vítimas –, foram para a Justiça americana e conseguiram indenizações entre US$ 500 mil (R$ 1 milhão) e US$ 1,5 milhão (R$ 3,2 milhões); os demais – as outras 34 famílias – fizeram acordo com a TAM receberam cerca de US$ 145 mil (R$ 310 mil) cada uma. (Fonte: Isto É)

Fugindo da discussão se a Justiça é ou não universal, o Direito é, eminentemente, local. Mesmo as convenções internacionais, para tornarem-se eficazes em cada país ratificador, devem ser transformadas em lei local. Respeitar essa soberania jurídica num mundo virtual sem fronteiras tem sido um grande exercício de abstração. Afinal de contas, aonde ocorreu a lesão? Em que lugar do planeta o servidor está instalado? Existe a mesma proteção legal naquele local para que se possa dizer que houve "infração"?

O direito brasileiro tem uma solução pouco eficiente para "hoje": o local da última ação ou omissão no Brasil. Isso, na grande maioria das vezes, não nos atende mesmo quando se trata de um infrator nacional. E quando o infrator é um chinês com um IP registrado por uma empresa alemã e com um servidor rodando em Papua-Nova Guiné?

O Tribunal Penal Internacional tem uma esfera de ação muito reduzida e não existe um Tribunal Civil Internacional. O que existe é uma grande lacuna nessa terra virtual, onde o caos só não impera porque a grande maioria dos usuários tem bom senso.