quarta-feira, março 28, 2007

To Do List (In God Mode)

– Arrumar um emprego de verdade
– Aumentar a rotina de estudos
– Conhecer a Europa como mochileiro
– Encontrar um bom livro de Direito Empresarial
– Entrar no mestrado
– Matricular no alemão e no italiano e esquecer (por ora) o japonês
– Ser um bom marido
– Ser um bom pai
– Terminar as aulas de Libras
– Terminar de assistir Battlestar Galactica, Dead Zone, Heroes, Lost, Smallville e Veronica Mars
– Terminar de ler os livros de Arthur Conan Doyle, Douglas Adams, Homero, Platão, e Tolkien
– Terminar Max Payne II e Warcraft III
– Terminar o curso de Kite e de Widsurf
– Voltar a acampar
– Voltar a controlar os gastos com o GNUCash
– Voltar ao ministério
– Voltar ao projeto do manual do CDC para pequenas e micro empresas
– Voltar a surfar de verdade


Em ordem alfabética, just for the fun of it.

quarta-feira, março 21, 2007

Travessia

Todo mundo conhece a fama das faixas de pedestres em Brasília. Independente de semáforos, pedestres conseguem parar o motorista mais apressado com um simples passo.

Depois de muita multa e guardas estrategicamente posicionados nas faixas de João Pessoa, hoje posso calcular o espaço para frenagem, acenar e cruzar ao som de xingamentos de nossos obedientes motoristas.

Todavia, a aventura mora em Curitiba (aonde passei esse fim de semana). Aproveitei para usar as faixas sulistas. Fui advertido que as únicas confiáveis eram as dos semáforos vermelhos, 10 segundos após fecharem. Pensei: "ok, estou acostumado a motoristas que cruzam sinais amarelos". Enquanto eu esperava, duas senhoras conversavam sobre um acidente com um biarticulado: "...foi criança pra tudo quanto é lado. Ainda bem que a babá não resistiu, não quero nem imaginar o que a família faria com ela...".

"Vermelho! 1, 2, 3, 4, ... ,10. Ok!" – cruzei são e salvo. Olhando para trás, vi um senhor lento demais. Fui socorrê-lo. Tomei-o pelo braço e seguimos. Já estávamos quase na metade quando abriu. Buzinas berravam à nossa esquerda e na segunda faixa os carros já passavam à 80. "Como dizia um antigo filósofo: Retroceder nunca, render-se jamais. – Avancemos, vovô!". Não sei se a melhor escolha, mais foi assim que consegui fazê-lo andar.

O problema foi ao chegar exatamente no meio...

Ambas as vias ventavam sobre nós e por pouco um automóvel não levou meu aceno que teimosamente tentava convencê-lo a parar. Dois longos minutos se passaram até o semáforo garantir nossa passagem pela Sete de Setembro.

"Vovô, coragem, só falta a pista do biarticulado e mais outra dessa. O senhor também vai ao Shopping Estação?"

Ele disse "sim".

segunda-feira, março 12, 2007

Sombras de Platão

Minha primeira experiência marcante com o cinema foi sentado num tamborete de madeira. Meu avô tinha tubos de desenhos, em sua grande maioria do Pica-pau. Assisti a dezenas deles na parede do fundo de sua garagem. Sem fazer muito esforço, consigo lembrar do barulho do projetor, daquele "tec-tec-tec" do filme passando. Assim como das chicotadas que a película dava no projetor no final do rolo. Daí, vovô seguia a colocar o próximo dizendo: "você não pode ligar a lâmpada com a máquina parada, senão queima a película".

O tempo foi passando e assisti a um longa que não sei se era triste. Nele, vi salas gigantescas reduzindo o tamanho, e centenas de acentos pouco anatômicos transformando-se em algumas dezenas de cadeiras super-confortáveis. A tela continuou diminuindo. O número de cadeiras, reduzindo. Quando percebi, a tela era meu monitor e eu estava sentado na única cadeira disponível.

Noutro dia, sentado num sofá ultra-acolchoado, assisti na parede do fundo da sala de um amigo a um filme que não me traz nenhuma lembrança, exceto a sensação do som fluir por todos os lados e vibrar nas paredes do meu estômago cheio de pipoca e coca-cola a cada explosão. Não havia nenhum "tec-tec-tec" e, ao final do filme, não ouvi som de nada estalando. Apenas apareceu uma tela branca e, no topo direito, uma seta informando "eject". Meu amigo tirou o disco do aparelho com tanto descuido que, se meu avô tivesse ali, certamente daria-lhe bronca.

Nessas décadas, imagem e som vêm aperfeiçoando a experiência do cinema, mas, diferente do que pensava meu avô, a coisa mais sagrada não é o objeto corpóreo. Ele sempre foi para mim um pretexto. Era um motivo para que tivéssemos alguma coisa em comum. Compartilhar de uma companhia inestimável assistindo a cupins marcianos serem transformados em apontadores; ou conversar sobre a impressão que tivemos ao ver uma caveira flamejante desrespeitar o devido processo legal.

terça-feira, março 06, 2007

Os puxões de orelha de dona Lissandra

Minha bisavó casou com 16 anos. Criou seis filhos dos oito que teve. Não se abalou com o natimorto, nem com o que morreu com três semanas, vítima de infecção. Nesse tempo não se tinha muito o que fazer da vida. Era estudar, trabalhar, casar, criar os filhos e morrer em paz. Sabendo que não me veria mais, aproveitou minha visita e confidenciou-me: "Fui feliz com seu bisavô por 73 anos. Certa feita, ele me preparou um jantar a luz de velas para comemorar nosso aniversário. Quando ele foi me beijar, subiu uma labareda da gravata. Ainda me pego sorrindo com essa lembrança. Sempre tive que tomar conta daquele menino desastrado. Você puxou a ele – não sei como continua solteiro – preciso encontrar alguém para cuidar de você! Perca tempo não. Seja feliz."