quarta-feira, novembro 21, 2007

Hiperfoco

Depois de uma enxurrada de exames, não sabia se se sentia mais aliviado ou mais apreensivo.

Tirara 125 no teste de Quociente Emocional. verificou-se que tinha facilidade em perceber as emoções de outrem e solidarizar-se com o sentimento alheio, por outro lado, tinha dificuldade de expressar as suas próprias. Dificilmente conseguia dizer ou mesmo compreender o que sentia.

Marcou 140 no teste de Quociente Intelectual Clássico (o máximo da escala) e por isso fez um seguinte mais detalhado. Nesse último fez 152 com capacidade lingüística e matemática equilibradas, tinha jeito com o reconhecimento de padrões para prever o que viria, o que o aproximava de Benedito Spinoza e Platão.

Nunca estivera diante daquele tipo de profissional e sempre tivera a imagem de Freud mudo anotando num caderninho enquanto o paciente falava tudo deitado num divã. Tanto os resultados quanto o discurso daquela psicóloga eram tudo uma grande novidade. E a ela continuava a falar. E ele, profundamente angustiado, seguia escutando calado.

Ignorar seus sentimentos, não era saudável. Aceitar quem era, com todos os limites e habilidades era imprescindível para sua felicidade. Não possuía uma inteligência convencional. Deveria valorizar isso. Sua mente gosta de ser desafiada, de investigar, de desvendar, de esmiuçar...

Naquele mar de palavras, já não as ouvia, senão ondas sonoras estourando na praia dos seus ouvidos. Fitava aquela Compactor azul com 2mm de tinta gastos batendo a ponta esferográfica no meio da folha A4, presa à prancheta sem marca de fabricante visível. Cerrou os olhos. Censurou a visão e o pensamento. Via-se como uma aberração da natureza. Um ser incapaz de fazer as banalidades que qualquer idiota faria no seu cotidiano e, por isso, cria ser ainda inferior a um imbecil. Era um incompetente de marca maior.

quinta-feira, novembro 01, 2007

Bilhetes

Prefiro andar na chuva e correr no sol.
Porque preciso entrar no clima para curti-lo.

Prefiro o tato, o olfato e o paladar.
Porque a vista e a audição sempre foram limitadas e muito pouco confiáveis.

Prefiro o prazer depois do dever.
Porque, doutro modo, o prazer tende a transformar-se em culpa.

Prefiro controlar as palavras e libertar o impulso.
Porque dificilmente um impulso meu afligirá tão profundamente quem amo.

Prefiro escrever a jogar pensamentos no ar.
Para ver se impeço que as urgências administrem minhas preferências.
E, quem sabe se relendo várias vezes, eu pare de repetir os mesmos erros.