terça-feira, março 21, 2006

O Abismo

Bel fotografava por instinto, via que dava uma boa foto e tirava.
Cris escrevia como quem cantava, costumeiramente em guardanapos.
Jô pintava em êxtase, ria, chorava, dançava com o pincel e a pasta.
Fê tirava música de coco, de lata, de pedra, tubo; batia, riscava, soprava.
– Bando de vagabundo – dizia o pai – ter quatro que não prega um prego numa barra de sabão só me dá desgosto.

Depois de muitos verbos, adjetivos e estilhaços no chão.

Bel virou assistente de cozinheiro.
Cris conseguiu ser recepcionista dum hotel.
Jô foi trabalhar com o pai no mercado.
Fê... foi-se por aí, a mãe que sabe, diz que é auxiliar de escritório, na Capital.

Depois de muito silêncio e poeira.
Só silêncio e pó restaram.

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