segunda-feira, março 06, 2006

Só um Y de diferença

A porta bateu com uma força que os vizinhos dos dois andares (os dois de cima e os dois de baixo) devem ter escutado. Se bem que ela só pensou nessa vergonha muito tempo depois. Na hora, o que ela menos queria era exatamente o que estava acontecendo: ele estava saindo dali explodindo de raiva e sem querer conversar.

Lá embaixo, cantam os pneus. Não resta mais nada a fazer além de tentar dormir. Até que tentou, mas o sol começava a levantar mostrando seus olhos inchados.

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Qui-qui-qui infeliz! Tem quem agüentasse aquele lenga-lenga? Mal podia esperar para chegar em casa e dormir. Hoje o dia tinha acabado. Não tinha remédio. Amanhã ele estaria novo do novo.

Chegou em casa e dormiu feito pedra. Levantou-se e já era tarde.

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A última pessoa que ela esperava estava tocando, às 10h numa manhã de domingo, no interfone. Agora que ele quer conversar? Depois de ter criado uma noite dos infernos?

Lavou o rosto, trocou de roupa, tentou ficar na melhor aparência possível. Não iria ficar por baixo. Ensaia aquela cara de "agora?!" (com muito desdém). Abre a porta e se depara com uma cena insólita. Ficou na dúvida se o noivo tinha enlouquecido desde ontem ou se tudo não passava de uma brincadeira sem graça.

Ele, que estava com ambas as mãos atrás das costas, puxa a primeira e mostra uma colher, puxa a segunda e mostra um pote de sorvete de sonho de valsa, e emenda lembrando-a que, num dia de "juras eternas", ele tinha apostado um pote do sorvete preferido que ela nunca seria capaz de deixá-lo com raiva.

Ela ainda queria conversar. Ele já nem lembrava porque tinha ficado com raiva, mas já estava preocupado se o congelador iria manter o sorvete duro.

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