Dia dos Namorados
Quando o especial vira normal, ninguém mais comenta. Hoje, assim como no dia do seu aniversário, D. Rosally receberia um buquê, uma caixa de chocolates finos e um cartão anônimo apaixonado. Uma tradição que começara no ano que ela se separou do marido e, até aquele dia, nunca tinha falhado. Mas o povo da repartição estava comentando: já era quase meio-dia e nada. Provavelmente o infeliz descobriu quem ela era realmente e desistiu – nem os amantes desconhecidos suportam a alma amarga de uma mulher! Vá lá que a natureza não tinha sido tão generosa com ela, nem ela mesma tinha sido tão cuidadosa para realçar alguma virtude que suavizasse a atmosfera que a cercava, a verdade era essa: ninguém quer pagar todos os pecados enquanto está vivo! Ele também se foi, era o que o povão comentava.
Toca o telefone tinha que ser para Rosally, e era. Ah! que decepção... que decadência... De flores, bombons e poesias à tele-mensagens? Que brega! Assim que a chamaram, saiu do Arquivo com passo curto e apressado para atender a ligação da "Floricultura Santo Antônio". Quem não estava acostumado com o sorriso naquele rosto, achou que o recado tinha tocado mais mulher do que todo perfume, sabor e declarações dos presentes anteriores – com um sorriso tímido atendeu e com um radiante desligou – foi o que se achou, até ouvir de outro espírito-de-porco da repartição, D. Leda, que, na extensão, ouviu a ligação do funcionário da floricultura informando que o número do seu cartão estava bloqueado.
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