Frio cortante
A distância entre duas pessoas deitadas é inversamente proporcional à vontade de uma de ser tocada pela outra durante a noite. Porém, em horas de silêncio, sono e um frio de 10ºC, com uma teimosa corrente de ar cruzando aquele leito, ânimos podem mudar. Essa era a única explicação para que a mão direita dela saísse do quase confortável calor de suas pernas e percorresse lençóis gelados em busca do peito e do abraço do seu marido. Entre a sonolência e o frio, seu braço foi deslizando na cama, esticando-o por completo, forçando-a a acordar um pouco e girar o seu corpo mais à esquerda até que dispara o pensamento que a acorda definitivamente: ele não está ali. Mergulhou numa imensidão de pensamentos, revendo a briga, as palavras ditas, as não ditas, as insinuações que lhe irritaram tanto, mas sobretudo a indagação sobre se o que ocorreu naquela noite era motivo para não estar deitado. Levantou-se. Tinha que procurá-lo.
Saiu percorrendo a casa no escuro: quarto, corredor, cozinha, sala. Quando viu que o monitor iluminava o escritório. Como uma gata, foi se aproximando e chegando à porta, onde ficou imóvel, esperando (só Deus sabe o porquê) ser percebida. Um, dois, três eternos minutos e o cego continuava vidrado naquela tela, lendo qualquer coisa menos importante. Pensou em fazer algum movimento ou barulho. Não! Ele tinha que notar. Cansada, mudou de posição e recostou-se novamente na ombreira da porta, quando ele finalmente com um susto a viu.
Que susto enorme! O que fazia acordado a essa hora? Insone? Às quatro da madrugada? Lendo "umas coisas", um pdf? Ele tinha o irritante costume de responder de uma forma que parece que nada aconteceu... só na sua cabeça! Balbuciou duas palavras e voltou ao quarto ouvindo-o prometer voltar à cama logo.
Deitou-se no seu lugar já frio. Buscando o sono, sem querer esperar muito por ninguém. Ele não vem nem tão cedo. E quando vier? Procuraria seu calor? É um idiota mesmo...
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