terça-feira, dezembro 30, 2008

Prática

Participou de todas as confraternizações e festas: a do trabalho, a da turma da faculdade, a dos amigos do colégio, a da família do pai, a da família da mãe e uma outra que nem sabia porque tinha sido convidada. A seqüência de eventos era mais ou menos a mesma: beijos e abraços em todos a medida que vinham chegando, conversas, bebidas e comidas, mais conversas e mais beijos e abraços em todos a medida que iam se despedindo.

Pensou firmemente que o que precisava era de alguém que não precisava ser muito bonito ou sarado, mas que a fizesse brilhar os olhos, que lhe desse uma vontade incontrolável de sorrir ao vê-lo e que a desejasse extasiada a cada bobagem que fizesse. Queria muito isso para si.

No último final de semana, foi a um sítio de uma de suas tias para receber uma outra tia, muito querida, que já não vinha por aquelas bandas desde sua colação. Conheceria, finalmente, Pedro e Júlia, seus primos mais novos. Além das tias, pai e mãe, muito barulho, gritaria e correria provavelmente iriam impedi-la de continuar sua leitura, por mais interessante que seu livro estivesse, mesmo assim o levou para salvá-la de qualquer eventualidade.

Em algum lugar, e ao mesmo tempo em todos os lugares da casa, enquanto Pedro e Gabriel corriam na velocidade que eles acreditavam ser a da luz, podia também se ouvir:
– Pitchiuuuuuuuuuuu!
– Bombaaaaaaaa!
– Matei!
– Eu não morri! Estou usando roupa de ferro!
– Então eu também estou.

Em duas redes não muito distantes:
– O que é isso que está na mão deles?
– Walk-talk.
– E isso agüenta esse rojão?
– Tia Liz vai descobrir depois que ela comprar baterias novas.

Júlia, que não conseguia acompanhar a velocidade da luz dos primos, somados aos três anos que a separavam deles, cansou-se rapidamente daquela monótona perseguição. Dirigiu-se a uma rede que já estava ocupada por alguém com pelo menos trinta anos de diferença. Agarrou-se à rede e tentou vigorosamente lançar uma perna por cima da rede, em vão, mas não por muito tempo, já que foi socorrida pela ocupante.

– Cansou, Ju?
– Sim – disse, balançando a cabeça.
– Quer fazer alguma coisa agora?

A pequena foi curvando-se na rede sobre o corpo da maior, abraçando seu pescoço até onde seus curtos braços alcançavam. Colocou o ouvido sobre o seio do seu forro-humano-de-rede e ficou ali, paradinha. O "não", veio como um murmúrio.

– Quer dormir comigo, Ju?

Júlia acenou positivamente a cabeça. Como se toda sua energia tivesse abandonando o corpo, ou como se já estivesse testando a maciez daquele colchão que descobrira na prima mais velha. O colchão, por sua vez, entendeu e silenciou-se, no exato momento que começou a reformular aquilo que firmemente achava que precisava.

sábado, dezembro 20, 2008

Costume

A sensação era desagradável. O eminente fim de ano chegando com festas, presentes e comemorações não combinavam com a consciência de que o tempo lhe escapava das mãos. A despeito da evolução alcançada profissionalmente, de tudo que suportara na reabilitação da saúde, de como tinha chegado até ali. Os alvos não alcançados tinham uma voz muito mais alta na sua auto-crítica.

Tal como papai-noel, já acostumara-se a vestir a fantasia do espírito natalino. Decorara os votos, conversas e piadas de fim de ano. Acendia o brilho nos olhos e dispunha o melhor sorriso nas festividades. Já lhe era tão natural aquele esforço, que só lembrava do peso do costume quando chegava em casa, nem por isso correria da festa. Chegar em casa também significava estar só e isso também tinha sua dose de cansaço.

Fingir-se-ia de bem com a vida. Quem sabe não acreditaria na sua própria encenação?

segunda-feira, dezembro 08, 2008

Cãibra

O azul anil do céu lá fora e as centenas de pássaros chilreando nos galhos do jambeiro não combinavam com o branco azedo dos lenços de papel que transbordavam pelas bordas do cesto.

Ainda reverberavam nos ouvidos: "estás magra". O que, por intuito sincero do amigo, seria um elogio, era, na verdade, a constatação da sua incapacidade de digerir aquele instante, os pratos da mãe, o rompimento da relação, os consolos idiotas... Quem sabe se, por não comer, desapareceria do mundo?

Descendo uma onda, há pouco mais de 10km daquela cama, não havia nenhum prazer no velô. Cut-back, 360º, ARS... Tentava destruir a onda com a prancha. Não conseguia – e nem queria – curtir o momento. Inconscientemente queria levar o corpo à exaustão, talvez assim pararia de pensar nela.

A cena ainda estava viva na mente, reproduzindo continuamente. Ela tinha sido grossa com ele. Ele tinha se chateado, mas queria por as coisas em pratos limpos. "Desculpe, mas eu sou assim. Esse tipo de coisa a gente não controla. São hormônios e não há nada que eu possa fazer". O tom da voz, o olhar vil, os braços cruzados... não saberia dizer o que o ofendera mais. Queria paz. Queria voltar a sentir prazer no borborinho da espuma das ondas.

O orgulho, travestido de amor-próprio, impediu a ambos que ligassem.

quarta-feira, novembro 26, 2008

Uma noite ela me disse "quero me apaixonar"

Número desconhecido chamando. Numa hora daquelas, só poderia significar duas coisas: ou um cliente em apuros, ou engano. Torcendo para que fosse a primeira hipótese, que também significava dinheiro, atendeu.

Errou.

Ele reconheceu-a imediatamente na saudação: um "olá!" festivo de três segundos de duração, e que se seguiria com desculpas por estar ligando àquela hora e por não ter avisado-o que mudara o número. Desculpas que era apenas o cumprimento de convenções sociais. Tudo que ela queria, era saber se ele estava disponível e revê-lo.

A partir dali, não haveria hipóteses, nem erros. Já sabia como a conversa seguiria e aonde terminaria.

Era sempre assim, de tempos em tempos, nesses últimos nove anos. Nada mudou quando ela teve Léo, nem mudará quando ele contar que é pai de Bia.

domingo, novembro 23, 2008

Epíteto

Depois de três anos trabalhando no fórum São João do Rio do Peixe, Lindalva finalmente estava satisfeita com o rumo que sua vida havia tomado. Passaram sete meses e meio, desde o dia que o viu entrando no saguão do hotel onde morava até o dia que entraram juntos no cartório de Cajazeiras para assinar os papéis do casamento.

Nem foi muita surpresa para a família de Clodoaldo ao descobrir que casaria com sua primeira namorada, o que espantou também não foi a velocidade de sua resolução, mas sim que a escolhida também era, como ele, promotora de justiça. Apenas oito meses após a nomeação e lotação para São José de Piranhas, o danado já queria constituir um lar.

Lindalva não era linda, nem era alva. Na verdade, nem era Lindalva. O que parecia nome era um apelido dado pelo pai, por ocasião da decisão, em sede de liminar, dos alimentos provisionais na ação de reconhecimento de paternidade. Em vão tentava o pai provocar a filha com a alcunha. E, quem sabe não tinha sido por causa desse evento que ela descambou para o Direito e carregou consigo aquele nome.

Entre uma assinatura e outra, tudo havia passado. Estava até se acostumando a ser chamada pelo apelido do apelido. Dalva soava muito bem. Tão bem quanto Aldo. E que nunca descubram o quanto ela achava que seus sogros tinham mau gosto para nomes próprios.

quarta-feira, novembro 19, 2008

Percepção

Quando não se pode ver,
Quando não se pode ter,
Saudade sentir para quê?
– Para o idiota sofrer.

quarta-feira, novembro 05, 2008

Despachando com o Juiz – Viva o bom senso!

– O pedido principal, a retirada do nome da empresa do Serasa, não foi consignado no acordo, Vossa Excelência, apenas o valor dos danos materiais e morais. Daí eu pergunto: terei que entrar com novo processo apenas para resolver isso?
– Não! Verei o seu processo... por favor, o senhor anote o número... que, com um despacho, posso resolver nesse mesmo processo.
– Muito obrigado.
– O senhor fez uma petição a esse respeito?
– Fiz sim. Também juntei a certidão comprovando o alegado.
– Outro processo pra resolver isso!? Eu tenho dois mil do eletrônico e outros mil remanescentes do físico, quero acabar com esse acúmulo no começo do ano que vem.
– Amém!

sexta-feira, outubro 31, 2008

De acordo

Milhares eram os fios ao vento, dançavam nas correntes de ar, batendo asas na maresia.
Ariscos como a dona – seriam eles ou ambos que me seduziam ao seu lado?
Recatados em nada os cabelos, ela sim, ou não, conforme a maré, ou o dia, ou a noite.
Imagem pitoresca que não me sai da memória:
Andando na praia, deliciando-se com a brisa e com o sol das oito já quente.
Naquele instante, só havia ela, ou seria o caso de uma visão seletiva... não sei.
Ali só havia o mar, um calçadão de areia, uma película d'água cobrindo-o e seus pés neste tapete desfilando.

Tem horas que o mar, o sol, a praia encantam-me os olhos.
Esta não era nenhuma dessas horas.

Caminhei com ela, sem sentir a distância
Um momento, sem a dimensão do tempo, cheio de conversas.
Rimos como nos primeiros dias, olhava-a como naquela festa.
Todo dia é bom para se apaixonar, não é?
O bom é que seja pela mesma pessoa, não?

sexta-feira, setembro 19, 2008

Entre borboletas e golfinhos

– Boa tarde.
– Pois não?
– Queria ter informações sobre as aulas de natação.
– É para o senhor? Sabe nadar pelo menos três estilos?
– Bem... Eu sei nadar dois: chumbinho e cachorrinho.
– O senhor vai ter que vir um dia para fazer uma aula de teste.
– Brincadeira minha. Precisa não. Eu sei nadar os quatro estilos, sim.
– O senhor vai ter que fazer o teste. Só depois vamos saber se lhe colocamos com os iniciantes ou com a turma avançada.


Nota pessoal: Se a pessoa tem cara de chata, é possível que ela realmente seja chata – melhor evitar piadas.

segunda-feira, setembro 15, 2008

Clips

Há tempos não via mais de um palmo de sua mesa. Coberta de papéis, recibos, fotocópias, pilhas e pilhas de tranqueiras, aquele deixou de ser um lugar para receber pessoas.

De súbito levantou-se. Começou a pegar cada papel. Aumentou o volume do som. Examinava um a um e colocava num ponto no chão. O ar estava inundado com música e o chão coberto de pilhas menores de papel. Entre um passo ou outro de dança, uma folha voava rumo ao cesto de lixo, as demais descansavam em seus respectivos lugares.

Era um processo de libertação.
Ou de transformação.
Pouco importava.
Era bom e isso bastava.

segunda-feira, setembro 01, 2008

Segunda-feira, à noite

Exausto... Tudo que eu queria era chegar em casa, dar uma olhada no saldo e vê-lo gordo. Bastava isso: não ter que me preocupar mais com esse dinheiro suado. Que fadiga... Pensam que a gente não trabalha. Só queria ouvir "bom trabalho, gostei", em vez daquele sorriso amarelo de quem foi atendido, mas queria que fosse de graça. Tão cansado... Ombros doem, pescoço dói, calcanhares doem... Preciso de um banho, não, de uma hidromassagem. Passar meia-hora lá com um jato de água nas costas e nos pés. Na verdade, acho que queria uma namorada. Alguém que fosse companheira, com quem pudesse dividir a carga. Tão carente... Queria um colo, um cafuné. Só isso.

sexta-feira, agosto 08, 2008

A vida, o bolo e tudo mais

Já aprendi que por nada no universo devo atirar a toalha, todavia confesso que estou muito intrigado com esse costume terreno do aniversário.

Falando em termos locais, independente de que momento a pessoa tenha nascido, a cada volta que seu planeta natal dá em torno do sol (o que acontece em aproximadamente 365 dias, 5 horas, 48 minutos e 46 segundos) é, nesse dia, celebrado o aniversário da pessoa. Vale como data festiva todo o período de 24 horas que engloba o instante do nascimento, pouco importa a posição espacial do planeta. Aliás, há quem que até se importe com essa configuração, mas não como deveria. De fato, tenho que o que se comemora é o dia, no caso de hoje, seria 08/08/08.

O que se celebra é outro problema. Duas frases comuns são "feliz aniversário" e "parabéns pra você". Ambas são carentes de um significado que revele esse mistério do festejo.

Aparentemente, parecem ser congratulações por se ter completado mais um ano de vida. Algo como "meus parabéns, você conseguiu escapar da morte por mais um ano inteiro". Pela minha experiência, tenho uma vaga idéia de quantos perigos um indivíduo pode ter escapado e vencer essa perseguição da morte pode ser considerada uma vitória, motivo de muitos parabéns. Entretanto, cá comigo, o fato de sobreviver não é exatamente um motivo para parabenizar. Não consigo imaginar estar nos escombros de uma nave que perdeu metade da tripulação dando meus sinceros parabéns aos sobreviventes por essa proeza de estar vivo.

Pensando de outro modo, lembro que o que se seguem às frases típicas são desejos de dias melhores, o que poderia reforçar o pensamento anterior, mas também podem significar que o que se comemora é a possibilidade de ter, esperançosamente, mais um ano de vida e mais uma chance de fazer a coisa certa. Nesse caso, seria como "parabéns, você ganhou uma nova chance, desejo que você acerte dessa vez". Tudo bem que as pessoas daqui erram bastante, contudo não creio que seja bom lembrar que no último período não houve uma plenitude de sucessos. E quando houver? Será que vão acabar com a vida dele no próximo aniversário? Acredito que não. Afinal, os daqui nunca estão plenamente satisfeitos, mesmo atingindo sua plenitude, não percebem. Imagino que ouvir todo ano um "tente melhor na próxima" deveria ser algo frustrante e, aparentemente, não é (isso, se compreendido dessa maneira).

Talvez, todas essas palavras sejam códigos secretos ou não carregam, em si, qualquer significado real. Ou, talvez, havia um sentido no passado, porém pode ter sido esquecido com o decorrer dos anos da mesma forma que muitas das saudações como "Olá, como vai? / Vou bem, e você? / Vou bem, também." (a tréplica é quase sempre ignorada se pelo menos um dos interlocutores estiver com pressa). E, carentes de sentido, só permanecem presentes como pretexto para fazer festa e receber agrados naquele dia do ano solar.

terça-feira, julho 29, 2008

Você tem: uma nova mensagem

Olá, Ruiva,

É muita cara-de-pau minha em escrever "estive ocupado" sem dar nenhuma nova notícia? Infelizmente, não havia novas a dar. Confiarei no teu longânimo coração e no quanto já me conheces. A verdade é que tudo era/está mais ou menos o mesmo. Talvez a maior novidade é que terminei os livros que me deste. Só o do Nietzche que continuo em 5%.

Quando nos vermos, vais perceber que não ficaste em segundo plano. Pois é... Sempre esqueço de cortar o cabelo nesses períodos.

Só tenho a esperança que, em alguma realidade paralela, outra versão minha está bem melhor que eu aqui. Tenho tentado cortar o supérfluo (e, com isso, ganhar tempo), mas muito do que me é importante tem ido no bolo. Parece a parábola do joio e do trigo.

Comprei-te uma coisinha, espero que goste.

Beijo,
Bobby

segunda-feira, junho 09, 2008

O pior de tudo é não poder dirigir

Sabe-se lá como uma pessoa pode conciliar cinco horas diárias de fisioterapia, estudo para concursos, audiências, e ainda auxiliar nos pepinos tecnológicos da empresa da família.
Sabe-se lá como alguém pode ter como sonho conseguir tocar a nuca com a palma da mão.
Sabe-se lá como vencer toda matéria de um edital num tempo tão ínfimo e ainda arrumar um dinheiro extra para fazer a prova no exato local onde Judas perdeu as meias (meio mundo depois de onde ele tinha perdido as botas).
Sabe-se lá quantas vezes o indivíduo consegue evitar os choques de horário sem atrasar o curso lento dos processos e ainda ter a sorte de assistir o Pleno do STF julgar improcedente a ADI 3510 sobre o estudo com as células-tronco embrionárias (numa reprise no domingo).
Sabe-se lá o segredo para expurgar pepinos.
Sabe-se lá por onde anda esse santo milagreiro.

sexta-feira, maio 16, 2008

Que fique registrado

Após 96 dias, o braço direito, sozinho, conseguiu levar sua mão a apoiar-se em cima do ombro esquerdo, finalmente.

quarta-feira, abril 09, 2008

O lado sinistro do mundo

Reza a lenda que quando uma pessoa perde um membro, o outro fica duas vezes mais forte. Ouve-se também o mito que novas sinapses são realizadas nos cérebros dos que são obrigados a usar o outro lado do corpo e, conseqüentemente, ficam mais inteligentes. Provavelmente são apenas palavras de conforto, principalmente se o indivíduo está obrigado a ser sinistro, ainda que por um momento de sua vida.

Em coisas mínimas percebe-se como o mundo ignora limitações físicas: um vídeo-game não pode ser jogado sem as duas mãos; uma toalha de papel num banheiro público sai apenas se puxada por ambas as mãos; o botão de um bebedouro, sempre no lado direito. Mesmo o que são canhotos na escrita, num mundo destro, são forçados a realizar tarefas com a mão direita e, por isso, acabam possuindo a direita mais habilidosa do que a maioria das esquerdas dos direitos.

Dificuldade também pode ser sinal de falta de prática. Apesar de trabalhoso, afirmo que pouco não se pode fazer apenas com uma única mão. Desafio-os, portanto, com este "top 10" das atividades que tive maior dificuldade para realizar usando apenas a outrora adormecida mão:

  1. Colocar o botão do colarinho;
  2. Escrever com velocidade ou assinar o próprio nome;
  3. Fazer o nó da gravata;
  4. Passar fio dental;
  5. Dar um laço apertado;
  6. Fazer um strike no boliche;
  7. Cortar as unhas da mão esquerda;
  8. Abrir um saco de Doritos Nacho;
  9. Manipular sachês de mostarda, maionese e ketchup;
  10. Cortar o cabelo.
Longe do mundo direito, no refúgio doméstico há paz: desde a possibilidade de usar o pé para abrir maçanetas até a configuração do mouse; e passando pela cozinha, onde os frascos podem ser confortavelmente abertos quando firmes entre as coxas.

terça-feira, abril 01, 2008

Antes que esse dia termine...

Estava refletindo no tanto (ou tão pouco) que conquistei até aqui e nas (equivocadas) atitudes que tomei até então. Dos meus erros, tirei (o que talvez tenha em milhares de livros de auto-ajuda por aí):

  • Ninguém é feliz indo contra a própria natureza;
  • Parar num estágio da vida é podar sua própria alma;
  • Satisfação pessoal não se encontra em receita de bolo;
  • A responsabilidade do seu destino é indelegável.
Não quero nem saber. Que se dane o resto. Que fique tudo de ponta-cabeça. Vou mudar a partir de já:
  1. Expurgar o Linux do meu computador;
  2. Parar de me dividir entre Comércio, Direito e Concurso para investir 100% na empresa;
  3. Voltar para Exatas: terminar Elétrica e fazer Computação quando der;
  4. Tirar férias de 30 dias ainda esse ano.

segunda-feira, março 24, 2008

O que era, o que é e o que custa a ser

Recentemente, dois importantes processos chegaram ao Pleno do Supremo Tribunal Federal. O primeiro e mais alardeado pela mídia, sobre a pesquisa em células-tronco embrionárias; e o segundo, sobre a prisão civil do depositário infiel.

Nenhum dos dois processos foram concluídos em suas respectivas sessões pelo mesmo motivo: o ministro Menezes Direito pediu vista dos autos. Um pedido de vista significa, em suma, que o julgador não examinou a questão suficientemente e acha-se incapaz de proferir um juízo sem uma análise mais apurada. Em termos processuais, é adiar o julgamento por três meses, na melhor das hipóteses. Um processo, para chegar ao Pleno, demora tanto que é de questionar-se a real necessidade desse tipo de incidente (e indignar-se!) já que sempre estão disponíveis os autos para consulta e cópia.

Apenas para fins de referência, o segundo processo, o Habeas Corpus 87585, atrai o interesse de um público eminentemente jurista e, no máximo, de alguns inadimplentes. Há a possibilidade da Alta Corte mudar um antigo posicionamento e eleger os tratados internacionais de direitos humanos em que o Brasil é signatário a uma hierarquia superior à legislação ordinária. O voto do relator, o ministro Celso de Mello, é nesse sentido. Sendo essa a decisão final, estaria revogada a prisão civil do depositário infiel nas terras tupiniquins pelo Pacto de San José da Costa Rica, sem haver outro meio de reinstitui-la, salvo por emenda constitucional. O Pacto só permite a prisão civil por dívida de natureza alimentar.

Após a primeira audiência pública promovida pelo Supremo em 20 de abril de 2007, novamente reascende o interesse no primeiro processo. O público-alvo é muito maior, não necessariamente pelo assunto, mas pela perspectiva que a mídia fez da Ação Direta de Inconstitucionalidade 3510. Reverberavam frases de efeito tais como: "STF vai julgar quando inicia a vida"; "STF permitirá pesquisa com seres humanos?". A algazarra acalora ainda mais com os movimentos "Pró Vida" e "Pró Escolha" com defensores pertencentes ou não de grupos religiosos, ideológicos, sociais, etc; além de um sem-número de pessoas que acham que esse é um bom assunto para uma mesa de bar. Sabiamente, o ministro relator Carlos Ayres Britto, em seu excelente voto, afasta todo esse debate por ambientar a questão fora do útero materno, refúgio e passagem necessários a qualquer ser humano vir ao mundo hoje. E segue a sua análise exclusivamente nos embriões inviáveis que por mais de duas décadas são descartados como coisa sem valor e, hoje, com a lei de biossegurança, ganham uma finalidade. Sem a qualquer intento de decidir algo para toda a eternidade, o ministro nem cogitou sobre a possibilidade de quando o útero não for mais necessário à vida humana – o Direito protege o ser humano a partir da nidação.

Em 25 de julho de 1978 na Inglaterra e em 7 de outubro de 1984 no Brasil, a fertilização in vitro possibilitou a reprodução da vida sem copulação, havendo vida prévia à concepção ou gravidez. Em 5 de julho de 1996, a ovelha Dolly demonstrou possível uma vida individualizada, sem fecundação ou presença do sexo masculino no processo. O útero materno, nosso primeiro lar é, hoje, o último obstáculo para a dispensa do labor feminino na gestação. Se a Ciência vencesse essa fronteira, como o Direito protegeria e a Sociedade trataria o homo sapiens advindo dum processo tão artificial? Esse debate não orbita no Supremo. Não pode dar-se ao luxo de conjecturar o futuro quando possui tantos casos concretos para julgar. Aos semeadores de idéias, aos filósofos, fica o encargo.

segunda-feira, março 10, 2008

FreeRice

A idéia é interessante:
- Usar um jogo instigante e educativo para atrair visitantes;
- Usar os visitantes para atrair recursos de patrocinadores;
- Usar os recursos de patrocinadores para comprar arroz;
- Doar o arroz para o Programa Alimentar Mundial das Nações Unidas.

Visite Free Rice e tenha um bom jogo.

quinta-feira, fevereiro 28, 2008

Na Contramão da Sociedade Anda o Direito

Essa semana, no noticiário local, fizeram a seguinte enquete:

"Você acha que pais que estão sob investigação sobre maus-tratos contra os filhos devem ser afastados do seu convívio?"

Tendo em vista o caráter informativo de um procedimento investigatório como o inquérito administrativo promovido pelo Conselho Tutelar e o princípio da presunção de não culpa (inocência), a resposta de um jurista é um cristalino "não", salvo se houver evidente risco à incolumidade do menor. Contudo, apenas 22% dos que ligaram para a emissora pensaram dessa forma.

Ao contrário do que o ordenamento jurídico ensina. A prisão não parece ser o último recurso para penalizar uma conduta. Durante o programa, um repórter coletou opiniões variadas de transeuntes, tais como: "devia matar, quem bate num filho", "tem que prender... vai deixar solto até que provem que ele bate?", "tem muito moleque ruim por falta de pêia, e agora é crime dar uma surra e botar de castigo?", "tem lá na constituição que violência gera violência", "meu filho, isso é coisa de vizinha desocupada que não tem o que fazer da vida".

O que me constrange é escutar, depois, que prisão não é lugar de gente, que quem vai para lá volta pior, etc. Ainda mais agora que descobri que 78% da população acredita que, na dúvida, é sensato tratar o investigado como criminoso.

sexta-feira, fevereiro 22, 2008

Raio X

Tem coisas que quebram dentro de nós e não percebemos. Não doem, não incomodam, mas está lá partido em dois. Até que um dia, levamos um baque bem tolo e descobrimos que toda a dor sentida é culpa de algo antigo que nem demos atenção.

terça-feira, fevereiro 19, 2008

Uma missiva aos meus amados

Dizem que a cada sete anos uma pessoa normal entra em crise, assim como os ciclos de crises de um casal. Apesar de não crer suficientemente na minha normalidade, cabe a mim discordar. Há crises que me acompanharam por anos a fio. Há outras que voltavam a assombrar-me quando pensara tê-las resolvido. Todavia, perto do meu centenário tais discussões são irrelevantes. Aliás, vivo o revés daquele que fui, pois todo evento era de absoluta gravidade. Hoje, meus problemas são absurdamente pequenos e qualquer alegria inunda meu espírito de riso. Por isso, ao gosto do povo, contradito-me com essa coletânea de pensamentos desses ciclos de todo mundo.

7 anos: "Por que é que tem que ser assim?"
14 anos: "Queria que eu não tivesse nascido. Ninguém me entende."
21 anos: "Eu não sei nada! O que é que vou fazer da minha vida?"
28 anos: "Eu não tenho nada. O que é que eu construí até agora?"
35 anos: "Não tem mais pra onde correr. Será que eu vou morrer fazendo isso?"
42 anos: "Preciso recuperar minha juventude. Vou provar que ainda dou no couro."
49 anos: "Não entendo essas cabeças de hoje. Não adianta falar nada que eles não escutam."
56 anos: "Quanta besteira que eu já fiz na vida. Agora é tarde, o tempo não volta."
63 anos: "Será que é só pra isso que eu sirvo? Pra corrigir as burradas de vocês?"
70 anos: "Aposentei-me pra virar babá."
77 anos: "Cansado..."
84 anos: "É claro que eu namoro! Ainda não morri, não!"
91 anos: "Todos os meus amigos já se foram..."
98 anos: "É quem esse? Meu neto?"

Saudades de todos.

Do vosso,
"Paizinho"

segunda-feira, fevereiro 11, 2008

Conselhos

Ambidestria deveria ser algo estimulado nas pessoas desde a mais tenra idade. Assim, quando a pessoa deslocasse o cotovelo direito pela segunda vez, sendo a quarta luxação dessa articulação na vida, não estaria sofrendo por não poder escrever, mesmo tendo certa habilidade com seu lado sinistro.

Nunca deixe seu filho de quatro anos de idade solto, andando numa calçada da praia onde outras pessoas andam, correm e patinam. Desse modo, quando ele der a louca do nada de correr atravessando a calçada, ele será poupado do susto, e o atleta do acidente, para salvar a criança da colisão.

Se você, pai irresponsável e policial civil, observar aquele que salvou sua criança sentindo fortes dores dentro da kombi da polícia militar a caminho do hospital, não peça para parar o carro para dar lição de moral sobre prudência, ameaçar de mandar ao inferno se estivesse com o revolver naquele instante e/ou afins. Se não for capaz de agradecê-lo pelo sacrifício, deixe-o ser socorrido em paz.

Se disserem que uma injeção de Voltaren pára a dor de imediato, não acredite que pára, nem que tem efeito imediato. Pode, no entanto, reduzi-la um pouco com o tempo.

quarta-feira, fevereiro 06, 2008

Rosto Familiar

Quarta-feira de cinzas. Consultório praticamente vazio, só havia uma cliente esperando e um outro, com o doutor. Educado como sou, cumprimentei-a antes de assentar no sofá:
– Oi.
– Oi!
– Tudo bem?
– Tudo bem!
Depois de cinco minutos de silêncio, intrigado e cansado pelo esforço mental, disparei:
– Vem cá, eu te conheço de algum lugar, mas não lembro daonde...
– Eu sou sua prima!
– Ah! Prazer em revê-la! Faz tempo que não nos vemos, não? Desde quando? Natal?
– Ano novo, primo...

quinta-feira, janeiro 31, 2008

"Imune"

Sempre considerou-se bom com as palavras. Sabia exatamente o que dizer. Era um tato especial que lhe dizia qual o tom que deveria usar, quais as palavras certas, o olhar adequado, a postura mais conveniente. Se não fosse um embate pessoal, mas escrito, bastava observar por alguns minutos aquele que leria e já saberia, igualmente, o que deveria por no papel. Confiava no seu talento. Foi essa habilidade que o aprovou em todos os exames na vida acadêmica, desde a escola até a pós-graduação. E que, semelhantemente, levou-o a diversos círculos de amizades e envolvimentos amorosos. Com muito pouco se frustara na vida, todavia, tivera sua cota de decepções, porque nem tudo é resolvido com palavras.

Foi numa madrugada dessas, de sexta para sábado, que ela apareceu. Ela tinha uma aura que ele ainda não tinha visto. Uma que era imune a seu dom. Ainda assim, a primeira conversa que tiveram foi muito longe de ser um fracasso.

Curtiram-se.
Desejaram-se.
Amaram-se.
Brigaram-se.
Reconciliaram-se.
Fizeram o caminho de todo casal.

Certo dia ele tentou confessar que "tentava medir as palavras que deveria dizer a ela como se andando em casca de ovos" (porque tinha um talento e que ele não estava mais funcionando já há algum tempo), porém, a confissão foi tão desastrosa que não passou da primeira etapa. Nunca mais quis comentar que possuía aquele talento.

Ela também tinha um talento (ou ele pelo menos suspeitava que sim), e também não estava funcionando tão bem (desde que o conheceu, por certo). Contudo, diferente do dele, o dela ainda funcionava quanto aos outros. O dele estava completamente desajustado. Ele admirava sua percepção. Em certos momentos ela o interpretava de forma completamente equivocada. Em outros, ela conseguia penetrar-lhe tão fundo na alma, que ele tinha convicção de que ninguém nunca o conheceu tão bem.

Todavia, o Universo tem estranhos poderes. Apesar da força gravitacional entre aqueles dois corpos, uma força bizarra separou-os por muitas décadas a fio – tempo suficiente para os dois envolverem-se com várias outras pessoas. Entretanto, talvez por pura brincadeira, o Universo fez novamente coincidir suas trajetórias. Por um instante encontraram-se – tempo suficiente para os dois...

terça-feira, janeiro 22, 2008

Quão tolo se pode ser?

Larissa tem gostado muito da Yoga. Ontem, no telefone, ela me chamou para que tomássemos um café depois do expediente e pediu que hoje eu parasse, no meio do trabalho, por um momento, tudo o que eu estivesse fazendo, apagasse os pensamentos de prazos, preocupações e etc e toda aquela conversa de yogi, para que eu ouvisse, principalmente o coração. Achei até meio bobo o pedido, mas como não há quase nada que ela me peça e eu não faça, resolvi atender seu pedido.

Então, entre um gole de capuccino e uma mordida no pão de queijo, relatei: O som mais expressivo é o cooler do meu computador, mas não me incomoda nem um pouco; depois vem o som do ar-condicionado – deve estar quebrado porque coloco no máximo e ainda sim não gela mais o ambiente como antes; quase não dá para escutar o som dum pequeno ventilador apontado para mim – sou calorento e o ar não está dando vencimento – essa combinação, contudo, dá para produzir uma brisa fresca. Tirando esses, que são constantes, outros são intermitentes. Os carros, ônibus e motos que passam lá embaixo na rua; o teclado quando estou a digitar; a tecla do mouse; o rangido da cadeira que, sempre que ouço, lembro que preciso comprar um spray lubrificante; os meus dedos coçando o couro cabeludo sempre que paro para pensar "no próximo passo". Não consegui ouvir meu coração, nem minha respiração, nem meu aparelho digestivo. Isso foi tudo que pude ouvir.

Ela olhou-me com uma tristeza de quem ouviu a resposta mais errada que se poderia dar, ao que me disse: Jonas, meu querido, pedi para que você ouvisse o seu coração em relação ao mundo que o cerca e não o barulho das coisas que ao redor. Porque você não pára e escuta o seu coração?

Pus um sorriso no rosto, arregalei os olhos, fazendo uma cara de bobo inocente. E, colocando a mão no peito da maneira mais teatral, ridícula e palhaça, falei: Hum, preciso dumas aulinhas de Código Morse.

A verdade que eu não a disse, porque preferi que vê-la virando os olhos aos céus desapontada com minha falta de seriedade, é que já nem lembro quando foi que ouvi meu coração e tenho até receio de saber o que ele quer me dizer.

sábado, janeiro 12, 2008

Só estou pedindo-lhe um pouco de ordem e isso jamais fez mal a outrem, nem doeu.

A verdade é uma só: todos temos algo coisa que não bate exatamente como deveria.
Há os que incomodam. O Geilson com aquele tic disritmado no olho me deixa louco.
Ao menos ele eu posso não olhar. Pior é Clarice. Não consigo evitar seus beijos.
Ah não! Clotilde ganha! Porque, além de me abraçar todo dia, usa Leite de Rosas.
Contato humano. Argh! Aquele suor, aquele cheiro. Não é como meu gato, Roberval.
Pêlo sempre limpo, não precisa de ninguém pra suprir as carências. Ele se basta.
Pode não parecer, mas respeito as da secretaria as suas insanidades, TOCs e etc.
Tanto respeito que ainda trabalho lá. Quarta-feira passada fiz mil dias de casa.
Vejam o quanto sofro como cordeiro mudo: contei esse fato histórico pro Geilson.
Ao que me disse: "Tu é gay? E ainda não comeu a Clotilde?". Parabenizou-me? Não.
Agüento isso calado. Não vou explicar novamente que não curto um relacionamento.
Eu gosto das coisas bem ajustas e num relacionamento as coisas saem do controle.
Isso sem falar daquela da troca de fluidos, dos choros, das chantagens. Um saco.
Não que eu não acredite que eu não seja uma pessoa perfeitamente normal, eu sou.
Mas pensei que poderia ser uma pessoa mais comum e até pensei que poderia mudar.
Decidi que adotar uma criança, com meus 45 anos de vida, seria algo bom a fazer.
Poderia ensinar-lhe muito do que aprendi na vida e tiraria outra criança da rua.
Fui guardião por 50 dias, quando percebi que criá-la me levaria à loucura certa.
Disseram-me que seria melhor adotar uma criança com, no máximo, 3 anos de idade.
Quanto cocô uma criança pode fazer? Aquilo é uma fábrica sem pausas para almoço.
Devolvi. Eu tiraria gato da rua. Roberval é pacífico. Conviveria bem com um SRD.
É tudo uma questão de gosto: ser pai, ter mulher e família são gosto dos outros.
Sou feliz como sou e como estou. Não preciso ser igual a todos, ninguém é igual.
Preferi aceitar-me: o chefe sem moral e alvo predileto dos funcionários da SDCD.

sábado, janeiro 05, 2008

Quando bastante não é o bastante

"Desculpe, querida, infelizmente não sei falar coisas bonitas e declarações de amor. Eu gosto muito, muito mesmo." – esse é o tipo de diálogo que Cícero fazia na mente e dali nunca saía. Primeiro, porque não era agradável de ser dito ou ouvido. Segundo, porque não era sincero o suficiente.

A verdade é que ainda ressoavam as palavras de Rafaela em seus ouvidos. Dissera-lhe que ele não sabia o que era o amor, nem nunca a amara. E por causa daquele não-amor, ambos sofreram com a separação e Cícero odiou todo seu universo e a si próprio por não-amá-la. Quando achou que o tempo – que cura todas as feridas e apaga todo o sofrimento – já tinha feito seu trabalho, decidiu que era hora de tocar a vida, daquele ponto em diante.

Naquela confluência astral, conheceu Mônica. Gostou bastante dela. Bastante para noivar. Bastante para casar. Porém, nem mesmo na cerimônia de casamento ousara dizer que a amava. Limitara-se ao "sim" em meio a todos os votos de amor que sacerdote recitou. Como poderia dizer? O que sentia por Mônica era bom, mas aquilo que sentira por Rafaela era muito mais forte e intenso, todavia, não era amor.

Ontem, Soninha e Henrique correram desde de a sala, passando pelo corredor, atravessando a porta do quarto de casal e voando na barriga do pai, interrompendo o noticiário local. Cícero agarrou os dois, um em cada braço, e entre cheiros, beijos e cócegas, disse que os amava. E pelo canto do olho percebeu o ciúme e a tristeza de Mônica com aquela cena – "um deslize", pensou ele.

Depois que levou as crianças para cama, deitou. Mônica já havia dormindo ou fingia. Deu-lhe um beijo de leve no ombro e virou-se para o outro lado. Enquanto o sono não vinha, o pensamento vagava. Quando foi o deslize? Naquela noite ou há quatro anos atrás?