Só estou pedindo-lhe um pouco de ordem e isso jamais fez mal a outrem, nem doeu.
A verdade é uma só: todos temos algo coisa que não bate exatamente como deveria.
Há os que incomodam. O Geilson com aquele tic disritmado no olho me deixa louco.
Ao menos ele eu posso não olhar. Pior é Clarice. Não consigo evitar seus beijos.
Ah não! Clotilde ganha! Porque, além de me abraçar todo dia, usa Leite de Rosas.
Contato humano. Argh! Aquele suor, aquele cheiro. Não é como meu gato, Roberval.
Pêlo sempre limpo, não precisa de ninguém pra suprir as carências. Ele se basta.
Pode não parecer, mas respeito as da secretaria as suas insanidades, TOCs e etc.
Tanto respeito que ainda trabalho lá. Quarta-feira passada fiz mil dias de casa.
Vejam o quanto sofro como cordeiro mudo: contei esse fato histórico pro Geilson.
Ao que me disse: "Tu é gay? E ainda não comeu a Clotilde?". Parabenizou-me? Não.
Agüento isso calado. Não vou explicar novamente que não curto um relacionamento.
Eu gosto das coisas bem ajustas e num relacionamento as coisas saem do controle.
Isso sem falar daquela da troca de fluidos, dos choros, das chantagens. Um saco.
Não que eu não acredite que eu não seja uma pessoa perfeitamente normal, eu sou.
Mas pensei que poderia ser uma pessoa mais comum e até pensei que poderia mudar.
Decidi que adotar uma criança, com meus 45 anos de vida, seria algo bom a fazer.
Poderia ensinar-lhe muito do que aprendi na vida e tiraria outra criança da rua.
Fui guardião por 50 dias, quando percebi que criá-la me levaria à loucura certa.
Disseram-me que seria melhor adotar uma criança com, no máximo, 3 anos de idade.
Quanto cocô uma criança pode fazer? Aquilo é uma fábrica sem pausas para almoço.
Devolvi. Eu tiraria gato da rua. Roberval é pacífico. Conviveria bem com um SRD.
É tudo uma questão de gosto: ser pai, ter mulher e família são gosto dos outros.
Sou feliz como sou e como estou. Não preciso ser igual a todos, ninguém é igual.
Preferi aceitar-me: o chefe sem moral e alvo predileto dos funcionários da SDCD.
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