terça-feira, fevereiro 19, 2008

Uma missiva aos meus amados

Dizem que a cada sete anos uma pessoa normal entra em crise, assim como os ciclos de crises de um casal. Apesar de não crer suficientemente na minha normalidade, cabe a mim discordar. Há crises que me acompanharam por anos a fio. Há outras que voltavam a assombrar-me quando pensara tê-las resolvido. Todavia, perto do meu centenário tais discussões são irrelevantes. Aliás, vivo o revés daquele que fui, pois todo evento era de absoluta gravidade. Hoje, meus problemas são absurdamente pequenos e qualquer alegria inunda meu espírito de riso. Por isso, ao gosto do povo, contradito-me com essa coletânea de pensamentos desses ciclos de todo mundo.

7 anos: "Por que é que tem que ser assim?"
14 anos: "Queria que eu não tivesse nascido. Ninguém me entende."
21 anos: "Eu não sei nada! O que é que vou fazer da minha vida?"
28 anos: "Eu não tenho nada. O que é que eu construí até agora?"
35 anos: "Não tem mais pra onde correr. Será que eu vou morrer fazendo isso?"
42 anos: "Preciso recuperar minha juventude. Vou provar que ainda dou no couro."
49 anos: "Não entendo essas cabeças de hoje. Não adianta falar nada que eles não escutam."
56 anos: "Quanta besteira que eu já fiz na vida. Agora é tarde, o tempo não volta."
63 anos: "Será que é só pra isso que eu sirvo? Pra corrigir as burradas de vocês?"
70 anos: "Aposentei-me pra virar babá."
77 anos: "Cansado..."
84 anos: "É claro que eu namoro! Ainda não morri, não!"
91 anos: "Todos os meus amigos já se foram..."
98 anos: "É quem esse? Meu neto?"

Saudades de todos.

Do vosso,
"Paizinho"

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