quinta-feira, fevereiro 28, 2008

Na Contramão da Sociedade Anda o Direito

Essa semana, no noticiário local, fizeram a seguinte enquete:

"Você acha que pais que estão sob investigação sobre maus-tratos contra os filhos devem ser afastados do seu convívio?"

Tendo em vista o caráter informativo de um procedimento investigatório como o inquérito administrativo promovido pelo Conselho Tutelar e o princípio da presunção de não culpa (inocência), a resposta de um jurista é um cristalino "não", salvo se houver evidente risco à incolumidade do menor. Contudo, apenas 22% dos que ligaram para a emissora pensaram dessa forma.

Ao contrário do que o ordenamento jurídico ensina. A prisão não parece ser o último recurso para penalizar uma conduta. Durante o programa, um repórter coletou opiniões variadas de transeuntes, tais como: "devia matar, quem bate num filho", "tem que prender... vai deixar solto até que provem que ele bate?", "tem muito moleque ruim por falta de pêia, e agora é crime dar uma surra e botar de castigo?", "tem lá na constituição que violência gera violência", "meu filho, isso é coisa de vizinha desocupada que não tem o que fazer da vida".

O que me constrange é escutar, depois, que prisão não é lugar de gente, que quem vai para lá volta pior, etc. Ainda mais agora que descobri que 78% da população acredita que, na dúvida, é sensato tratar o investigado como criminoso.

sexta-feira, fevereiro 22, 2008

Raio X

Tem coisas que quebram dentro de nós e não percebemos. Não doem, não incomodam, mas está lá partido em dois. Até que um dia, levamos um baque bem tolo e descobrimos que toda a dor sentida é culpa de algo antigo que nem demos atenção.

terça-feira, fevereiro 19, 2008

Uma missiva aos meus amados

Dizem que a cada sete anos uma pessoa normal entra em crise, assim como os ciclos de crises de um casal. Apesar de não crer suficientemente na minha normalidade, cabe a mim discordar. Há crises que me acompanharam por anos a fio. Há outras que voltavam a assombrar-me quando pensara tê-las resolvido. Todavia, perto do meu centenário tais discussões são irrelevantes. Aliás, vivo o revés daquele que fui, pois todo evento era de absoluta gravidade. Hoje, meus problemas são absurdamente pequenos e qualquer alegria inunda meu espírito de riso. Por isso, ao gosto do povo, contradito-me com essa coletânea de pensamentos desses ciclos de todo mundo.

7 anos: "Por que é que tem que ser assim?"
14 anos: "Queria que eu não tivesse nascido. Ninguém me entende."
21 anos: "Eu não sei nada! O que é que vou fazer da minha vida?"
28 anos: "Eu não tenho nada. O que é que eu construí até agora?"
35 anos: "Não tem mais pra onde correr. Será que eu vou morrer fazendo isso?"
42 anos: "Preciso recuperar minha juventude. Vou provar que ainda dou no couro."
49 anos: "Não entendo essas cabeças de hoje. Não adianta falar nada que eles não escutam."
56 anos: "Quanta besteira que eu já fiz na vida. Agora é tarde, o tempo não volta."
63 anos: "Será que é só pra isso que eu sirvo? Pra corrigir as burradas de vocês?"
70 anos: "Aposentei-me pra virar babá."
77 anos: "Cansado..."
84 anos: "É claro que eu namoro! Ainda não morri, não!"
91 anos: "Todos os meus amigos já se foram..."
98 anos: "É quem esse? Meu neto?"

Saudades de todos.

Do vosso,
"Paizinho"

segunda-feira, fevereiro 11, 2008

Conselhos

Ambidestria deveria ser algo estimulado nas pessoas desde a mais tenra idade. Assim, quando a pessoa deslocasse o cotovelo direito pela segunda vez, sendo a quarta luxação dessa articulação na vida, não estaria sofrendo por não poder escrever, mesmo tendo certa habilidade com seu lado sinistro.

Nunca deixe seu filho de quatro anos de idade solto, andando numa calçada da praia onde outras pessoas andam, correm e patinam. Desse modo, quando ele der a louca do nada de correr atravessando a calçada, ele será poupado do susto, e o atleta do acidente, para salvar a criança da colisão.

Se você, pai irresponsável e policial civil, observar aquele que salvou sua criança sentindo fortes dores dentro da kombi da polícia militar a caminho do hospital, não peça para parar o carro para dar lição de moral sobre prudência, ameaçar de mandar ao inferno se estivesse com o revolver naquele instante e/ou afins. Se não for capaz de agradecê-lo pelo sacrifício, deixe-o ser socorrido em paz.

Se disserem que uma injeção de Voltaren pára a dor de imediato, não acredite que pára, nem que tem efeito imediato. Pode, no entanto, reduzi-la um pouco com o tempo.

quarta-feira, fevereiro 06, 2008

Rosto Familiar

Quarta-feira de cinzas. Consultório praticamente vazio, só havia uma cliente esperando e um outro, com o doutor. Educado como sou, cumprimentei-a antes de assentar no sofá:
– Oi.
– Oi!
– Tudo bem?
– Tudo bem!
Depois de cinco minutos de silêncio, intrigado e cansado pelo esforço mental, disparei:
– Vem cá, eu te conheço de algum lugar, mas não lembro daonde...
– Eu sou sua prima!
– Ah! Prazer em revê-la! Faz tempo que não nos vemos, não? Desde quando? Natal?
– Ano novo, primo...