segunda-feira, abril 30, 2007

Conflito de Gerações

Quanto eu era moleque, diziam que eu não fazia nada da vida. Por isso eu tinha que lavar os carros da casa, dar banho nos cachorros, ajudar na loja, ir na padaria, tirar 10 em todas as matérias e não faltar as aulas de natação, inglês, vôlei e basquete.

Daí eu cresci um pouco mais e deixei de ser moleque, mas continuava não fazendo nada da vida. Por isso eu tinha que lavar os carros da casa, dar banho nos cachorros, ajudar na loja, ir na padaria, passar no vestibular e não faltar as aulas dos cursos preparatórios.

Envelheci um pouco mais e continuava não fazendo nada da vida. Por isso eu tinha que cuidar das contas da república (porque não tinha nenhuma pessoa com responsabilidade suficiente), lavar os carros da casa, manter-me no estágio, manter o CRE alto, e juntar dinheiro para a formatura.

Não custou muito e virei adulto, desempregado e concurseiro, praticamente um vagabundo que não fazia nada da vida. Por isso, tinha que fazer quase tudo que os outros ocupados da casa não tinham tempo para fazer (como por exemplo, ficar disponível o dia inteiro do último dia de entrega do IRPF), enquanto eu não passava em algum concurso. Com toda convicção, foi o período mais infeliz da minha vida.

Encurtando a história, finalmente eu fiquei velho o suficiente para aposentar-me, e, como aposentado, não fazia nada da vida. Por isso, tive que ser "taxista" de meus netos, babá, "office-voinho" (segundo minha netinha), entre outras coisinhas que meus filhos sempre foram atrapalhados demais para lidar com elas.

Agora, cá comigo, fico me perguntando: será que no céu eu vou fazer alguma coisa da vida?

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