segunda-feira, fevereiro 12, 2007

Tá afim de ir para o Universo Paralelo?

– Nada disso é real, Jamil vivia em outra realidade.
– Isso não é privilégio dos loucos, cada um de nós vive uma diferente. É somente na colisão de realidades que nasce o conflito, não no contato. A forma como isso se dá define o nosso convívio, mas nem sempre o choque é fatal.
– O quê, doutor?
– Perdão, nada... elucubrações apenas.
– Agora que o senhor disse, tava achando muito louco mesmo.

Esboçou um sorriso simpático no rosto, próprio dos ignorantes. Eu não tinha tanta certeza qual era seu nível de ignorância. Astúcia e ignorância não se excluem, podia ser o caso. Jamil tinha dito que ela se assustava com qualquer coisa, um tiro na rua, gente correndo à noite. Mas quando ele recebeu a primeira carta, a hipótese de estar sendo ameaçado não a abalou. Por isso, ele suspeitou que tivesse sido fabricada por ela. As que vieram depois eram bem diferentes, e continuava suspeitando. Ou a esposa estava se aperfeiçoando na arte, ou tinha contratando alguém para o serviço. No dia que picharam seu muro, ele que temeu. Ligou para o batalhão e vieram pegá-lo com uma viatura. Frente ao corpo, não estava abalada, todavia, os braços cruzados e os ombros encolhidos mostravam que estava visivelmente tensa.

Na sua versão, ela tinha escrito um bilhete, para ele apressar a separação e sair dali. Queria trazer o namorado para casa. Com ele ali, não dava. Constrangimento, talvez. Jamil era fiel, e o que levou ao afastamento foi a falta de carinho, depois é que veio o "abuso da pessoa". O que não significava que desejaria sua morte. O problema se deu quando muitos souberam dessa carta. Isso deu oportunidade para qualquer inimigo manter a história e dar cabo dele. Afinal de contas, não falta bandido querendo matar PM.

Jamil era burro. Sua esposa – pela carta – também foi.

Eu preferiria os honorários de um divórcio – dinheiro rápido e tranqüilo – por mais tumultuada que fosse a audiência na vara de família. Entretanto, penal paga melhor, vendo por esse lado...

O trabalho agora é mudar um pouco a realidade. Fazendo com que ela não colida com a do delegado.

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