It's up to you
Não era mais que 15:20, quando se perdeu entre "Despesas de escritório" e "Material de limpeza" no último relatório do mês. Se perdeu tão profundamente em seus pensamentos que já não via mais a mesa ou as pilhas de papéis. Viu, em milhares de telas, cenas da sua vida. Percebeu que alguma coisa tinha mudado nos últimos meses e não sabia o que era, mas o que quer que fosse tinha tirado sua poesia, suas gargalhadas, seu brilho. Não se sentia triste, nem feliz, nem satisfeito, nem miserável. Não sentia nada naquela rotina de casa-trabalho-casa. Ou seria trabalho-casa-trabalho? Estava trabalhando demais, mas... ok. A man's gotta do what a man's gotta do.
Despertou-se do sonho, com a mão da Morte em seu ombro.
– Hoje você vem comigo.
– Ok.
A Morte hesitou. Sentia um prazer levar almas entre gritos e choros. O desespero era a parte revigorante do seu trabalho. Mas também via com candura aqueles que ela levava que já estavam sofrendo demais, afinal de contas, a vida deve ser vivida. Considerava-se misericordiosa, o que não era o caso ali.
– Você não passa de hoje. Acabou. Sonhos, desejos, projetos, tudo.
– Uhum.
Irada, deu as costas. Sentiu-se insultada. Veio tirar a vida de alguém que já não a tinha. Deprimente.
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