quinta-feira, março 30, 2006

Certo?!

Certo dia, certa hora, certo amigo veio falar certas coisas muito certas.

Certamente, certos demais carecem de certezas.
E, com acerto, os certos de mais também.

sábado, março 25, 2006

...e eu te direi quem és!

Imagine se se pudesse filmar uma pessoa durante várias horas por vários dias. Um olhar observador atentaria para os pequenos gestos, às roupas que costuma usar, aos olhos, às expressões faciais, à postura, à altura da voz, etc. Ainda que ele não entendesse absolutamente nada sobre a linguagem do corpo, poderia afirmar com certa dose de certeza se a pessoa é educada ou não, que gostos possui, se é apressada ou relaxada, se é sonhadora ou realista, ou mesmo se é uma pessoa dissimulada. Imagine se fosse possível captar gestos cuja tradução levaria às mesmas conclusões, mas por meio de captação diverso, não sendo necessário o monitoramento com som e imagem por horas a fio.

É tomando como base o gesto gráfico que a grafologia ergue seu alicerce para descrever a personalidade da pessoa. E para tal proesa existe muitos livros sobre o assunto, grandes manuais práticos e muitos profissionais especializados. Apesar de não ser amplamente reconhecida pela ciência, até os mais céticos admitem que existe a possibilidade de reconhecer doenças em estágios iniciais pela escrita.

Tal como o lambedor multi-ervas que costumávamos tomar quando pequenos, na multidão de mitos, senso comum e ciência, existe alguma verdade. E, com bastante tom de brincadeira, resolvi fazer esse teste. É bem óbvio que se afasta muito da quantidade de detalhes que um grafólogo observa e, por isso mesmo, tive que fazer várias vezes, já que algumas opções simplesmente não se encaixavam com minha escrita.

Eis o resultado:
"A inclinação de sua letra mostra que você tende a ser uma pessoa extrovertida, sociável e afetuosa. A ligação de sua letra revela organização, raciocínio lógico e razoável capacidade de adaptação. A direção de sua letra indica otimismo, criatividade e impulsividade na realização das tarefas cotidianas. A pressão que usa ao escrever sinaliza estabilidade e equilíbrio..."

Aqui começam as confusões:
"As áreas valorizadas na sua escrita destacam idealismo, erudição, preocupação com seu crescimento interior."
"As áreas valorizadas na sua escrita destacam imediatismo, preocupação com questões materiais e pouca motivação de crescimento interior."
"As áreas valorizadas na sua escrita destacam vigor físico e sexual que se refletem na grande habilidade de expressão corporal."
Quem me conhece pessoalmente pode perceber que nenhuma das alternativas são satisfatórias. Igualmente ocorre com a última parte:
"A forma de sua letra demonstra sinceridade, capacidade de adaptação, espontaneidade; sensualidade."
"A forma de sua letra demonstra firmeza, decisão, perseverança e agressividade."

Em cada alternativa surgiam características que eram conformes e outras destoavam completamente. Em termos gerais, o teste serve bem como massageador de ego.

Para quem gosta, os dois lados da moeda.

Para quem quer tirar a prova:


Assinatura, originalmente assinada por mythus.

Enjoy!

terça-feira, março 21, 2006

Isso é vida?

Ainda lembro quando eu era inteligente.
Sabia de tudo.

O Abismo

Bel fotografava por instinto, via que dava uma boa foto e tirava.
Cris escrevia como quem cantava, costumeiramente em guardanapos.
Jô pintava em êxtase, ria, chorava, dançava com o pincel e a pasta.
Fê tirava música de coco, de lata, de pedra, tubo; batia, riscava, soprava.
– Bando de vagabundo – dizia o pai – ter quatro que não prega um prego numa barra de sabão só me dá desgosto.

Depois de muitos verbos, adjetivos e estilhaços no chão.

Bel virou assistente de cozinheiro.
Cris conseguiu ser recepcionista dum hotel.
Jô foi trabalhar com o pai no mercado.
Fê... foi-se por aí, a mãe que sabe, diz que é auxiliar de escritório, na Capital.

Depois de muito silêncio e poeira.
Só silêncio e pó restaram.

Pátria amada, Brasil!

Esse Estado é incompetente e falido.
Vamos fazer uma redistribuição de tudo para todos viverem melhor!
Igualdade para todos!
Mas, vamos combinar assim: ninguém mexe no meu!

sábado, março 18, 2006

In men we trust

Não comer o fruto proibido? Ok! Pode deixar.
Nunca nos passou pela cabeça nos mantermos juntos e fazer uma torre até os céus.
Eu sou filho de Rá.
Ela é uma bruxa!
Vamos encontrar um novo caminho para as Índias.
Tudo será solucionado com o fim da propriedade privada.
A energia nuclear só será usada para fins pacíficos.
Nem Deus pode afundar esse navio.
Vamos apenas pegar as amas de destruição em massa, assim que pudermos, sairemos de lá.
Tudo o que queremos é terra para plantar e viver em paz.
Eu não sabia.

segunda-feira, março 13, 2006

O causo dos onze desinfeliz

O primeiro era caba bom de peia.
A segunda era vistosa, carne de primeira qualidade.
Um mais um, depois do nono mês, três.
E insistiro que não foi por causa de feto, mas por amor de fato.
E não cansavam, nem de brigar, nem de brincar, e, na brincadeira, já somaro mais dois.
Sei que, de tanta batida, o caldo engrossou.
Era três pequeno se batendo e levando cascudo.
Era dois grande se batendo e se lambendo.
E foi lá pro sexto ano, numa sexta-feira, do sexto mês, chegou-se a sexta.
Era uma danada cheia das sem-vegonhices.
Num precisou meia dúzia de palavra dela pra endoidecer o primeiro.
Que dizia que tinha pena dela, a coitada que de tão carente num podia comprar saia mais comprida.
Mas era boa moça e abundava em virtudes. A-bun-dava, entre outras sacanagens.
A segunda, que ficou pra segundo plano, num quis conversê, mandou tudin pru diabo-que-carregue.
E não foi nem por falta de diabo, que nessas horas aparece uns quatro.
Depois desses dez, tu num sabe...
Não é que no décimo ano, na décima lua cheia, desce um anjo?
Se era anjo ou encantador eu num sei – mas foi paixão desembestada que só vendo –, mas ela, macaca velha, num momento de lucidez, viu que a esmola era grande demais e ficou tão desconfiada, mas tão desconfiada, que dispensou o sujeitin.
Ah! Vida marvada! Nem anjo consegue ser feliz.

sexta-feira, março 10, 2006

Eco

Acordou, mas não abriu os olhos. Foi esticando o braço em direção ao outro lado da cama, tateando, até alcançar o travesseiro vazio. Ele já tinha saído às três e meia para Santana - iria passar a semana inteira lá - e não podia viajar na segunda. Tinha que ser no domingo. Tinha que deixá-la sozinha naquele domingo? Não que não fosse um domingo qualquer, mas podia passar ao menos a manhã juntos, não? Os três podiam ir ao parque. Por que tinha que viajar tão cedo? Era melhor nem ficar pensando tanto nisso para não azedar ainda mais aquele dia.

Depois de todo esforço que fez: largar engenharia - o curso onde eles se conheceram - e ter que transferir para arquitetura, porque nesse fim de mundo não tem outro curso que a empolgue; deixar a mãe, a família e todos os amigos; trazer a filha para essa selva de pedra e poeira; e abandonar o mar - saudade do mar, nunca pensou que o mar faria tanta falta. Depois de tudo isso precisava fazer mais um esforço, levantar da cama para ver a menina que já tinha acordado no quarto ao lado.

Não entendia como aquele corpo parecia tão pesado. Tinha perdido peso junto com a vontade de comer, tinha posto os sonhos de lado, tinha posto as companhias de lado, tinha posto tanta coisa de lado que nem sabia o que tinha retido para si. A vaidade também estava posta de lado. Talvez tinha posto tudo do lado dele, porque ele continua tão seguro de si, tão cheio de vida e de espírito, e ela... nada. Tinha posto o brilho de lado também.

Quem se importaria se ela estava nua ou vestida? Bonita ou feia? Fazia tanto tempo que não ouvia um elogio, mas andar pela casa de calcinha incomodaria. Com muito esforço, levantou-se, pegou o roupão e foi amamentar.

segunda-feira, março 06, 2006

Só um Y de diferença

A porta bateu com uma força que os vizinhos dos dois andares (os dois de cima e os dois de baixo) devem ter escutado. Se bem que ela só pensou nessa vergonha muito tempo depois. Na hora, o que ela menos queria era exatamente o que estava acontecendo: ele estava saindo dali explodindo de raiva e sem querer conversar.

Lá embaixo, cantam os pneus. Não resta mais nada a fazer além de tentar dormir. Até que tentou, mas o sol começava a levantar mostrando seus olhos inchados.

**

Qui-qui-qui infeliz! Tem quem agüentasse aquele lenga-lenga? Mal podia esperar para chegar em casa e dormir. Hoje o dia tinha acabado. Não tinha remédio. Amanhã ele estaria novo do novo.

Chegou em casa e dormiu feito pedra. Levantou-se e já era tarde.

**

A última pessoa que ela esperava estava tocando, às 10h numa manhã de domingo, no interfone. Agora que ele quer conversar? Depois de ter criado uma noite dos infernos?

Lavou o rosto, trocou de roupa, tentou ficar na melhor aparência possível. Não iria ficar por baixo. Ensaia aquela cara de "agora?!" (com muito desdém). Abre a porta e se depara com uma cena insólita. Ficou na dúvida se o noivo tinha enlouquecido desde ontem ou se tudo não passava de uma brincadeira sem graça.

Ele, que estava com ambas as mãos atrás das costas, puxa a primeira e mostra uma colher, puxa a segunda e mostra um pote de sorvete de sonho de valsa, e emenda lembrando-a que, num dia de "juras eternas", ele tinha apostado um pote do sorvete preferido que ela nunca seria capaz de deixá-lo com raiva.

Ela ainda queria conversar. Ele já nem lembrava porque tinha ficado com raiva, mas já estava preocupado se o congelador iria manter o sorvete duro.

domingo, março 05, 2006

Bom dia, sol! Bom dia, passarinho! – todo cinismo tem limite

Perguntas que devem ser feitas a alguém que você sabe que fez uma prova de concurso:







Tô matando o primeiro que me der bom dia, boa tarde ou boa noite.¹


¹Vai passar. Tô sabendo. Vou passar. Mas falta paciência. Tô um porre. Eu sei.

quarta-feira, março 01, 2006

Sei exatamente do que você está falando – não tenho culpa de ser cínico (2)

Perguntas que não devem ser feitas a alguém que você sabe que está estudando para concursos:

– Choveu um bocado ontem, não?
– Tu não sabes quem é a top gostosa do BBB?
– Alô?! Vai me dizer que você não sabe nenhum nome de personagem das novelas que estão passando?
– Qual foi o desfile que você mais gostou?
– Como você não sabe quem ganhou?

Mas já que você insiste, eu pergunto: E você? Qual a sua opinião quanto à aplicabilidade do princípio da responsabilidade objetiva ao fabricante de armas conforme o exemplo das usinas nucleares?¹


¹Ou outra pergunta da sua área.