Foi-se o bobo
– TEM MEDO DE MORRER, NÃO? Vai passando o bobo. EI! Você aí, também! Passa pra cá, não esconde, não, ou leva bala, o cordão também!
Não era mais de uma da madrugada do dia oito de agosto. Meu sangue fervia. Medo de morrer? Óbvio que eu não tinha, nem tenho, mas nem por isso vou querer morrer de graça. Na minha cabeça, eu voava naquele merdinha e daria porrada até sangrar minhas mãos. Infeliz! No dia do meu aniversário, vem um pilantra e assalta mais de dez pessoas na praia a poucos metros duma lanchonete e simplesmente ninguém faz nada?! Já estava ficando com raiva do mundo inteiro, até da minha namorada com os dois braços agarrados no meu.
– Pára com isso, dá logo esse relógio pra ele, o relógio não é nada!
O que dizer? Ali eu era só raiva contida num mínimo de inteligência para não querer abrir a boca. A única opção era deixar que levasse os nossos pertences naquela bicicleta que, sem dúvida, também era fruto de sua conduta delitiva.
– EU SOU UM PSICOPATA!!! – gritou, apontando o revólver para o céu e dando em seguida uma gargalhada que quase me fez acreditar que era realmente um louco, era um maldito, isso sim.
Não sei quem chamou para persegui-lo, nem sei como o achamos, mas quando dou por mim, estou dirigindo a Nissan de meu pai com uma namorada gritando "calma" e um amigo, atrás, gritando "mata, passa por cima". Por ironia, o fato ocorreu na frente de nossa igreja, passei por cima, mas tive pena. Pena, sim! Poderia ter lançado a camionete toda em cima do ladrão e apenas passei com as rodas por cima da bicicleta, jogando o delinqüente ao chão, fora do alcance do carro. Dei ré, mas o miserável se recuperou e levantou o revólver, forçando-nos a afastar. Assim que ele começou a correr, continuamos a perseguição até que ele desaparecesse depois de pular pelos muros das casas da vizinhança ao som dos latidos de cachorros.
Já na delegacia distrital, um único agente que não queria registrar o BO por estar sem gente e sem máquina. Fazer o que? Saimos. Por ironia do destino (a vida é irônica!), ao chegarmos na esquina, avistamos o marginal se esgueirando pela parede no outro quarteirão, do outro lado da rua. Corremos para a delegacia pensando que ao menos o agente pudesse, ao ver o ladrão, fazer alguma coisa (atirar nele não seria má idéia).
– Sinto muito, meu rapaz, mas não posso sair do meu posto, estou sozinho e não posso te ajudar. A viatura chegará daqui a pouco.
Noventa minutos depois a viatura chega, o ladrão entra na favela (depois de rastejar pelas paredes de duas quadras na frente dos meus olhos, só o perdi de vista quando ele atravessou o canal) e já era tarde demais. Tarde demais para quem tem que acordar cedo e trabalhar pela manhã.
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