Era lá e lô
Meu poema nasce do espanto, do susto. Nasce carente. Tal qual esses moleques que não têm pais, que não me deixam em paz, e que nascem como crias de bichos que só respondem ao instinto de copular.
Do susto que quebra o poema, que corta a prosa, aquela dos velhinhos da esquina, jogadores de dominó, que não interrompem uma partida por nada, exceto pelo assalto do moleque carente armado. Não é do tipo de susto que cura soluço, é do susto que provoca! Provoca também a lágrima da netinha que estava apenas vendo voinho jogar.
E já nem é mais o espanto da reação de certificar que o vidro do carro está realmente levantado, nem da reação do corpo idoso indo ao chão, vencido pela gravidade, mudo, levando a mão ao peito, no exato lugar onde levou o tapa.
Meu poema nasce do pó que se levanta com a queda e com a fuga, e do olho preto, molhado e arregalado de Má.
Meu poema nem é meu. É dela.
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