quarta-feira, janeiro 21, 2009

True Color

Depois de meses arrastando a reforma do escritório, finalmente chegamos à pintura. Rubens queria uma parede com textura, Santiago optava pelo que fosse mais barato e eu só desejava que aquilo tudo terminasse. Fechamos com o pintor. Ele sugeriu branco gelo para as paredes e branco para o teto, o que para mim era quase a mesma coisa, mas, "vá lá", ele era o profissional e devia entender melhor que eu. Noutro momento escolheríamos a cor da textura.

Até ali, nenhuma dificuldade. Apesar da minha visão resumir-se a 16 cores, nunca tinha enfrentado problemas para categorizar qualquer pigmentação entre preto, branco, cinza, azul, vermelho, amarelo, laranja, verde, roxo, marrom, rosa, vinho, bege, ouro, prata e bronze. E chegar numa loja com uma lista de material com os nomes das cores também nunca complicou meu dia.

Após latões de massa corrida e galões de tinta branca, chegou o momento de escolher a tal tinta da textura. Santiago estava numa cidade vizinha despachando com o juiz. Rubens confiava no gosto de Josias e estava bastante ocupado. Acabou sobrando para aquele que tinha mais pressa. Levei-o e deixei que escolhesse uma cor que combinasse com o ambiente. Eu pechinchei o preço, um que combinasse com meu bolso.

Tarde de sábado, quando quase todo o comércio está fechado, minha esposa liga, desesperada, convocando-me, urgentemente, ao escritório com os demais sócios, a tinta da textura tinha ficado horrível. Um escritório de três marmanjos não poderia ser pintado de pêssego, ou arreia ou palha, ou sei lá qual cor ela disse, que nada mais passava de algum tom entre amarelo e laranja, e que para mim era amarelo. Ela e a esposa de Santiago decidiram fiscalizar a obra justo no último dia de pintura.

Numa situação como aquela, no tom usado, com a voz da outra no fundo, não havia muitas opções: ou atendia ao chamado, ainda que demorasse um pouco para sequestrar os outros dois; ou sofreria uma retaliação desproporcional por algumas frias noites. Noventa minutos depois, estávamos no escritório, enquanto as fiscais esperavam no café, no térreo.

– Lucas, qual o problema?
– Vocês que me digam, Santiago.
– Por mim normal.
– Eu não falei que o pintor ia escolher direito?
– Rubens, as mulheres detestaram isso aí. Disseram que estava feminino.
– E isso é rosa? Pra mim é um amarelo puxado prum laranja.
– Santiago veste rosa e quem compra a roupa dele é Michele.
– Lucas, minha mulher não atende por "Fê-Fê". Prefiro os protestos por não acompanhá-la nas compras às reclamações de quando compro algo "feio", "cafona" ou "que não combina com nada que eu tenha".
– Não aguenta uma piada, rapaz? Então, o que fazemos? Pintamos tudo de branco?
– Daí tira o destaque, né? Se a gente queria uma textura tinha que ser com outra cor.
– Você queria.

Moral da história: sempre leve sua esposa para escolher as tintas do seu escritório. Porque não importa quanta saliva seja gasta ou promessas de comprar uma mobília máscula e arrojada, nada disso evitará uma cara bicuda e uma greve injusta quando ela ouvir que "não viu nada demais".

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