"O sonho é uma das formas que o ser humano usa para lidar com seus conflitos, coisa que os poetas e os artistas o fazem de forma espontânea e consciente."
José Renato Avzaradel, psicanalista – Comentário Geral, Tema: Dormir, exibido em 04 de maio de 2006.
Sonhos fantásticos não causam tanto medo quanto os que muito bem poderiam ser realidade. Dá até para se divertir quando, a partir de um certo ponto, toma-se consciência de que aquilo é sonho e pode deixar as coisas rolarem para ver no que vai dar. Já aqueles que se pensa que é a realidade ou é a anunciação do futuro, esses sim, assustam. Porque, ainda que se perceba que se trata apenas de um sonho, o mau agouro que ele projeta tira a tranqüilidade e não permite que o descanso do corpo e da mente se prolonguem e perpetuam esse estado de inquietação durante o restante do dia.
Talvez o artista e o poeta, que espontaneamente liberam suas energias emocionais e seus conflitos, sejam os que mais sofrem quando são impedidos pela própria consciência de gastar parte do seu tempo mirrado em algo que não seja produtivo, que não clame urgência, que não faça parte da pilha de coisas que se amontoaram na sua ausência (ou inatividade), ou por sua completa incapacidade de manter a agenda em dia. E, possivelmente, nesse período, haja muito mais sonhos – conscientes e inconscientes – sonhos intranqüilos e perturbadores.
Então, eventualmente, o artista, no corre-corre, sofre alterações – o que é natural para todo o corredor – hipertrofia e desgaste em diferentes áreas do corpo, a ponto de provocar não somente uma sensação física, mas também emocional de que as coisas já não se encaixam. A roupa não cabe mais, a cama não cabe mais, a vida, a mulher e os filhos não cabem, parecem estranhos e diferentes do que ele se recorda. Tudo parecerá um sonho, como os muitos outros que teve.