segunda-feira, junho 27, 2005

Outro Começo: Ano II

Períodos chuvosos.

Enquanto o menino espera o ônibus da escola, ele cospe no rio da sarjeta. Fica acompanhando as bolhinhas se separarem seguindo o barco-folha até que ambos se precipitam pela cachoeira do bueiro. O capitão-saúva também não desconfia que seu submarino-graveto que ruma descontrolado terá o mesmo destino.

Enquanto a senhora espera o ônibus do menino, ela não faz nada. Permanece absolutamente desencantada com o mundo a sua volta. Tudo é tão normal, molhado e entediante. Fica pensando que vai ter que correr com a faxina e com o jantar para ficar tudo pronto antes que os pais dele cheguem.

Passaram-se anos e o menino continua encantado com o cotidiano. A diferença é que ontem fez um ano que ele compartilha o seu jeito de ver com pessoas que não se entediaram com a realidade.

E nem precisou de três espelhos, um tubo de cartolina e duas tampas furadas para ver o mundo de outra forma.

quinta-feira, junho 23, 2005

O Perfeito

Nasceu e é menino! É a coisa mais fofa do mundo! Parabéns! É a cara da mãe! Nada, tem os olhos do pai! Diz papai, diz! Diz mamãe, diz! Larga isso, você vai se machucar! Olhe que vou chamar seu pai! Vá fazer seu dever de casa, que já, já eu levo um lanchinho pra você! Obrigado, meu amor, eu também te amo! Ô moleque, tu queres matar tua mãe de desgosto, não!? Eu não quero que você ande mais com essa turma! Meu querido, essa menina não é boa para você! Filhão, você é meu orgulho, vamos pescar no próximo final de semana pra comemorar? Como esse final de semana você não pode? A gente está programando essa viagem desde o mês passado! Três anos de namoro e a gente ainda está desse jeito, não tem liberdade pra nada? Que saco, heim? E aí, brô? Semana que vem, tu vais entrar pela primeira vez de férias do teu trabalho e da faculdade ao mesmo tempo, e aí? Vais acampar com a gente dessa vez? Aproveita e leva a mina! Mocinho, não esqueça de ligar assim que chegar lá! Alô? Filho, tens a chave de casa, não vamos estar em casa quando você chegar, chegaremos a noite, cuide-se! Querido, chegamos! Por que a casa está toda escura? Ainda não desfez as malas, guri? Que bilhete é esse? "Cansei de viver tantas vidas. Adeus."

quinta-feira, junho 16, 2005

"A Boa e Velha Tática" ou "Ai de Mim"

Leitura bíblica diária. Hoje. Livro de Juízes, capítulo 14. Sansão tinha matado um leão e, no cadáver, depois de um tempo, surgiu uma colméia da qual ele tirara mel para ele e seus pais. Como o fato foi inusitado, quis fazer uma brincadeira de adivinhação para durar toda a semana de festa do noivado dele. Uma brincadeira, uma aposta contra os amigos da noiva. Não querendo perder, ameaçaram-na para que ela descobrisse.

Sansão não tinha contado a ninguém, pai, mãe, parente ou amigo – não interessava, isso não era argumento para impedir apurrinhação – "você não me ama mais", choros, "você me odeia", lágrimas, incessantemente durante uma semana. Não é à toa que ele ficou a ponto de morrer, até que finalmente conto o segredo.

Eu não sei como ele agüentou tanto tempo – uma semana! Quando minha mulher começa, ou eu me mudo para o escritório, ou corro para fazer o que ela pede e fechar aquela matraca. Pior que eu pensava que minha filha estava aprendendo com a mãe. Ledo engano. É genético, só pode ser! Ela só tem 3 anos! Não leu a Bíblia, não sabe o que é chantagem emocional... Só pode ser instinto.

Pior de tudo, depois de 6.000 anos, continuam com a mesma técnica, e dá certo. E não adianta trocar de mulher, Sansão fez isso e Dalila ferrou com ele.

segunda-feira, junho 13, 2005

"O maior patrimônio da Liga da Justiça é o Super-Homem"*

A cautela foi expressa pelo Líder da Legião do Mal, Lex Luthor, em conversa com aliados: "O erro da Liga da Justiça foi não ter deixado o Coringa sangrar. Eles teriam vencido as eleições. Não vamos cometer o mesmo erro. Vamos deixar Super-Homem sangrando e vencer as eleições", disse Luthor a aliados.

Brasil. Revista Época, nº369, 13/06/2005, p. 38.


* Ancelmo Góis ao Comentário Geral
+ Lex e Clark foram amigos em Smallville

quarta-feira, junho 08, 2005

Confundido

Contrui um zepelim metálico, regido por um espírito bucólico.
– Ao sul do país, ao Condado da Ilha Voadora, perto do ártico!
No meio do caminho, reabasteci.
Desci numa cidade pequena, coberta de maresia. Pacata, parecia.
Todos me viam amedrontados, olhos gigantes por todos os lados.
Nunca deveriam ter visto um zepelim, pensei. Não me incomodei.
Tudo normal: nem bom, nem mau.
Só não entendi quando trouxeram essa tal de Geni a mim.
Que pelo olhar quer me matar.

sábado, junho 04, 2005

Da série: Murphy, vá se lascar!

Lanche barato: cinqüenta centavos, bom demais, é junho, é época de milho.

Nunca! Eu disse: nunca! Nunca coma milho assado no meio da tarde. Você pode cruzar com o presidente da OAB da sua seccional no meio da rua, esquecer que comeu milho e dar um sorriso com os dentes pretos de casca e fiapos de milho.

Milho assado? Só se você estiver indo direto para casa, e sem parada no supermercado, porque lá você vai encontrar o seu orientador, e esquecer que comeu outro milho.