Vestígios
"Mais um dia para conquistar o mundo", foi assim que ela saiu, deixando a porta do quarto aberta – só Deus sabe por quê, ainda mais quando se mora numa república. Talvez para não chamar tanta atenção, afinal de contas, os segredos não são feitos para serem descobertos?
No quarto: uma mesa, uma cama, um espelho e um armário. Na mesa, o trivial de todo marqueteiro: folhetos de concorrentes, planilhas, revistas e livros. Na cama, travesseiros, lençol, calcinhas, várias blusas e calças. No espelho, recadinhos. No armário... fechado. O que ninguém sabia é que existiam monstros no armário, cobras peçonhentas e lagartos nas gavetas. O armário era a única coisa fechada, mas também deixava a chave na porta. Sempre deixava tudo assim.
Mais comum que a saída foi a chegada, na ida a mil por hora, na volta a vinte. Mas não pôde deixar de perceber, alguém entrara ali, qualquer um perceberia.
Abriram o armário. A porta aberta. A gaveta entreaberta. Uma cobra morta pendurada. Um chaveiro sumido. Um cinto e uma carta no chão. Retalhos de jeans e pelica, e gotas de sangue que não eram suas.
Os desprevenidos sempre saem feridos. Os curiosos também.
São uns teimosos, e com a teimosia reside a burrice.
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