Nada de hora extra
Chegou às 7:09 da manhã no trabalho. Antes dele, já tinham chegado outros dois: o primeiro às 6:30 e o outro às 6:50. Outros chegaram depois. Era o último dia do ano. Cada um cumpriria sua jornada de quatro horas e partiria para aproveitar as últimas horas do ano.
Finalizou um ofício para a gerente-geral substituta; reimprimiu o ofício, porque o prazo para resposta estava pequeno; tomou o café e o chá que o garçom trouxera; procurou um AR que poderia ter extraviado em duas gerências; conversou com o protocolo na esperança que eles tivessem o controle da correspondência; atualizou a planilha de progresso dos processos de fiscalização; tomou mais uma xícara de chá e um copo d'água; agradeceu o serviço e recebeu os cumprimentos do garçom que também partia para seu réveillon; despediu-se dos colegas que tinham chegado primeiro e já estavam de saída; anotou as pendências de cada processo, quando sua gerente o interrompeu: "O que é que você está fazendo aqui, menino? Já deu sua hora! Querem que pensem que eu sou uma gerente exploradora, é?".
Nem se deu conta da hora. Também não estava tão empolgado para sair do trabalho. O que era o hotel, quando se queria estar a 2.250km a leste dali? A despeito disso, estava bem. Havia uma expectativa. A dois passos do paraíso, como diria Evandro.