Brev-ida-de...
Correu e, onde o chão acabou, saltou.
Na ascensão, abriu os braços como um pássaro, pôs a cabeça para trás e estufou o peito. Estava alçando voo, libertando-se do chão, exibindo sua leveza. O sol, a brisa, os irmãos pássaros, o planeta inteiro compunham a cena que pintor nenhum conseguiria capturar. Seu corpo refletia o brilho do sol e sentia-se quase tão quente quanto. O peito rimbombava sem nenhuma discrição. Seu rosto não escondia o gozo. Transcendia.
No instante seguinte, pôs os braços a cima da cabeça que reclinava, preparando-se para o mergulho. Estava pronto para descer às profundezas da terra. Mergulharia no desconhecido. Essa realidade iminente não lhe trazia temor. Ao contrário, exitava-o ainda mais. Aguardava pelo contato. Já provara suficientemente o céu. Rijo feito um torpedo desceu.
Desde o salto até aquele momento, que fração do tempo transcorrera? Seu relógio só marcava em eternidades. Até ali já tinha se passado algumas.
Quando os dedos tocaram a superfície, descobriu que não havia profundidade. Não portava um cinzel para penetrar numa rocha. E tal como um torpedo, destruiu-se no obstáculo. Não imaginava que estava mergulhando num lugar tão raso ou que encontraria um obstáculo tão cedo. Talvez houvesse sim, profundidade, mas colidiu em algo intransponível. Não conseguiu furtar-se daquele fim.
Despedaçado ficou, mas não por muitas eternidades. Por uma fração de tempo pensou se poderia ter sido mais prudente e, quase imediatamente, demoveu essa ideia. Prudência serve apenas para a exatidão matemática. O sentimento é imprudente. Em breve, sararia e saltaria novamente.