Deadline
O melhor do "prazo" (além de inibir o sono e o apetite) é que te faz realizar em 24h o que não se fez em uma semana.
καλειδοσκόπιο
O melhor do "prazo" (além de inibir o sono e o apetite) é que te faz realizar em 24h o que não se fez em uma semana.
...por isso, a afirmação de Borges faz todo o sentido. Um conjunto de más ações vão, em algum momento no tempo, causar um bem, se já não foram, elas mesmas, consequência de uma ou mais ações aparentemente positivas. Eu sei que você é espírita e não estou querendo implicar com a sua religião, mas, suponto que existam imortais, tempo não é problema – a não ser que a Terra exploda ou venha uma Era do Gelo –, certo? Então... veja a Lei Maria da Penha – que para mim é questionável, mas para você é excelente – é resultado de uma infinidade de más ações no passado. Não se pode questionar que ela é boa em muitos aspectos, mas mesmo nesses aspectos, o que me garante que ela não vai acabar sendo usada como o CDC, que a princípio era excelente e hoje é usado por muitos consumidores como máquina do dano moral? Como estava dizendo, esse ciclo de bem, que gera o mal, que gera o bem, que gera o mal é infinito. Não tem fim. Do ponto de vista humano, estamos sempre ligados a essa dicotomia que, segundo Borges, acabaria por anular o sentimento de piedade, e, principalmente, o valor de bem e mal. Eu acho que, nesse caso, ele viajou. Mas, tudo bem, respeito a sua religião e a loucura dele. Afinal de contas, louco por louco tem o vampiro Lestat, que sempre achou que a vida era aqui, e viu o que aconteceu com ele depois que se deu conta que estava errado. Por falar em loucura, A História da Loucura, de Foucault, está em promoção. Depois de ler, você pode se perguntar se em algum momento histórico, ou atual, seu bilhete à Nau dos Loucos não estaria garantido e, talvez, até questionar se sua sorte é boa ou má por estar aqui, fora do internamento, tendo em mente o que Borges disse...
Não sei o que é pior: se o abismal contrate entre a radiante excitação de quem fala e a funesta inércia de quem ouve; ou a expressão de absoluta incompreensão do pensamento alheio; ou a refinadíssima capacidade de deixar a pessoa profundamente constrangida, sem graça, com a sensação que de ter sido, no mínimo, inconveniente.
Confesso que fui apresentado a Woody Allen cedo demais e, por isso, sou meio traumatizado com seus filmes, principalmente se envolver um peito gigante destruindo a cidade. Mas como sou brasileiro e não desisto nunca, aceitei a recomendação de uma amiga: experimentar Woody Allen temperado com Scarlett Johansson. A pedida é levemente picante e com um aftertaste ligeiramente amargo e, como todos os filmes de Allen, é servida crua. Se você odeia spoiler e não assistiu Match Point (2005), convido-o a parar imediatamente a leitura, retirar-se da sala, ir numa locadora, pegar o filme, comprar pipocas e, depois de cumprir essa maratona, voltar daqui a 124 minutos.
Citada quatorze vezes e aparecendo em dezoito cenas, a grande personagem dessa história é a sorte. Sobre ela o autor discursa e usa os demais personagens humanos meramente como exemplos vivos. A hipótese levantada pelo protagonista é bem clara: sorte é o maior valor que se pode aspirar, não a bondade e, com sua licença, incluo a justiça, a nobreza e qualquer outro sublime valor moral. Com isso em mente, o protagonista é apresentado como um farsante inteligente e com muita sorte. Poderia até apostar que se eu estivesse em Londres, em 2005, na saída de alguma sala de cinema, teria escutado, com todo sotaque britânico, o tradicional "that (bloody) lucky bastard" em nove de cada dez referências feitas ao personagem de Jonathan Rhys Meyers, Chris.
Na minha humilde visão, desde o começo, ele queria dar o golpe do baú. Aculturou-se como pôde, trabalhou no local correto, fez amizades com as pessoas certas etc, sempre com a sorte fazendo-se muito presente em cada uma dessas ações e escolhas. A sorte fê-lo arrumar o aluno certo, que tinha uma irmã solteira e carente. Ele teve sagacidade no modo (ou sorte na escolha do modo?) de como tratar a família para cativá-la, porém, nem mesmo dado uma série de mancadas envolvendo-se com Nola, a sorte o abandonou, ao contrário, nunca era pego em nenhum de seus deslizes.
Nola, por outro lado, era a tipificação da garota sem sorte. Uma mulher extraordinariamente linda que não consegue, em absoluto, nenhum papel como atriz, nem mesmo um onde só a beleza bastaria?! É até surreal apresentar uma situação como aquela, mas Woody Allen é surreal, só por isso deixo passar. Particularmente, prefiro não considerar como falta de sorte a gravidez e o fato de se envolver com um cara como o Chris, porque acho que é bom diferenciar burrice de falta de sorte. Todavia, acho que talvez Allen pense diferente, fazendo coro com a multidão que diz nessas horas: "uma garota tão boa, mas não tem sorte com os homens". Entretanto, longe estou de acusá-la de plantar a própria morte. Numa relação onde não existia agressividade, quem poderia imaginar que dela surgisse um homicídio por um motivo tão vil? Ainda mais quando não havia chantagem concreta — eram apenas brigas e chiliques — e quando a amante era incrivelmente submissa. Impossível não sentir muita pena da personagem, ainda que se conte em desfavor a única traição enquanto noiva e a completa cegueira ao ser amante. Foi azarada até a morte.
Então, nos minutos finais do filme, você vê o arremesso do anel, tal como uma bola de tênis, quicando na proteção e caindo no lado de quem o arremessou, repousando na mureta. Você arregala os olhos, aponta o indicador na tela e pensa, ou grita, conforme o entusiasmo da hora: "Arrá! Finalmente a sorte abandonou o canalha!". E imediatamente tem uma pequena crise moral, visto que ao punir Chris, a tonta personagem de Emily Mortimer, Chloe, e seu nascituro também sofreriam. Por outro lado, cerrarão os olhos da justiça para Nola e seu feto? Antes que você consiga resolver esse seu drama moral, a sorte se mostra, naquele evento de aparente derrota, ainda mais fiel to that bloody lucky bastard!
O filme é cruel. Tenta ensinar que a sorte pode ser absurdamente injusta e plena. Sinceramente, prefiro uma outra visão sobre a sorte. Prefiro pensar que quanto mais estudo/trabalho/treino/(insira aqui qualquer outro verbo que dê ideia de empenho pessoal), mais sorte tenho. Ao menos eu fico um pouco iludido com o pensamento que alguma coisa ao meu redor depende de mim para acontecer.
Publiquei esse texto no Mosaicum.org, um blog colaborativo sobre tudo, menos informática.
Pondo na ponta do lápis, motivos não faltam para ficar apertado nos próximos dias:
– Dois IPTUs para pagar, cota única, com 20% de desconto;
– IPVA e seguro do carro;
– Matrícula, uniforme e material escolar dos guris;
– A fatura salgada das parcelas dos cartões que incluem desde os biquínis para a patroa à presentes para toda a família;
– Academia, Natação e, se sobrar, Dança de Salão.
O Décimo-Terceiro deveria ser dado em 15 de Janeiro.
...e já vem chegando abril com o IRPF...
Caleidoscópio: do Gr. kalós, belo + eîdos, forma + skop, r. de skopein, olhar; Kaleidoskopio (καλειδοσκόπιο), em Grego moderno.
Fontes: Priberam Informática e Kypros ΛΕΞΙΚΌ (Lexicon).
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