terça-feira, janeiro 22, 2008

Quão tolo se pode ser?

Larissa tem gostado muito da Yoga. Ontem, no telefone, ela me chamou para que tomássemos um café depois do expediente e pediu que hoje eu parasse, no meio do trabalho, por um momento, tudo o que eu estivesse fazendo, apagasse os pensamentos de prazos, preocupações e etc e toda aquela conversa de yogi, para que eu ouvisse, principalmente o coração. Achei até meio bobo o pedido, mas como não há quase nada que ela me peça e eu não faça, resolvi atender seu pedido.

Então, entre um gole de capuccino e uma mordida no pão de queijo, relatei: O som mais expressivo é o cooler do meu computador, mas não me incomoda nem um pouco; depois vem o som do ar-condicionado – deve estar quebrado porque coloco no máximo e ainda sim não gela mais o ambiente como antes; quase não dá para escutar o som dum pequeno ventilador apontado para mim – sou calorento e o ar não está dando vencimento – essa combinação, contudo, dá para produzir uma brisa fresca. Tirando esses, que são constantes, outros são intermitentes. Os carros, ônibus e motos que passam lá embaixo na rua; o teclado quando estou a digitar; a tecla do mouse; o rangido da cadeira que, sempre que ouço, lembro que preciso comprar um spray lubrificante; os meus dedos coçando o couro cabeludo sempre que paro para pensar "no próximo passo". Não consegui ouvir meu coração, nem minha respiração, nem meu aparelho digestivo. Isso foi tudo que pude ouvir.

Ela olhou-me com uma tristeza de quem ouviu a resposta mais errada que se poderia dar, ao que me disse: Jonas, meu querido, pedi para que você ouvisse o seu coração em relação ao mundo que o cerca e não o barulho das coisas que ao redor. Porque você não pára e escuta o seu coração?

Pus um sorriso no rosto, arregalei os olhos, fazendo uma cara de bobo inocente. E, colocando a mão no peito da maneira mais teatral, ridícula e palhaça, falei: Hum, preciso dumas aulinhas de Código Morse.

A verdade que eu não a disse, porque preferi que vê-la virando os olhos aos céus desapontada com minha falta de seriedade, é que já nem lembro quando foi que ouvi meu coração e tenho até receio de saber o que ele quer me dizer.

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