sábado, janeiro 20, 2007

Computadores empregam gente e cortam roupa como ninguém

Ok, ok... sei que tô queimando meu filme, mas tá aqui, entalado na garganta.

Eu entrei aqui na loja como boy. Rá! Nada de Office boy... era "boy" mesmo: "Ô boy, faz isso!", "Ô boy, faz aquilo!", "Ô boy, vai ali (no cafundé do Judas) e traz um (mundo de) troço pra cá que tá faltando!". Pois é... aquela "moleza" de vida que é ser pau-mandado de todo mundo, mas eu aprendi que todo mundo quer duas coisas: ser ouvido e ouvir o que lhe agrade. E foi por aí que passei a entregador, motorista, vendedor e gerente. Bem... não foi exatamente só com lisonja. Precisei pensar também como sexista, racista, socialista, crente, ateu... sabe como é... "o cliente tem sempre razão", mesmo quando ele é o meu supervisor ou quanto tenho que convencê-lo que na verdade o que ele está querendo/pensando é outra coisa, diferente do que ele está me dizendo (e que não há a menor condição de suprir esse pedido dele).

Também sei pegar os melhores clientes. Por exemplo: se você vê uma senhora bem humilde olhando uma máquina de costura. É fatal: ela quer a máquina, veio do interior e já está com o dinheiro na mão – vai pagar tudo à vista ou já se programou toda pra quitar tudo ligeiro. Agora, se for uma grã-fina com um celular microscópico na mão do tipo "faz tudo", é dor de cabeça na certa: o produto dá defeito na primeira semana de uso, quer um instrutor particular, misteriosamente aparecem riscos e o produto deve ser substituído por um novo, um inferno por pelo menos 90 dias. Cada setor tem suas regras: o de informática com garotos insandecidos e pais que não entendem patavina do que falam; o de móveis cheios de gente recém casada/juntada/amigada; o de eletro-eletrônicos com seus curiosos que nunca compram nada e precisam saber o que cada tecla do controle faz e etc.; aqui e acolá tem alguns diferenciais, mas no geral, pobre paga melhor do que rico, só que a gente tem que arriscar também, né? Porque quem tem mais grana pode, vez em quando, garantir uma comissão mais gorda.

Sim, mas do que eu tava falando mesmo? Ah! Sim! Que raiva! Ó, é que eu cheguei num ponto que só consigo promoção se me casar com a filha de alguém, porque daqui pra cima só tem parente do dono e não dá pra disputar a minha palavra contra a de um primo/afilhado/irmão do Poderoso Chefão. Principalmente quando seu retardado genro, do nada, mostrou ontem à noite um projeto de expansão do setor de vendas idêntico ao que eu iria apresentar esse sábado, com o mesmo público-alvo e até meus próprios dados estatísticos.

E o canalha ainda me chamou no canto, agorinha mesmo, perguntando o que ele poderia considerar como "micros de fundo de quintal" que ele tinha lido num "artigo" de uma empresa de negócios e tal. Tô correndo o risco de perder o emprego – que se dane! – tive que mentir. Disse que eram computadores. É um imbecil...

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