quinta-feira, abril 27, 2006

Devido ao seu bom relacionamento com o comércio local...

Seu Antônio era a honestidade encarnada. Nunca se viu pôr piaba para inteirar quilo de peixe, nem dar troco de menos. Cobrava o justo e pagava o devido. Um cliente da capital dizia que ele tinha um "animus pagandi". Não devia a ninguém, nem se via conta que deixasse em aberto. Se estava em seu nome, podia se ter certeza que quitaria.

Foi assim a vida toda, até que recebeu uma carta. Carta estranha por sinal. Dizia "Parabéns, Antônio Medeiros" e outras tantas palavras que cansava só em ver, principalmente para quem não era entendido das letras! Quem mandaria "parabéns" junto com uma conta? Mas era conta. Era o que importava. Foi na lotérica e pagou. Depois veio outra noutro mês, e outra, e outra, e mais outra. Para quem nunca pagava mais do que a conta da luz num mês, tanta conta era de se estranhar. Conta de luz também era coisa estranha, a maioria guardava o pescado no isopor com gelo. Conta, só as do Mercadinho do Galego.

Quando faltou peixe, sobrou conta. Era tanto papel com o nome de Seu Antônio, tanta conta com seu nome, que quase teve um troço, e foi justo nesse dia que chegou um moço todo empacotado, um doutor, que dizia que ele estava sendo citado.

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