domingo, fevereiro 19, 2006

Dependência

Sempre que ele acordava, ela acordava logo depois, mas continuava fingindo que estava dormindo. Ainda que fosse impossível permanecer dormindo com alguém tão irrequieto no quarto. Não tinha pena: ia no banheiro, dava descarga, voltava, sentava na cama, ligava a tv, tomava banho, voltava, andava pelo quarto, mexia nas coisas, fazia todo tipo de barulho "sem querer" querendo acordá-la, até que ela se rendia e fingia acordar naquele instante.

Tudo o que ela queria era acordar por conta própria, dormir o quanto pudesse e não ter aquele galalau daquele tamanho que não conseguia tomar café da manhã ou fazer qualquer outra refeição sozinho. Às vezes reclamava, às vezes ficava emburrada apenas, às vezes ficava séria.

Enquanto ela estava no período aquisitivo de férias, ele foi gozar as dele na casa dos pais, viajou na sexta-feira para passar as próximas três semanas fora – enfim ela teria oito horas de sono! No sábado, constatou que dormira doze horas – amou. No domingo, dez, mas acordou meio inquieta e desconfortável. À noite, ligou para ele pedindo que a acordasse todos os dias por telefone na hora que ele se levantasse.

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