sábado, janeiro 15, 2005

Era o planeta dos meus sonhos

Antes de voltar ao meu planeta natal, decidi parar num vizinho que ainda não tinha visitado. Todo mundo era muito parecido comigo e muito parecido com o que eu tinha visto na Terra, a única coisa realmente estranha eram os capacetes que usavam. Não tinha criança ou velho, jovem ou adulto, homem ou mulher, que não tivesse um.

Nem sabia que língua falavam, mas a curiosidade foi tão grande que acabei abordando um dos transeuntes e entre palavras e gestos perguntei:

– Amigo, diga-me uma coisa, esse capacete é uma moda ou indumentária?

Ele levantou a viseira até a altura da testa e imediatamente fiquei sabendo de que aquilo controlava a comunicação entre eles, fiquei sabendo que com a viseira aberta até aquela altura as conversas poderiam fluir e era mais ou menos assim que viviam. Foi de uma espontaneidade tão grande que nem me contive e fui além:

– Ok, mas porque usar um capacete inteiro? Não podiam usar um negocinho mais discreto?

Ele ficou sério – iria fazer uma breve demonstração, já que provavelmente nunca iria me ver de novo – então, tirou o capacete só por um segundo (daqueles segundos que duram um século). Era uma avalanche! Milhares de pensamentos, centenas de histórias e de momentos da vida dele: vezes que, acidentalmente, ele tinha derrubado o capacete em frente de sua paquera; ou quando tinha quebrado a viseira no meio do trabalho e não pôde falar com ninguém... Eram tantas lembranças que fiquei tonto (também fiquei sabendo que ele me achava muito curioso, inoportuno e feio). Foi quando percebi que se comunicavam apenas por pensamento, e não com voz ou boca. Tão logo aquele segundo acabou, ele se virou e partiu apressadamente pelo seu caminho.


Nem eu nem ele estamos preparados para a transparência e a sinceridade, ou talvez, não sejam tão boas assim... e eu que pensava que eram a solução para tudo...

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